“Uma cena dantesca”. É esta a definição que tenho para exprimir a infeliz
manifestação de dezenas de estudantes sob os mandos de uma comissão que se
intitula “Comitê de Luta pelo Transporte Público”. Presenciei o fato ao
entrar na Câmara Municipal de Cuiabá, na manhã da terça-feira (14) quando
fui falar com um funcionário da Casa.
Como cidadã e eleitora da capital, fiquei indignada com a
infeliz idéia daqueles que querem fazer dessa “desinteligente” atitude, um
trampolim político, usando adolescentes. É triste ver estudantes saindo da
infância, com idéias ainda em formação, sendo empurrados a cometer
vandalismo numa instituição pública, esquecendo que todo prejuízo da
depredação sairá dos cofres públicos, cujo dinheiro provém dos bolsos do
próprio cidadão que paga impostos.
É inaceitável ver pessoas adultas e com formação superior, insuflando
estudantes com o argumento de manifesto em “prol dos menos favorecidos”.
Toda reivindicação é válida, mas desde que não ultrapasse os limites, pois
todos têm direito à livre manifestação de idéias, num país democrático como
o nosso.
Que o valor da passagem do transporte coletivo na Grande
Cuiabá é cara, não se discute, comparando com as demais capitais do país e,
principalmente diante do percurso percorrido nas grandes metrópoles. No
entanto, não é depredando patrimônios públicos que os manifestantes terão
argumento para convencer os responsáveis diretos pelo aumento da tarifa,
reverter a situação.
Se é que “ainda” podem ser chamados de manifestantes, pois
diante da cena que vi estarrecida: alunos retirando da parede, fotos de
vereadores e, posteriormente jogando ao chão, quebrando quadros, pisando nas
fotos dos parlamentares. Soa como uma total falta de respeito não só às
pessoas do Legislativo cuiabano, como também em relação à própria
instituição.
É inconcebível a formação de cidadãos (no caso os estudantes), a partir de
idéias inconseqüentes e com distorções da realidade. Um político não se faz
com esse idealismo desenfreado e desrespeitoso. É preciso usar de
“inteligência” até mesmo no intento de imposição. À força e usando de
coação, nada se consegue. O mérito maior é ser destaque a partir de idéias
saudáveis e, com elas muito se pode fazer, enquanto que a depredação só
causa repúdio e indignação.
Acompanhei pela mídia há duas semanas atrás, quando o mesmo Comitê queimou
na frente do prédio da Prefeitura, um boneco representado o prefeito Wilson
Santos. Tal atitude não causa danos materiais, desde que continue
prevalecendo a simbologia. No entanto, o vandalismo tira a razão daqueles
que ainda não conceberam a idéia que mais “vale lutar com respeito” do que
partir da imposição desrespeitosa.
A própria direção das unidades escolares, que liberam seus alunos
uniformizados sob a “irresponsabilidade” do tal Comitê, deve ser
responsabilizada por tal atitude que envolve o vandalismo, a inconseqüência,
que chega ao ponto da necessidade de uma guarda armada (Policiais Militares)
de plantão, para impor a segurança no local do manifesto.
Não me posiciono em favor de vereadores, Comitê ou qualquer partido político
que seja, mas como cidadã observo que é necessário dar um basta. Também sou
usuária do transporte coletivo e sei o que isso representa ao bolso de um
trabalhador. No entanto, a inteligência e o bom senso podem ser as melhores
armas de quem pretende galgar um espaço na sociedade e, mais, convencer com
seriedade!
Maria Lúcia Soares
Representante comercial e Acadêmica de Administração de Empresas