Maumar Kadafi,homem caçado nesta segunda-feira, enquanto remanescentes de suas forças leais ainda resistem na capital e líderes mundiais reconhecem os rebeldes líbios como os novos governantes do Estado norte-africano rico em petróleo. À Reuters, um funcionário do Pentágono disse que EUA não acreditam que Kadafi tenha deixado a Líbia.
Dois dias depois da entrada em Trípoli de exércitos irregulares rebeldes, reforçada por um levante de opositores dentro da própria capital, tanques e franco-atiradores do regime parecem deter o controle de apenas pequenas áreas da cidade, incluindo seu quartel-general de Bab al-Aziziya.
Em uma coletiva concedida nesta segunda-feira em Benghazi, epicentro dos protestos e reduto opositor localizado no leste do país, o chefe do Conselho Nacional de Transição (CNT, órgão político dos rebeldes líbios), Mustafa Abdul Jalil, confirmou que Bab al-Aziziya e as áreas ao redor do complexo ainda não estão sob controle da oposição em Trípoli.
“Não podemos dizer que os rebeldes detêm o controle completo (da capital)”, disse, acrescentando que “o real momento da vitória será quando Kadafi for capturado”. De acordo com o representante do CNT no Reino Unido, Mahmoud Nacua, a oposição controla 95% da capital.
O chefe do CNT também confirmou a prisão no domingo de dois filhos de Kadafi: Saif al-Islam e Mohammed. Além disso, a TV Al-Arabiya anunciou que o terceiro filho de Kadafi, Saadi, cuja prisão havia sido anunciada no domingo, foi preso na verdade nesta segunda-feira.
Posteriormente, porém, a rede de TV Al-Jazeera informou que forças governistas ajudaram Mohammed, o filho mais velho do ditador árabe que era encarregado das telecomunicações líbias, a escapar da prisão domiciliar em que era mantido. Os combatentes leais ao regime teriam invadido a casa onde ele estava e o libertaram após confrontos com os rebeldes, disse a emissora de TV árabe.
Citando fontes não identificadas, a Al-Jazeera também informou que dois corpos encontrados poderiam ser de Khamis, outro filho de Kadafi, e de Abdullah al-Senusi, cunhado de Kadafi que também é chefe da inteligência militar do regime. Juntamente com Kadafi e Saif, Senusi tem contra si um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Nesta segunda, o promotor do TPI disse ter entrado em contato com os rebeldes líbios, mas que precisava de mais diálogo para determinar como transferir para Haia os suspeitos detidos na Líbia, como Saif al-Islam, por muito tempo apontado como sucessor político do pai. Mas, segundo a TV Al-Arabiya, o chefe do CNT negou que haja negociações entre a liderança rebelde e o TPI para sua transferência à corte. Além disso, o enviado dos rebeldes a Paris, Mansour Saif al-Nasr, disse que há uma chance de o CNT não entregar Saif a Haia para julgá-lo na Líbia.
Situação em campo
Os civis, que lotaram as ruas na noite de domingo para celebrar o fim do regime de quase 42 anos, ficaram em casa nesta segunda-feira enquanto se ouviam trocas de tiros. A televisão estatal saiu do ar, e os rebeldes disseram que controlam seus transmissores. No exterior, mais embaixadas líbias hastearam a bandeira rebelde.
Jornalistas estrangeiros disseram ter visto forças rebeldes caçando atiradores de prédio em prédio. “Os revolucionários estão posicionados em todos os lugares em Trípoli”, disse um rebelde graduado que se identificou como Abdulrahman. Mas as forças pró-governo tentam resistir. “Há disparos em todos os lugares”, disse, afirmando que tanques do governo estão em ação perto do porto mediterrâneo de Trípoli e no centro da cidade, perto de Bab al-Aziziya.
Potências do Ocidente, que fornecem apoio aéreo aos rebeldes desde março, conclamaram o líder líbio a aceitar o fim de seu poder absoluto e acabar com o banho de sangue depois de seis meses de guerra civil. “Muamar Kadafi e seu regime precisam reconhecer que seu governo chegou ao fim”, disse o presidente Barack Obama na noite de domingo.
Mas, depois de três áudios desafiadores divulgados entre sábado e domingo, nos quais conclamou seus partidários a se levantar contra os “ratos” rebeldes, nada se ouviu mais de um dos líderes mais longevos do mundo – que por várias vezes prometeu morrer e não se entregar. Várias autoridades disseram desconhecer seu paradeiro. A última aparição pública de Kadafi foi feita durante um jogo de xadrez em 12 de junho.
Abdul Jalil, o chefe do CNT, disse que a era Kadafi “acabou”, afirmando esperar que ele seja capturado “vivo”. “A era Kadafi acabou”, declarou, acrescentando que ele terá um julgamento justo. “Mas não tenho ideia de como se defenderá dos crimes que cometeu contra a população líbia e o mundo.”
Ex-ministro da Justiça do regime Kadafi, Abdul Jalil desertou para o lado dos rebeldes em fevereiro, depois de ver a execução de civis, e rapidamente se tornou líder do conselho de transição. Atualmente ele é cotado para desempenhar um papel-chave em um futuro governo do país.
“Deus escolheu que o fim de Kadafi fosse pelas mãos dos jovens, para que eles possam participar do levante árabe. Eu declaro que o regime de Kadafi está no fim. O futuro não será um mar de rosas. Conclamo todos os líbios a agir responsavelmente e não praticar a justiça com suas próprias mãos, tratando prisioneiros de guerra bem e gentilmente. Todos temos direito de viver com dignidade nessa nação”, afirmou em Benghazi.
No Cairo, um representante do CNT afirmou que o país não autorizará a instalação de bases militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) após a saída de Kadafi, segundo a agência de notícias egípcia Mena. “A Líbia é uma nação árabe e islâmica antes da Otan e seguirá sendo depois da Otan”, declarou o enviado especial do CNT na Liga Árabe, Abdel Moneim al Huweini.
Huweini completou que os rebeldes são agradecidos à Otan, que efetuou os bombardeios que ajudaram os insurgentes pouco experientes e permitiu diminuir as perdas de vidas humanas.
*Reuters, AP, AFP e EFE