Em 11 anos, 333.330 pessoas de 15 a 29 anos foram vítimas de homicídio no país. Somente em 2019, 23.327 jovens foram mortos
No período entre 2009 e 2019, o Brasil teve 333.330 pessoas com idades entre 15 e 29 anos assassinadas. O número representa um jovem morto em território brasileiro a cada 17 minutos. Essa informação consta no Atlas da Violência 2021, publicada na última terça-feira (31).
“São centenas de milhares de indivíduos que não tiveram a chance de concluir sua vida escolar, de construir um caminho profissional, de formar sua própria família ou de serem reconhecidos pelas suas conquistas no contexto social em que vivem”, diz o estudo, que foi feito por meio da parceria entre FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), Ipea (Instituto de Econômica Aplicada) e IJSN (Instituto Jones dos Santos Neves).
Em 11 anos, o estudo contabilizou o assassinato de 623.439 pessoas — 53% jovens. Somente em 2019, 23.327 jovens foram vítimas de homicídios no Brasil, sendo que 93,9% eram homens.
Entre os números das estatísticas de 2019, estão os jovens Roney Oliveira, de 20 anos, Nicolas Canda, de 18, Leonardo Carvalho, 23, e Vitor Barbosa, 21. Os quatro amigos estavam juntos no carro do Vitor, andando pela zona leste de São Paulo, quando foram assassinados por policiais militares da Rota.
Pouco antes dos jovens serem mortos, dois deles (Roney e Vitor) mandaram mensagens de amor para suas companheiras. Mas na versão policial, os amigos estavam praticando crimes na região e, quando foram abordados pelos PMs da Rota, desceram trocando tiros.
Para o advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e membro do Movimento Nacional de Direitos Humanos, a violência praticada contra os jovens “tem relação com o aumento da vulnerabilidade dessas pessoas no país, que têm menos oportunidades de escolarização, trabalho, profissionalização, estágios, e em atividades de cultura e esportes”.
O advogado também explica que o caso que terminou nas mortes dos jovens na zona leste de São Paulo retrata uma boa parcela do número de homicídios do grupo no país. “Temos o aumento da violência policial, incentivado por autoridades municipais, estaduais e federais”, conta.
“Pelos menos 20% das mortes dos jovens tem envolvimento de policiais, principalmente PMs. Quem deveria proteger os jovens e a comunidade, que são as polícias, representa grande risco de violência e morte para a juventude”, explica Alves.
Apesar do número representativo de jovens assassinados, o ano de 2019 teve um recuo de 24,3% nas mortes violentas praticadas contra pessoas com idades entre 15 e 29 anos na comparação com o ano anterior. Segundo o estudo, a taxa de homicídios a cada 100 mil jovens passou de 60,4 para 45,8.
A queda no número de homicídios de jovens é reflexo da diminuição em todos os Estados, exceto o Amazonas, que teve aumento de 5,4% nos assassinatos de pessoas de 15 a 29 anos em 2019 na comparação com o ano anterior.
O Espírito Santo foi o Estado que teve menor redução, caindo 7,7%, enquanto Roraima foi o que mais reduziu, registrando queda de 56,5% na violência letal contra a juventude.
Com relação a taxa de homicídios entre os jovens para um grupo de 100 mil habitantes, o Amapá é o Estado com o pior índice: 101,8. Na outra ponta está o Estado de São Paulo, com o menor índice do país (12,5). A taxa de homicídios entre os jovens no Brasil é de 45,8, conforme os dados de 2019.
Sobre o futuro próximo, Alves afirma temer pelo que pode acontecer com a juventude. “Agora, após a pandemia, com o aumento do desemprego, com a perda de renda das famílias, crise econômica, social e humanitária, a tendência é de aumento na violência nesse ano e nos próximos, e os jovens acabam sendo as principais vítimas da exclusão social e também da violência”.
Kaique Dalapola, do R7