Um mês após a catástrofe causada pela passagem do ciclone “Nargis” no sul de Mianmar (antiga Birmânia), cerca de um milhão de desabrigados ainda não recebeu ajuda humanitária, informaram hoje as Nações Unidas e outras organizações.
O porta-voz do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Paul Risley, disse hoje que foram montados três centros de distribuição de ajuda no delta do rio Irrawaddy, área mais castigada. Segundo ele, “centenas” de toneladas de arroz e outros artigos foram levados para lá, mas ainda não é o suficiente.
“Precisamos de mais alimentos, é necessário acolher um número maior de pessoas e temos a necessidade de expandir as operações (humanitárias)”, manifestou Risley em Bangcoc.
No último dia 23, o sul-coreano Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, obteve a promessa do general Than Shwe, chefe da Junta Militar birmanesa, de que as portas do país seriam abertas aos voluntários e para facilitar a distribuição da ajuda.
A instituição recebeu 130 vistos, uma quantidade significativa – segundo Ban -, mas que ainda é insuficiente diante da magnitude do desastre.
O ciclone atravessou o sul de Mianmar entre os dias 2 e 3 de maio e matou 77.738 pessoas; outras 55.917 seguem desaparecidas; e o número de desabrigados beira os 2,4 milhões.
“Os afetados pelo ciclone precisarão de ajuda pelo menos até o ano que vem”, apontou Risley. Ele disse ainda que os habitantes do delta, região considerada o celeiro do país, não poderão plantar até 2009 pelos estragos causados – infra-estruturas e colheitas foram danificadas, enquanto extensas faixas de plantio estão alagadas.
A Junta Militar não compartilha a preocupação dos analistas da ONU e reiterou hoje que a resposta foi um sucesso, ao garantir que a assistência chega “sem demora” aos afetados.
“O material de socorro que chega do exterior está ajudando muito.
As equipes de emergência inspecionam cada carregamento no aeroporto e os transporta sem demora às áreas afetadas”, afirmou o jornal oficial “A Nova Luz de Myanmar” – utilizado pelo Governo para a propagação de quaisquer notícias.
As autoridades do país asiático encerraram a fase dos primeiros socorros e começaram há duas semanas a etapa de reabilitação e reconstrução.
Este processo consiste em esvaziar centros de amparo de desabrigados e obrigá-los a voltarem a suas casas com um saco de arroz e alguns kyat – a moeda birmanesa cuja unidade equivale a US$ 0,00090.
O novo ano letivo, iniciado ontem e que ficou ameaçado de não ser iniciado devido aos estragos causados pelo ciclone, faz parte da normalidade à qual o Governo faz questão de ressaltar.
Segundo a Unicef, o “Nargis” derrubou ou danificou cerca de 3.000 escolas, o que afetou cerca de 500.000 estudantes.
Algumas cobram de seus alunos uma taxa extra, além da matrícula, para custear os consertos. São quantias que começam num valor simbólico, mas podem chegar a 100.000 kyat (US$ 85 dólares) – esta última, cobrada por uma respeitada instituição de Botataung.
Os diretores de alguns colégios permitirão aos pais que parem de pagar as taxas em agosto, mas há famílias de camponeses que não sabem nem se terão dinheiro suficiente para o mês seguinte, já que não é possível plantar nada.
A Junta Militar, que governa o país há 46 anos, garante à ONU que a população do Irrawaddy sobreviverá da mesma forma como no passado, apenas mastigando plantas e caçando rãs.