quinta-feira, 21/11/2024
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Um Xavante Desceu de uma Estrela, novela holística

Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico…

Em 1975, no show Doces Bárbaros, era anunciada a descida do índio, de uma estrela colorida, brilhante. Pois bem, o índio já desceu, no lugar previsto. É um xavante.
Os xavantes são os que detêm a chave do antes e, portanto, também a chave do depois. Têm, ainda, em seu poder, as chaves das entradas subterrâneas dos Andes. Na novela, o Xavante aparece conduzindo dois personagens, saídos das Mil e Uma Noites, pelo caminho subterrâneo que liga Chapada dos Guimarães aos Andes.
A história do príncipe Diamante e da princesa Camila é uma das que compõem Um Xavante desceu de Uma Estrela: Histórias que Rolavam no Mandioca’s Bar. O livro é, ao mesmo tempo, uma série de histórias mais ou menos independentes, uma novela e um ensaio sobre o ato de escrever e a própria obra. Algumas são velhas histórias. Outras novas. Algumas acontecem em Cuiabá, outras na Europa, e outras em qualquer dos universos paralelos.

Palíndromos, alegorias…
Palíndromo é uma palavra ou frase que pode ser lida de trás pra frente e de frente pra trás, sem perder o sentido. Um palíndromo é o núcleo em torno do qual gira o romance Avalovara, de Osman Lins, morto em 1978. Tal como ‘Avalovara’, ‘Um Xavante…’ é uma história feita de histórias, e o próprio termo criado por Osman Lins, derivado de Avalokiteshvara, é “um pássaro feito de pássaros”, como o Simu que aqui aparece.
Este é um novo gênero literário. Sem ser revolucionário, no sentido radical e espalhafatoso do termo, o livro poderia ser classificado como novela holística, um gênero que apenas engatinha, embora tenha referências muito antigas, até mesmo pré-históricas, considerada a história do que hoje se concebe como literatura.
Assim, por exemplo, uma história de histórias é o Mar de Histórias indiano, além do Avalovara já citado. “Um pássaro feito de pássaros” é também o Garuda da mitologia hindu, ou o Simurg da mitologia persa. Em meio às histórias entretecidas, temos aqui fragmentos ou referências a histórias sufis, zen, trechos de música popular, notícias de jornal.
O autor é jornalista, e o livro começa com um lead, de acordo com a escola à qual se filia. Ou seja, inicia pela estrutura da “pirâmide invertida”, que acabou triunfando no jornalismo brasileiro, técnica americana onde o repórter começa narrando o principal da notícia, e contando depois, em ordem decrescente de importância, os outros fatos ou complementos da notícia. O lead é, assim, a narração do principal do acontecimento.
Na seqüência, porém, a novela-ensaio segue uma linha que, muito embora possa ser acompanhada seqüencialmente, também admite outras diversas ordens de leitura, que lembram, talvez, O Jogo da Amarelinha, de Cortázar. Citando novamente o pernambucano Osman Lins, seu A Rainha dos Cárceres da Grécia também é um ensaio sobre um romance imaginário.
García Márquez, Borges e Fernando Pessoa também estão presentes, além de Lewis Carroll e uma história indiana tradicional, Jamais Confies um Segredo a uma Mulher.
Por que novela holística? Bem, o holismo, a visão das coisas como todos orgânicos, é a ênfase do hemisfério direito do cérebro, em oposição ao hemisfério esquerdo, fragmentador e analítico. De modo geral, as obras de arte, a criatividade, a intuição, têm sido associados ao lado direito do cérebro, então o que tem de diferente este livro? Bem, assim como poemas persas dos séculos XI/XII, este livro alterna a visão seqüencial e a holística, na busca de uma conexão.
Algumas histórias, como a da prisão, admitem mais de um nível de leitura, ou interpretação: o literal, o político e outro mais profundo, que trata da relação entre a essência e o ego.

A Gênese
Num momento de sérias dificuldades financeiras, desempregado depois de demitido (voluntariamente) do BB, onde trabalhou sete anos, o autor começou a sentir uma necessidade imperiosa, interior, de escrever Um Xavante desceu de uma Estrela.
Escritos os primeiros capítulos (o livro foi escrito em três meses, de agosto a outubro de 2002), ele teve a idéia de proceder como fizera com vistas à publicação de seu primeiro livro, Pássaro Azul da China, também produção independente: com um projeto gráfico na mão sairia vendendo a promessa do livro, ou seja, cartões intitulados vale-livro, cada um valendo um exemplar a ser entregue assim que fosse impresso.
A idéia da venda antecipada foi bem recebida por grande número de pessoas, mas a venda não acompanhou o ritmo. O projeto precisou ficar parado até que este ano, apresentado ao Conselho Estadual de Cultura, foi aprovado, e o resultado aí está.
Não é propósito do livro – adverte, no prólogo, Armando Trampa – pregar a moral e os bons costumes ou a defesa dos fracos e oprimidos, o culto aos heróis nacionais ou transnacionais, como tampouco pretende inculcar a crença na soberania dos instintos, a anarquia universal ou a inutilidade da arte. Quer apenas sugerir, insinuar.
O autor do livro não é o autor. Como no conto de Kafka, onde pedras estranhas acabam fazendo parte da construção, aqui o tecido (o tapete = a obra) é mesclada de fios de vária cor e qualidade, e o artesão, perplexo, se pergunta se é realmente o autor.

O livro de o XAVANTE é uma obra do Jornalista e escritor JOSUÉ MARCÍLIO, e já está á venda nas bancas de revistas.

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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