Há 21 anos em Nova Olímpia só havia asfalto na Avenida Principal,
que esperou um bom tempo para ser contemplada com o meio fio.
Nessa época, seu aniversário era homenageado por uma moda de viola,
oferecida por Derivan Monteiro (prefeito da cidade), numa calçada
com poucos entusiastas novaolimpienses. Pois, nossa população girava
em torno de 7.030 habitantes. O Ouro Verde era um bairro com uma
concentração de pessoas que moravam nas casas de madeira da Usinas
Itamarati, e um loteamento pouco habitado por chácaras doadas pelo
município, do governo anterior (o de João Gregório). Naquela época
do Derivan Monteiro, o segundo prefeito, os educadores concursados
pelo município eram classificados como monitores. Em um banco
comprido cabia toda a equipe da Educação, porque o município era
responsável apenas pelo ensino da zona rural. O monitor ganhava um
salário mínimo dividido por quinzena. O professor estadual tinha
direito à hora atividade e uma remuneração melhor do que o
municipal. Já no segundo mandato de João Gregório, após o período
de dois anos, houve uma demanda maior de alunos. A Escola Sagrado
Coração de Jesus foi efetivamente municipalizada, com uma
valorização profissional expressiva, pois havia acabado o período de
isenção de impostos da fazenda Guanabara Agrícola LTDA. A
remuneração do professor municipal atingiu o ápice. Alguns pediram
exoneração do Estado para trabalhar pelo Município, pois no governo
de Jaime Campos, além de pagar mal, o Estado atrasava meses. De lá
pra cá, tivemos grandes perdas salariais que culminaram no caos
atual. Na quarta gestão não podia existir questionamentos. Era na base
da chibata. Os educadores recebiam apenas comunicados e a autoestima zerou. Muitos educadores daquela ocasião ainda sofrem das
seqüelas acarretadas por tanta inflexibilidade. Ralavam com quase 80
alunos divididos em dois períodos. Trabalhavam por três e recebiam
por um. Nesse tempo já havia o FUNDEF. A opressão era tanta, que só
restava à espera de quatro anos para uma nova perspectiva. O novo
gestor restituiu a hora atividade, a Educação foi informatizada e o
professor teve a liberdade de se expressar. Mesmo assim, com muita
tranqüilidade era feita a pergunta: E o salário? O reajuste?A resposta
do Secretário foi que o município não contava com disponibilidade
financeira. O dinheiro saía do município para a UNIÃO e o retorno era
com perdas. No sexto mandato, o mesmo do quarto apresentou-se
menos inflexível. Só que era inconcebível discussão salarial. Em uma
de suas falas o prefeito disse que em outro lugar encontraria
professores pra encher uma caçamba. Se alguns não estivessem satisfeitos muitos estariam à disposição para substituí-los. E essa frase
infeliz, contribuiu para que o mesmo não fosse reeleito. E assim, o
prefeito do quinto mandato tomou posse novamente com uma política
equivocada, totalmente desprovida de planejamento. O município foi
enterrado e o resultado das Urnas demonstrou a tamanha insatisfação
e intolerância da população. A prefeitura passou a ser posse do
prefeito e o povo quando vota, não dá a procuração de posse. E sim, a
responsabilidade de representação, cuja função é de gerenciar o
município com metas e ações que contemplem os anseios da sociedade.
Segundo o IBGE em 1991 tínhamos 7.030 habitantes, e em 2.007
subimos para 19.474 e caímos para 17.515 em 2.010. Nesses três anos,
observamos um grande índice de famílias e jovens mudando dessa
cidade. Na quarta gestão desse município houve um investimento
enorme em publicidade, para atrair empresários e moradores. A
cidade cresceu sem infra-estrutura e hoje muitos migram para centros
que ofereçam qualidade de vida. Pois na atual conjuntura, a maioria
dos cidadãos que residem aqui, são os aprisionados por terem apostado
tudo, e sem saída, ficam a mercê do desfecho, com um fio de esperança
em um representante que possa realmente amar, e recuperar esse
município. Tivemos quatro gestores intercalados entre ora uma
política paternalista, ora ditatorial. E agora? Será que este quinto vai
governar? Vai eliminar os ranços dessa política embriagada pela
fortuna que se evapora, ou conforme o plano de governo traçará metas
para atingir as propostas do mesmo? Qual será a sua História? Vai
copiar ou reescrever? Nova Olímpia precisa deixar de ser uma cidade
descartável, com asfalto de Sonrisal, com um centro de eventos
apelidado por Curral, com conchavos entre os representantes, para
subtrair o que é de direito do povo. Direito de uma classe! Como uma
Casa de Leis boicota a Lei? Infelizmente não elabora projetos de
avanços. A maioria aprova interesses individualistas e inescrupulosos,
sem medir as consequências psicológicas, morais e sociais que podem
acarretar. Ignora o fato de que deveria primar pela evolução da cidade
e pelo cumprimento das vigências legais. Esquece que foi eleita para
fiscalizar. A indignação pode ser disseminada e atrapalhar os planos
futuros de muitos acostumados a injetar cifrões ($) para executar suas
tiranias. É necessário que vereadores e prefeitos se engajem num só
objetivo: Oferecer-nos motivos para termos a honra de pertencermos a
esse Município. Consequentemente teremos o prazer de cumprimos
com o nosso dever de cidadãos. O desrespeito desestimula uma classe e
contagia uma sociedade. Os professores reivindicam o piso salarial
estipulado e garantido pelo STF desde abril de 2011, o Governo
passado protelou, enrolou e nada aconteceu. Os vereadores ignoraram
o fato. E a folha do município, sempre cabendo mais um. As vantagens individuais adormecem os interesses coletivos. Segundo os dados
estatísticos do IBGE, a nossa população está em queda de mais de
2.000 habitantes. Como justificar um acréscimo surpreendente de
funcionários na folha de pagamento? Dá para imaginar que em uma
casa com seis cômodos tenha: duas crianças, um jardim e três
funcionários. Vamos supor que essas crianças tornam-se adultos
independentes e os pais sozinhos decidem morar em um apartamento.
Faz sentido nesse apartamento, os proprietários contratarem um
jardineiro, uma babá, um motorista, uma cozinheira, uma ajudante
geral e um mordomo? É assim em Nova Olímpia, o número de
habitantes cai e o de funcionários da prefeitura sobe.
E quando a classe dos profissionais da Educação reivindica o direito ao
Piso Nacional, o poder público local é contagiado por um vírus ou uma
toxoplasmose ocular que não enxerga a lei 11.738 julgada pelo STF
(Supremo Tribunal Federal) em 27 de abril de 2011. A lei não diz que o
profissional do magistério tenha que trabalhar três períodos para que
tenha a garantia do Piso que corresponde a R$ 1.567,00, somado as dez
ou vinte ou mais horas trabalhadas. Para quem quer enxergar o Piso
não se aplica a dois ou três períodos se aplica a um período que pode
ser estendido por hora-atividade. Isso é indiscutível! Agora se o
educador tiver forças e necessidade de trabalhar os três períodos ele
receberá esse Piso dobrado. Quanto ganhará por uma jornada tão
árdua? E o imposto de renda? E os encargos de descontos em folha?
Quantos já pararam para pensar que a estabilidade nos órgãos
públicos só acorrenta o concursado a mera aposentadoria que ele
mesmo proporcionou? Que durante todo o seu tempo de serviço foi
descontado em seu salário? Que quando o professor aposenta, não tem
direito ao acerto nem ao FGTS, e se for preciso sair da cidade como
propõe o lema dos “incomodados que se mudem” ele só recebe do mês,
os dias trabalhados. Qual a empresa que com depois de vinte e um
anos de serviços prestados, o funcionário sai com as mãos abanando?
Por isso que os profissionais devem lutar por seus direitos. Porque os
gestores costumam usar o sono da Bela Adormecida, quando a pauta é
o salário do Servidor.
O Piso Nacional é real! E os Educadores de Nova Olímpia não se
calarão diante desse fato! Passou da hora de emendar os canos, pois os
furos estão causando a falta de abastecimento. Ao invés de mandar
para a Câmara projetos que acabam com a dignidade do professor, é
preciso que haja solução para encontrar os vazamentos do dinheiro da
Educação garantido pelo FUNDEB. É necessário transparência. O
mínimo dos 60% está sendo respeitado? A quantidade de
colaboradores na Secretaria não extrapola aos já escolhidos pelas
Escolas? Se por água no leite, ele não dá nata, azeda com facilidade. Também quando é tirado sem higiene, fica com o ranço dos excretos.
Por isso é bom fazer as coisas certinhas, pois no final do século passado
os recursos do município eram mínimos. Não havia o Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica nem o Piso Nacional. O mínimo
era um salário mínimo por vinte horas. Hoje o mínimo é o Piso de
1.567,00 sendo que essa proporcionalidade de um 13 comina em vinte
em sala e dez em hora-atividade. O nosso processo histórico está
retroagindo porque com tantos recursos, os profissionais do magistério
não estão recebendo nem o mínimo. Como alcançar o Teto se não tem
nem o Piso? A frustração maior é lembrar que, aqui em Nova Olímpia,
no final do século passado, não tinha computador, o carro da
secretaria de Educação era um fusca branco velho, e o do gabinete do
prefeito, uma Belina vermelha em bom estado de conservação. Não
havia celular. Se quisesse ligar para fora era preciso ir a um centro
telefônico porque residencial era restrito a poucos moradores. O
relógio digital e a TV colorida estavam no auge. A referência para
tratamento de saúde era a cidade de Mineiros em Goiás. Havia uma
farmácia particular autorizada a fornecer remédios à comunidade
carente, e aos funcionários da prefeitura. Urnas eletrônicas era algo
inimaginável. A população deslocava para Barra do Bugres e reunia-se
defronte ao Centro Comunitário para acompanhar a contagem dos
votos, realizada em suas dependências. Nesse tempo havia muitos
agenciadores apelidados por “gatos” que buscavam os trabalhadores
chamados de “peões”, pois o único recurso para tirar a cana do chão
era o podão. Mas, os monitores da educação recebiam o salário mínimo
da ocasião.
E agora, depois daquele passado de lutas e desse presente de
inseguranças, Nova Olímpia tem o que comemorar? A greve dos
profissionais da Educação é como um sinal vermelho que indica que os
pedestres precisam passar. Afinal de contas, o trânsito não se restringe
apenas aos veículos automotivos. Nem tão pouco, a manifestação deve
se caracterizar em uma queda de braços para uma afirmação de
poder. O objetivo é despertar a atenção para o início de um plano de
acertos. É inconcebível que uma instituição consiga direcionar um
olhar tão discrepante ao ponto de tentar convencer que R$ 1.567,00
corresponde a R$ 1.175,23. O Piso é uma Lei incontestável. Resta saber
se o Poder Executivo e Legislativo dessa Cidade vão continuar
indiferentes às Leis que os desfavorecem. Prosseguirão com a política
do deixar para depois? Um faz o asfalto, o outro põe o meio fio, o
próximo, a jardinagem do canteiro central? E o atual, fica preso a
palavra proporcional, com o objetivo de ganhar mais tempo para
dissolver esse angu de caroço que não pode ser desfeito, se as vozes do
passado ecoarem mais forte do que a necessidade do presente.Nova Olímpia! Nova Olímpia!
Um povo culto é um povo sábio.
Um povo unido
É um povo forte!
(Salve! Salve! Nova Olímpia! 13 de maio de 1987. Vinte e seis anos de
emancipação política, representada por cinco gestores contando com os
quatro meses do atual. Nova Olímpia foi governada vinte e dois anos
por apenas três prefeitos).
Educadora Maria Elizabete Dias de Almeida –Magistério-Letras e
Gestão Escolar- Lotada na Escola “Sagrado Coração de Jesus”