Apesar de diversas entidades já se mobilizarem em campanhas tipo: “Eleições Limpas”, “O que você tem a ver com a corrupção?”, “Diga não a corrupção eleitoral”, “Voto não tem preço, tem conseqüências”, nem por isso, há qualquer indicativo de que a atual “democracia” brasileira deixará de ser o que sempre foi: um embuste.
Segundo indicadores do desenvolvimento feitos pelo Banco Mundial, publicado no Jornal do Brasil em junho de 2000, a concentração de renda em nosso país gerou cinco categorias de grupos sociais: a) os miseráveis, 24 milhões (15%); b) os pobres, 30 milhões (18%); c) os quase pobres, 60 milhões (36%). {Sub total: 114 milhões de miseráveis, pobres e quase pobres (69%) }; d) a classe media, 50 milhões (30%); e) os ricos 2 milhões (1%).
A riqueza privada desta colônia de banqueiros, empresários e latifundiários estupradores do meio ambiente, gira em torno de R$ 2 trilhões. Os ricos, 1% da população, controlam 53% deste valor. O
economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, afirma que: “Não há evidência no mundo de país em que isso ocorra. Nos Estados Unidos, os Bill Gates da vida controlam 26% da riqueza, metade do que os mais ricos no Brasil controlam”.
Apesar da monstruosa injustiça na concentração de riqueza, onde a renda média dos mais ricos é 150 vezes maior que a renda média dos mais pobres, mesmo assim continuamos alimentando pelo país afora a mentira de que “todo o poder emana do povo e em seu nome é exercido”.
Em que pese toda a dramaticidade da opressão, exclusão social e exploração violenta da nossa Mãe Natureza, de qualquer ponto que se observe, tudo indica que por muitos e muitos anos prosseguiremos apregoando aos quatro cantos a lorota de que temos um “governo do povo para o povo e pelo povo”. Até parece estarmos possuídos de uma cegueira crônica da hipocrisia ao teimarmos em eternizar uma simples mitologia, mera construção ideológica arraigado culturalmente há séculos em beneficio das classes economicamente dominantes: a “democracia burguesa”.
Desde 1999, temos uma lei de iniciativa popular, a lei 9840, que visa
punir políticos que cometerem crimes eleitorais. Essa lei é a razão de ser do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, o MCCE. Porém, quem, com sinceridade, atua na militância por eleições sem fraudes em Mato Grosso pode perceber com clareza que em matéria de lisura eleitoral ainda vivemos na idade das trevas.
Se levássemos em conta as campanhas milionárias; se tivéssemos como tornar publico, escancarando todos os gastos não declarados ao TRE; se pudéssemos analisar um a um os crimes eleitorais ocorridos, principalmente aqueles não denunciados, os não fiscalizados, os não investigados, os não apurados e os jamais punidos, iríamos nos sentir na era das cavernas: terra de ninguém, sem leis nem direitos.
A corrupção no Brasil, e em particular a eleitoral, são fenômenos históricos, fatos corriqueiros, algo banal bem próprio das
“democracias” dos ricos, que em outras palavras significa: ditadura do capital, uma espécie de tirania do poder econômico que trata unicamente de garantir interesses dos detentores dos meios de
produção: os capitalistas cleptocráticos.
Em detrimento das reais necessidades do povo, este sistema farsante, já há muito prostituído, só serviu até hoje ao deleite e locupletação das diversas facções das elites egoístas e corruptas: a burguesia, os poderosos espertalhões, os verdadeiros donos do poder, os que de fato sempre mandaram e continuarão mandando por muito tempo no país.
Apesar das classes dirigentes tentarem nos convencer de que através de reformas política é possível corrigir tantas distorções acumuladas ao longo da história, na verdade, isso não passa de
falácia, ou mais um mito para cultuarmos a fim de se perpetuarem no poder.
Muito alem de reformas paliativas, ou por mais amplas que sejam, o que necessitamos mesmo é de uma sólida organização das classes exploradas, associadas na mais firme crença da revolução social expropriadora, igualitária e libertadora, que se organize de forma horizontal, anti-hieráquica, autônoma dos partidos políticos e total independência ideológica dos patrões e principalmente desse Estado plutocrático.
Caberá aos eternos lesados desse sistema sanguessuga do homem e da terra, a construção de um mundo mais digno. Porém, quem quer que assuma essa bandeira deverá se humanizar, abrindo-se a novos valores, percepções, e práticas incompatíveis com o atual modelo burguês.
Necessitamos com urgência construir uma relação harmoniosa e amorosa entre todos os seres. A democracia dos ricos, aliadas das idéias neoliberais de desenvolvimento econômico, baseadas em falsas concepções da natureza como fonte inesgotável, precisa ser desmistificada e eliminada. Se no passado era apenas o homem oprimido que clamava por justiça, hoje, é a Mãe Terra que grita por libertação.
Nenhuma reforma política, dentro dos limites do modelo de exploração capitalista promoverá as mudanças necessárias. Parece que não nos resta muito tempo para restabelecermos esse convívio de paz entre o homem e o seu hábitat. Ou damos ouvidos ao clamor da Mãe Terra, ou os seus filhos não terão futuro algum. Estamos diante de uma questão de vida e morte.
Antonio Cavalcante Filho