A dificuldade de importadores e empresas de obter dólares na Venezuela ameaça afetar o consumo de duas paixões locais: o uísque e os serviços de celular, como aplicativos para BlackBerry.
A Venezuela controla o câmbio desde 2003, mas a situação piorou em maio, quando o governo fechou o “dólar permuta”, única divisa que flutuava e a qual recorriam importadores de produtos considerados não prioritários ou empresas com necessidade de dólares.
O “dólar permuta” foi substituído por um sistema operado pelo banco central, mas a oferta de divisas está em torno de US$ 26 milhões por dia -a modalidade anterior negociava até US$ 80 milhões.
Nesta semana, a Movistar, filial da Telefónica no país, anunciou o corte de serviços de roaming em 13 países.
Já a Câmara de Empresas de Serviços de Telecomunicações faz lobby para o governo liberar dólares no BC ou na restrita Comissão de Administração de Divisas.
A telecomunicação é um dos únicos setores que crescem, enquanto o país tem o segundo ano de recessão.
A possibilidade de problemas nos serviços de celulares, inclusive BlackBerry, é um problema para o governo, que enfrenta eleições legislativas em 26 de setembro.
A Venezuela é o quarto maior mercado mundial para BlackBerry, e cerca de 7% dos usuários têm telefone inteligente – o dobro do Brasil.
Ante a míngua de dólares, o governo lançou em agosto US$ 3 bilhões em bônus da dívida pública, com vencimento em 2022. E o mercado espera ansioso a emissão de US$ 2 bilhões em bônus da PDVSA, a estatal do petróleo.
Mesmo assim, analistas dizem que pode não ser suficiente para abastecer os importadores.
UÍSQUE E IMPORTAÇÃO
Uma das maiores redes de venda de bebidas da Venezuela, a Prolicor afirma que pode faltar uísque no Natal.
Numa das 103 lojas da rede, uma gerente afirma que há quatro semanas não recebe pedidos de uísque.
Com 28 milhões de habitantes, a Venezuela é o maior consumidor de uísque da América Latina e o sexto no mundo, segundo a Associação de Whisky Escocês, apesar da desaprovação de Chávez à bebida “burguesa”.
“A Venezuela viveu um período de altíssimo consumo. Até 2008, pensavam que as divisas eram sem limites”, diz Fernando Portela, da Câmara Venezuelana-Brasileira de Comércio.
Segundo ele, a falta de divisas afeta também a importação de celulares da Zona Franca de Manaus. “Há três anos, eram importados US$ 600 milhões, e hoje, US$ 90 milhões.”
Marginal no comércio com a Venezuela -majoritariamente de alimentos-, franquias brasileiras como Boticário ou Alpargatas também passaram a ter problemas.
F.ComMercado