Em mais uma capa de denúncia contra o governo Lula, a nova edição de Veja, que acaba de ser publicada na internet, afirma que foi montada uma operação com a participação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para ocultar a origem do dinheiro do dossiê Vedoin.
“Dossiêgate – Limpeza de alto risco – A operação para encobrir a origem do dinheiro pode ser ainda mais devastadora para o governo”, estampa a capa. Nas páginas internas, a matéria, assinada por Marcio Aith, com reportagem de Policarpo Junior e Camila Pereira, diz que “uma operação abafa foi deflagrada para tentar apagar as chamas mais destruidoras levantadas pelo escândalo da compra do dossiê”.
O texto, intitulado “Um enigma chamado Freud”, questiona o que teria levado o petista Gedimar Pereira Passos a mudar seu depoimento para negar que Freud Godoy, ex-assessor especial do presidente Lula, tenha sido o mandante da compra do dossiê. Gedimar e outro membro do PT, Valdebran Padilha, foram presos em um hotel de São Paulo no último dia 15 com R$ 1,7 milhão que seria usado para adquirir as provas da família Vedoin sobre o envolvimento de tucanos com a máfia dos sanguessugas.
Depois de mencionar o nome de Freud, Gedimar retirou a acusação e contou que foi induzido a envolvê-lo pelo delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno, “o mesmo que divulgou as fotos do dinheiro usado para comprar o dossiê”, como lembra a revista.
“A operação faxina do dossiêgate”, diz a matéria, “contou com a colaboração jurídica do ministro Márcio Thomaz Bastos (sempre ele), da mãozinha financeira do tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, e da força bruta de um cidadão até agora distante do caso: José Carlos Espinoza – como Freud, um grandalhão que trabalhou como segurança de Lula e ganhou um emprego no governo. Espinoza trabalhou no escritório paulista da Presidência da República até se afastar para dedicar-se à campanha à reeleição de Lula”.
“Nessa operação, coube a Márcio Thomaz Bastos conversar com Freud quando o escândalo estourou e indicar a ele um advogado de sua confiança (do ministro, é claro). Thomaz Bastos cobrou esforços diários de Freud, do advogado indicado por ele e do tesoureiro do PT no que parecia ser a tarefa mais urgente: convencer Gedimar a recuar”, prossegue Veja.
Visita na prisão
Conforme a publicação, três delegados da Polícia Federal relataram por escrito que Espinoza e Freud, “acompanhados de dois homens não identificados, fizeram uma visita a Gedimar na noite de 18 de setembro, quando ele ainda estava preso na carceragem da PF em São Paulo”:
“A visita ocorreu fora do horário regular e sem um memorando interno a autorizando. Um encontro com um preso nessas condições é ilegal. Ele pode ser encarado como obstrução das investigações ou coação de testemunha. De acordo com o relato dos policiais, o encontro foi facilitado por Severino Alexandre, diretor executivo da PF paulista. (…) O mais interessante, no relato dos policiais, viria a seguir. Severino teria acomodado os petistas em seu gabinete e determinado a Jorge Luiz Herculano, chefe do núcleo de custódia da PF, que retirasse Gedimar de sua cela. Herculano resistiu, pretextando corretamente que o preso estava sob sua guarda e que não havia um “memorando de retirada””.
De acordo com a matéria, Herculano fez igual relato para delegados da PF, na presença de repórteres da revista: “Ele alegou na conversa presenciada pelos repórteres que o fez por receio de problemas futuros com seu superior hierárquico. Disse também que receava confirmar o caso a jornalistas e deu a seguinte explicação: “Depois nossos chefes vão dizer que sou louco e vão tentar me demitir, como fizeram com o delegado Bruno”, disse ele”.
Procurado posteriormente pela repórter Julia Duailibi, Herculano “não confirmou a história que narrara aos colegas pelo telefone. Mas deu um jeito de dizer que também não a desmentia”. O superintendente da PF em São Paulo, Geraldo José de Araújo, nega a visita de Freud a Gedimar.
O enigma Freud
A matéria acrescenta que uma empresa de segurança registrada em nome da mulher de Freud, a Caso Comércio e Serviços, recebeu R$ 98,5 mil da SMP&B Comunicação, agência de publicidade de Marcos Valério. “Outra empresa, a Caso Sistemas de Segurança, recebeu R$ 23 mil da Duda Mendonça e Associados. Até agora não há explicação convincente para esses pagamentos realizados entre 2003 e 2004”, continua Veja.
“Freud foi fisgado pelo Coaf, órgão do governo que monitora operações financeiras suspeitas, em pelo menos uma oportunidade. Em 2006, ele depositou R$ 150 mil, em dinheiro vivo, na conta da empresa de sua mulher. A operação foi considerada atípica por duas razões. A primeira é que ela ocorreu em moeda sonante. A segunda é que, naquela data, Freud tinha como única fonte de renda declarada o contracheque que recebia do Palácio do Planalto, no valor de R$ 6.650. Por meio de seu advogado, contudo, Freud limitou-se a informar que o dinheiro foi usado para o pagamento de equipamentos de segurança da empresa de sua mulher”.
A revista ressalta o estreito relacionamento que existe entre Lula e Freud, “um dos poucos assessores com trânsito livre no Palácio da Alvorada nos fins de semana”, e conclui:
“O governo tem feito um esforço, compreensível dada a proximidade de Freud com o primeiro-casal, para tirá-lo da zona de choque do dossiêgate. No fim de setembro, quando a Justiça Federal decretou a sua prisão temporária, a PF estava impedida de cumprir a ordem judicial por força da lei eleitoral. A PF vazou a decisão judicial, dando tempo para que Freud conseguisse reverter a decisão numa instância superior antes de ser preso. Além disso, antes mesmo de examinar os extratos telefônicos de Freud, a polícia deu a entender que ele deixara de ser suspeito no caso da compra do dossiê. Tudo porque, examinando as chamadas telefônicas realizadas pelos petistas presos com o R$ 1,7 milhão, foram encontradas apenas três ligações entre Gedimar e Freud. Como os telefonemas teriam ocorrido em agosto, um mês antes da compra do dossiê, isso inocentaria Freud de qualquer envolvimento no episódio. Sem que nenhuma autoridade policial assumisse a informação, a versão foi plantada pelo governo nos jornais na semana passada. O número de telefonemas entre comparsas não inocenta ninguém. Mas também não incrimina. Para que Freud Godoy possa retomar sua boa vida de fiel assessor do presidente da República, precisa ser exonerado das suspeitas que pairam sobre ele. Suspeitas que não foram fabricadas pelas “elites”, pela “nossa querida imprensa” ou pelo PSDB. Foram lançadas sobre Freud pela própria maneira de ser do PT.”
fonte: mto