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R7: Tarifaço dos EUA pode pressionar inflação brasileira e gerar ambiente de incerteza global

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Nessa quarta, o presidente dos EUA anunciou um novo pacote de tarifas comerciais recíprocas que afetará diversas nações

Em mais um passo da sua agenda protecionista, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nessa quarta-feira (2) um novo pacote de tarifas comerciais recíprocas sobre diversas nações, incluindo o Brasil. A medida entra em vigor no próximo sábado (5), mas especialistas entendem que, caso as políticas de Trump falhem, os EUA podem sofrer uma desaceleração do crescimento econômico e pressionar a inflação das demais nações, o que poderia causar um desequilíbrio na economia global.

Como efeito imediato, analistas avaliam que o aumento das tarifas podem gerar um encarecimento de determinados produtos vendidos no Brasil. O economista Hugo Garbe explica que a inflação brasileira é sensível a choques externos, especialmente em questões relacionadas ao câmbio, canal de insumos e expectativas inflacionárias.

“Se as tarifas dos EUA causarem aumento global nos preços de produtos intermediários, como fertilizantes, semicondutores, maquinário, esses custos se transmitem para a cadeia produtiva doméstica, sobretudo na agroindústria e no setor manufatureiro. O retorno a um modelo protecionista pelos EUA pode levar a retaliações tarifárias cruzadas e à erosão das instituições multilaterais de comércio, como a OMC, criando um ambiente de incerteza que penaliza países emergentes como o Brasil, mais dependentes de previsibilidade no comércio internacional”, analisa.

Apoiado por alguns setores da indústria americana, o “dia da libertação nacional” vinha sendo um dos pontos mais defendidos por Trump durante o segundo mandato. Com o temor de uma recessão nos Estados Unidos, mercados e potencias globais tentam ignorar ruídos e procuram se adaptar às novas políticas da administração do republicano.

O novo pacote estipula uma linha de base de 10% nas taxas, que vai atingir países como Brasil, Costa Rica e Turquia. Entretanto, nações como China, Vietnã, Suíça e África do Sul foram penalizados com tarifas maiores, de até 46%. Veja:

Tabela com tarifas a outros países anunciadas por Trump
Tabela com tarifas a outros países anunciadas por TrumpDivulgação/White House
Tabela com tarifas a outros países anunciadas por TrumpDivulgação/White House
Tabela com tarifas a outros países anunciadas por TrumpDivulgação/White House
Tabela com tarifas a outros países anunciadas por TrumpDivulgação/White House

Desde o início do atual mandato, Trump tem aplicado tarifas sobre as importações de diferentes produtos, gerando tensão diplomática com os principais aliados do país e desencadeando uma guerra comercial, por exemplo, com Canadá e União Europeia.

Uma das maiores preocupações relacionadas ao tarifaço de Trump são as demissões em massa, que podem gerar consequências negativas na economia americana.

Consequências de uma possível recessão

Devido a problemas no mercado interno, uma queda na atividade econômica nos EUA poderia prejudicar a balança comercial e economia do Brasil, aponta o economista e doutor em relações internacionais Igor Lucena. O especialista entende que, apesar de possíveis favorecimentos ao Brasil com o afastamento dos EUA de aliados, principalmente no setor do agronegócio, uma desaceleração econômica no país não geraria ganhos ao governo brasileiro.

“O grande problema é que os Estados Unidos elevam toda a economia mundial. Então, se a gente tiver uma recessão americana, ela vai impactar o Brasil. Não tem como o Brasil não ser afetado por uma recessão nos Estados Unidos, e, obviamente, não acho que o Brasil consiga se sobressair em relação a isso, porque estamos com um problema muito grande no mercado interno. Há um endividamento muito alto, e o consumo interno brasileiro não é capaz de suprir essa demanda”, afirma Lucena.

Apesar do entendimento de que a agenda protecionista de Donald Trump pode ter um reflexo positivo no mercado brasileiro, principalmente devido a uma maior aproximação do Brasil com chineses e europeus, uma possível recessão no país norte-americano não teria o mesmo efeito. Além disso, segundo a doutora em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Lia Valls, eventuais crises no Brasil não dependem apenas dos EUA, mas também da reação da China.

“Não é só o que acontece com os Estados Unidos, mas também o que pode acontecer com a China para ter um impacto maior ou menor, porque o efeito no Brasil disso é sempre via demanda. A China agora também está menos dependente dos Estados Unidos, e vice-versa. A pergunta é se a China, que também não está crescendo muito, teria capacidade, como foi no passado, de compensar uma desaceleração do crescimento econômico americano”, analisa Lia.

Lucena alerta para o risco que outros países correm com as medidas de Trump. “Uma recessão nos Estados Unidos é provável se as políticas do presidente falharem. É como se houvesse um jogo de “all-in”, que pode levar o planeta inteiro a uma grande recessão”, comenta.

“O presidente Trump sabe que a manutenção de tarifas no longo prazo encarece produtos, leva à inflação e faz com que, na prática, as pessoas paguem mais caro, e isso, sim, derruba a atividade econômica”, conclui Lucena.

Por outro lado, Lia ressalta que as recentes decisões do Federal Reserve — Banco Central americano — levam a acreditar que o risco de recessão não é imediato. Desde que assumiu o mandato, Trump vem pressionando o Fed para reduzir as taxas de juros, mas o banco segue sem alterar o indicador.

“O Federal Bank não tem aumentado a taxa de juros. Então, o Banco Central não está achando que você está em um momento de tanta pressão inflacionária assim.”

R7

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