quinta-feira, 07/11/2024
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Um ano depois, crise faz com que grau de investimento não seja sentido no País

Depois da classificação, a Bolsa continuou melhorando por cerca de 40 dias. Depois, mergulhamos em um turbilhão de incertezas, e ter grau de investimento não teve muito efeito”, afirma José Francisco de Lima, economista-chefe do Banco Fator.

Para economistas, o Brasil ainda não se beneficiou do que receber “investment grade” tem de melhor, que é o aumento da demanda para investimentos de fundos soberanos, prática de juros menores e prazos maiores.

“Não houve condições para aumento dos investimentos com a crise internacional”

Segundo o doutor em economia e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) Tharcísio Souza Santos, o Brasil foi mais atingido pela crise do que imaginava. Depois do dia 15 de setembro de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, a situação se agravou. “Não houve condições para aumento dos investimentos com a crise internacional. Neste momento, não é um rótulo que faz diferença, é a condição macroeconômica”, diz.

Na época em que elevou o rating de crédito soberano de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil de BB+ para BBB- e o rating de moeda local de BBB para BBB+, a S&P disse que tais promoções refletiam o amadurecimento das instituições financeiras e das políticas públicas do País. Elas são demonstradas pela melhora na situação fiscal e na tendência de crescimento e redução da dívida externa.

“Não estamos vendo risco em curto prazo. Temos uma perspectiva estável”

O Brasil foi o 14º país soberano a ter sua dívida em moeda estrangeira elevada para o grau de investimento. Como pontos fortes do crédito brasileiro, a agência citou o histórico de continuidade nas políticas e o perfil da dívida em linha com o de governos classificados nas categorias de grau de investimento.

No dia 6 de abril último, a agência confirmou a classificação. “Não estamos vendo risco em curto prazo. Temos uma perspectiva estável”, explica Sebastián Briozzo, analista de crédito da S&P, para quem “um país manter o nível no atual contexto de dificuldades é uma boa notícia”.

Segundo ele, há uma parcela maior de investidores olhando para o Brasil agora, já que muitos só podem depositar seus ativos em países que têm grau de investimento. Para especialistas, a afirmação, na prática, é em partes verdadeira.

“Existem grandes investidores que se orientam por índices e condições reais da economia, sem depender de agências de classificação de risco. Outros, principalmente os pequenos e médios, não têm essa capacidade de avaliação e se orientam pelas agências classificadoras. São bastante influenciados”, explica Sandro Maskio, professor de economia da Universidade Metodista de São Paulo.

“Podemos observar o Banco Central alongar o prazo da dívida pública e diminuir a remuneração paga por ela”

Segundo informações do Banco Central (BC), em 2007, o Brasil recebeu US$ 34,584 bilhões em investimento externo líquido. Em 2008, o salto foi para US$ 45,058 bilhões.

Em qualquer operação, os credores buscam obter a melhor remuneração com o menor risco possível. Por isso, à medida em que confiam mais em um título público, tem menos medo de apostar e tomar calote. Com isso, Maskio explica que o Banco Central tem mais liberdade para negociar títulos públicos com juros menores e prazos maiores. “Nos últimos meses, mesmo em um cenário internacional adverso, podemos observar o Banco Central alongar o prazo da dívida pública e diminuir a remuneração paga por ela”, considera.

Com a crise, as operações do BC também foram prejudicadas com a dificuldade na obtenção de crédito. “Não porque a qualidade estava comprometida, mas porque os credores estavam mais receosos”, ressalta o professor Maskio.

Para ele, porém, a confiança no governo está ajudando a amenizar o impacto da turbulência mundial e, sem ela, o País viveria um período com taxas de juros ainda maiores. A longo prazo, o economista considera que o BC deva reduzir mais a taxa de juros e os consumidores sentirem o impacto com financiamentos a taxas menores.

“Eles precisavam deste tipo de chancela, de selo, que é o grau de investimento”

“O que beneficiou o País na crise não foi ter recebido ‘investment grade’, foi a melhora que permitiu essa classificação”, acrescenta o economista da Win Trade Consultoria José Góes.

De acordo com ele, a nova classificação permite que fundos de pensão e investidores mais rigorosos apliquem no País. “Eles precisavam deste tipo de chancela, de selo, que é o grau de investimento”, diz. “Mas a pré-condição macroeconômica e a longevidade da democracia precedem isso. O investidor vem por causa dessas coisas. O grau de investimento só consagra uma situação”, completa o professor Tharcísio Souza Santos.

Os efeitos disso, no entanto, eles ressaltam, só devem sentidos quando o cenário internacional se estabilizar.

Grau de investimento
NOTA SIGNIFICADO
AAA O nível mais alto. Melhor qualidade de crédito.
AA Qualidade de crédito muito alta. Indica capacidade muito elevada de pagamento de compromissos financeiros.
A Capacidade elevada de pagamento de compromissos financeiros, mas é mais vulnerável a alterações nas circunstâncias ou nas condições econômicas.
BBB Capacidade de pagamento de compromissos financeiros é considerada adequada. Porém, menos protegida contra choques e variações.
Grau de especulação
NOTA SIGNIFICADO
BB Há possibilidade do risco de crédito aumentar como resultado de mudanças adversas na economia. Mas há alternativas que possibilitam que as dívidas sejam honradas.
CC Altamente especulativo. A capacidade de continuar efetuando o pagamento dependerá de um ambiente de negócios e econômico sustentado e favorável.
CCC A inadimplência é uma possibilidade real. O país depende de condições de negócios e econômicas extremamente favoráveis e sustentadas.
CC É provável algum tipo de inadimplência.
C A inadimplência é iminente.
D Indica um país que deixou de cumprir com todas as suas obrigações financeiras.
*Os modificadores + ou – podem ser adicionados para denotar a posição relativa nas categorias principais de rating. O Brasil está no rating BBB-, que é o menor do grau de investimento.

Subir de nível

O Brasil encontra-se na categoria BBB-, que é mais baixa entre todas as consideradas de investimento. Nenhum dos especialistas consultados acredita que ele deva sair deste nível rapidamente. Para Briozzo, analista da S&P, o nível da dívida e a carga tributária, que ainda são altos no País, são os principais empecilhos para um melhor posicionamento.

Segundo Sandro Maskio, a ineficiente gestão do orçamento público também dificulta o pagamento de dívidas. “O governo arrecada muito, mas com péssima qualidade, tributando os mais pobres”, critica. “O Brasil ainda tem que melhorar de 40% para 30% o nível de endividamento. E tem que conseguir uma taxa de crescimento expressiva por longo tempo”, acrescenta Góes.

U.SEG

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Parmenas Alt
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