O Vaticano divulgou um documento nesta segunda-feira no qual afirma que os “homossexuais têm dons e qualidades a oferecer para a comunidade cristã”. O texto foi elaborado pelo cardeal Peter Erdö, relator-geral do Sínodo dos Bispos, convocado pelo papa Francisco, que discutirá temas relacionados à família até o próximo domingo. O relatório não aponta nenhuma mudança na oposição ao casamento gay, mas usa uma linguagem mais compassiva ao assinalar que a Igreja deveria aceitar o desafio de encontrar “um espaço fraternal” para os homossexuais, sem abdicar da doutrina católica sobre família e matrimônio.
"Os homossexuais têm dons e qualidades a oferecer à comunidade cristã: seremos capazes de acolher essas pessoas, garantindo a elas um espaço fraternal em nossas comunidades? Muitas vezes elas desejam encontrar uma Igreja que ofereça um lar acolhedor. Nossas comunidades serão capazes de proporcionar isso, aceitando e valorizando sua orientação sexual, sem fazer concessões na doutrina católica sobre família e matrimônio?”, indaga o relatio post disceptationem.
O documento segue ressaltando que a Igreja “afirma que uniões entre pessoas do mesmo sexo não podem ser consideradas da mesma forma que o matrimônio entre um homem e uma mulher”. “Sem negar os problemas morais relacionados às uniões homossexuais”, o relatório chama a atenção especialmente para as crianças que são criadas por casais do mesmo sexo, enfatizando que “as necessidades e os direitos dos pequeninos devem sempre ser prioridade”.
Divorciados – O texto também reconhece “elementos positivos” mesmo em “formas imperfeitas” de formações familiares, como casais que moram juntos sem terem se unido no matrimônio,casais separados ou divorciados, que devem ser cuidadas por meio de “escolhas pastorais corajosas”. “Cada família deve, antes de tudo, ser ouvida com respeito e amor”, destaca o relatório.
“A situação de divorciados que voltaram a se casar demanda um cuidadoso discernimento e um acompanhamento com total respeito, evitando qualquer linguagem ou comportamento que possa fazê-los se sentir discriminados”, recomenda. “Para a comunidade cristã, cuidar dessas pessoas não significa um enfraquecimento da fé ou do testemunho da indissolubilidade do casamento, em vez disso, expressa precisamente sua caridade”.
O texto será discutido não apenas entre os bispos esta semana, mas também servirá para aprofundar a reflexão entre católicos de todo o mundo antes da assembleia ordinária no ano que vem.
Revista Veja
(Com agência Reuters)