Fumantes têm mais dificuldade para largar o vício do tabaco quando tragam cigarros aromatizados com mentol. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Medicina e Odontologia de Nova Jersey (EUA) com 1.688 fumantes que buscaram tratamento especializado para parar de fumar mostrou que, entre os adeptos desse tipo de cigarro, as taxas de abandono do vício nas primeiras quatro semanas foram menores.
Entre os brancos, os índices de sucesso foram de 43% entre os fumantes do produto com mentol, contra 50% dos que fumavam o convencional. Latinos e negros, em especial, tiveram mais dificuldade (23% e 30%, respectivamente) do que os brancos (43%). Após seis meses de tratamento, a proporção se manteve semelhante.
Entre os pacientes avaliados, 46% fumavam cigarros com mentol. As taxas eram mais altas entre os negros (81%) e latinos (66%) em comparação com os brancos (32%). No entanto, os dois primeiros grupos fumavam uma menor quantidade de cigarros por dia. Entre os que fumavam cigarros convencionais, o abandono foi semelhantes nos três grupos.
Os pesquisadores mencionam no trabalho o maior risco de dependência entre os que fumam cigarros aromatizados por causa do mascaramento das substâncias nocivas. Para eles, a refrescância camufla o gosto desagradável, propicia uma tragada mais profunda e, consequentemente, mais inalação de substâncias viciadoras.
“Além da nicotina, qualquer outra substância agregada poderia, pelo sabor, dificultar o abandono. Isso ocorre com o cigarro mentolado e com outros tipos, como o narguilé. É todo o clima que envolve, quando há alguma novidade na forma de consumo. Isso tem se mostrado fator dificultante na parada do tabagismo”, acrescenta o pneumologista Jonatas Reichert, membro da Comissão de Tabagismo da AMB (Associação Médica Brasileira).
Outra hipótese tem relação com a classe social dos grupos com maior dificuldade para largar o tabagismo.
Estudos anteriores mostraram que fumantes de cigarro mentolado inalam mais fumaça por tragada especialmente quando o consumo diário é restrito, o que pode ocorrer quando o fumante não tem condições de comprar muitas carteiras de cigarro. Uma alta inalação de toxinas de uma só vez pode gerar uma maior dependência e posterior dificuldade para deixar o vício.
Genética
Sabe-se que os negros metabolizam a nicotina mais rápido do que pessoas de outras etnias. “Sendo mais rápido, o efeito da nicotina passa logo, e a pessoa vai precisar repor mais rapidamente. Isso se revela uma dependência mais forte”, argumenta Reichert.
Já a associação com a condição social é bastante complexa para o especialista. “Pessoas mais pobres têm menos conhecimento dos riscos e se expõem mais. Mas isso é relativo: como explicar que há mais fumantes no sul do país do que no norte? Há uma mistura dos aspectos sociais e culturais; isso é motivo para estudos, que têm mostrado variáveis no mundo todo.”
F.Online