Rio – Desde que saiu pela porta da frente da cadeia em abril de 2009 — beneficiado pelo regime semiaberto que o autorizou a trabalhar na funerária da família de sua advogada—, o traficante Márcio José Sabino Pereira, o Matemático, jamais voltou. Pior: o criminoso liderou guerras por bocas de fumo que aterrorizaram moradores, deixou que seus soldados praticassem assaltos nas ruas da região de Senador Camará e voltou a oprimir a população do Complexo da Coreia, na Zona Oeste, como revelam imagens obtidas por O DIA. Tudo isso praticamente sem ser incomodado pela polícia.
Longe das ações de pacificação em outras áreas da cidade, Matemático — também conhecido como Batman ou Batgol — foi estendendo seus tentáculos e dominando praticamente tudo o que dá lucro na comunidade. O bandido entrou até no delicado e sangrento negócio das máquinas caça-níqueis. Normalmente elas pertencem aos ‘capos’ da máfia do jogo do bicho. Em Senador Camará, não: lá, Matemático passou a controlar cada moeda apostada na jogatina. “E ele é violento, cruel, mata e deixa matar sem piedade”, diz uma apavorada moradora da Favela do Rebu.
CERCADO DE SEGURANÇAS
Além dessa comunidade, o bandido — principal chefe da facção Terceiro Comando Puro (TCP) — controla Coreia, Vila Aliança, Taquaral, além de favelas do Complexo da Maré, na Zona Norte. Sempre armado com uma pistola no coldre, preso do lado direito da barriga, e um cinto com vários carregadores, vive cercado de seguranças de fuzil.
Apesar de aparecerem com registro de 2008 no vídeo, as cenas são recentes. Filmadas entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano, as imagens a que O DIA teve acesso revelam um pouco do cotidiano de terror imposto pelo homem que mandou pintar um gigantesco símbolo do Batman (referência a um de seus apelidos) no meio da Rua São Luiz, onde funciona uma das principais bases da quadrilha da Coreia. Ali, com olheiros por toda a parte, os criminosos montaram até uma tenda, onde almoçam com o fuzil no colo e tomam banho de mangueira para enfrentar o forte calor.
Última grande ação contra o criminoso ocorreu em maio
Há quase um ano, as forças de segurança do Rio não fazem uma grande ação para caçar Matemático. Mais precisamente em maio foi a última investida, quando a 34ª DP (Bangu) e o 14º BPM (Bangu) planejaram uma operação conjunta que resultou em cinco mortos e 15 presos. De lá para cá, apenas incursões esporádicas aconteceram. E o chefe do tráfico sempre conseguiu escapar.
Na verdade, depois daquela ação, ele deu uma ordem: não atacar mais a polícia. Com a medida, evitou as constantes investidas das autoridades de segurança. Em pelo menos três ações da Polícia Civil, houve mais de 10 mortos em confrontos. Há duas semanas, a PM chegou a trocar tiros e matou dois traficantes, numa incursão rotineira do veículo blindado. Mas, como revelam as filmagens, os radiotransmissores estão por toda a parte. E a fuga quase sempre é bem sucedida.
Recompensa de R$ 3 mil por informação
No Disque Denúncia (2253-1177), uma informação que leve à prisão de Matemático vale recompensa de R$ 3 mil. Mas a mão de ferro com a qual ele domina a região deixa os moradores com medo. Há três semanas, uma jovem e dois parentes de Volta Redonda teriam sido executados e jogados em um rio próximo à comunidade, acusados de serem informantes.
Matemático é dono de um dos maiores arsenais de guerra da cidade, como também revelam as imagens. Bandidos portando com fuzis e pistolas desfilam tranquilamente, passeiam em carros roubados e controlam cada metro das comunidades.
Do gás, cujo botijão chega a R$ 46, ao garrafão d’água a R$ 6, o traficante dominou a venda de drogas, e há pouco tempo se rendeu à venda do crack, que antes ele evitava comercializar. Vans, Kombis, mototáxis, todos pagam propina ao bandido. Matemático ganha até de um ferro-velho que compra fios de cobre roubados. Com 13 anotações na ficha criminal, Matemático está condenado a 12 anos de prisão.
ODIA
LESLIE LEITÃO