O ex-ditador do Iraque Saddam Hussein foi executado no início da madrugada deste sábado, segundo a TV AL-Hurra após muita especulação sobre realização de sua sentença. A TV norte-americana ABC News confirmou que um oficial norte-americano no Iraque informou a execução. A CNN, contudo, esclareceu que não pôde confirmar a notícia com fontes próximas.
Ele foi condenado à morte em 5 de novembro por um tribunal iraquiano pelo massacre de 148 xiitas na aldeia de Dujail, em 1982, o que foi considerado crime contra a humanidade.
Durante toda a sexta-feira, havia muita incerteza sobre a data em que o ex-ditador seria executado. Chegou-se a cogitar a possibilidade de que a sentença de morte seria cumprida apenas na semana que vem, após o término do feriado de Eid al-Adha, que começa neste sábado.
Advogados do ex-presidente iraquiano chegaram a pedir haviam pedido na última sexta-feira à Justiça dos EUA que suspendesse a execução. O pedido de uma liminar foi feito à Corte Distrital de Washington para a suspensão temporária da execução porque Saddam também é réu em um processo civil nesse tribunal e não teve a oportunidade de se defender. Contudo, não foram atendidos.
Durante a tarde, o chefe da equipe de advogados de defesa do ex-ditador informou que as forças dos EUA transferiram a custódia de Saddam para os iraquianos. Segundo analistas, esse era um indício de que o enforcamento era iminente. “Os americanos nos notificaram de que entregaram Saddam para as autoridades do Iraque”, disse Khalil al-Dulaimi.
Os EUA, porém, negaram horas depois a informação. “Ele (Saddam) ainda está sob custódia americana”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey. A Casa Branca, por sua vez, não se manifestou. “Esse é um tema dos iraquianos, somos apenas observadores do processo”, disse o porta-voz Scott Stanzel.
Mais cedo, o ex-ministro da Justiça do Catar Najib al-Naimi, que contribuiu com a defesa do ex-ditador, disse à TV Al-Jazira que os americanos pediram que advogados de Saddam enviassem algum representante para recolher os pertences do ex-ditador. “É uma indicação de que ele está prestes a ser executado, provavelmente amanhã (sábado)”, observou. Badee Izzat Aref , outro advogado de Saddam, informou que o ex-ditador recebeu, quinta-feira, a visita de dois de seus três meio-irmãos. Segundo uma fonte do Ministério da Defesa do Iraque que presenciou o encontro, Saddam entregou seu testamento a um dos irmãos.
No início da noite, uma alta autoridade iraquiana que pediu para não ser identificada disse à Reuters: “Muitas coisas mudaram nas últimas horas e ele pode ser enforcado esta noite (sexta), mas não é certo.” Ele acrescentou que o início, hoje, do festival muçulmano de Eid al-Adha poderia atrasar a execução por alguns dias.
Pouco depois, o deputado Sami al- Askari, ligado ao primeiro-ministro iraquiano, o xiita Nuri al-Maliki, confirmou à France-Presse a possibilidade de que a sentença de morte seria cumprida apenas na semana que vem. “Todos os documentos necessários para a execução de Saddam estão completos e o ex-presidente será executado ao amanhecer (de sábado) ou na próxima quinta-feira, quando acabar a festa de Al-Adha.”
O juiz Munir Haddad, que integra a Corte de Apelações do Alto Tribunal Iraquiano, foi mais direto. Segundo ele, Saddam seria enforcado “hoje (sexta) à noite ou amanhã (sábado)”. Haddad estará presente na execução.
À noite, advogados de Saddam entraram com um pedido na Justiça dos EUA para bloquear a transferência de sua custódia às autoridades iraquianas e, assim, evitar a execução. A condenação do ex-ditador à morte foi ratificada terça-feira pelo Tribunal de Apelações do Iraque. Ele foi considerado culpado pela morte de 148 xiitas em 1982.
Tranqüilidade
Outro advogado que participou da defesa de Saddam disse à TV CNN que o ex-ditador aceitou seu destino. “Ele estava até sorrindo. Acho que ele estará sorrindo quando for executado”, disse Najib al-Nuaimi, que se reuniu na véspera com Saddam.
Preocupados com a reação que a execução pode provocar na população iraquiana, os EUA avisaram que estão preparados para eventual onda de violência. “As forças americanas estão obviamente em alto estado de alerta por causa da situação de segurança do momento”, disse um porta-voz do Pentágono.
Genocídio
Segundo a acusação formulada pelo Tribunal Especial Iraquiano (TEI), em julho de 1982 alguns moradores da vila atacaram o comboio de carros em que viajava o então presidente Saddam Hussein. Em represália, forças policiais, do exército e do Partido Baath atacaram Dujail. Nos dias que se seguiram, centenas de pessoas foram presas e algumas executadas sem direito a julgamento.
Outros moradores da vila, incluindo mulheres e crianças, foram levados para uma prisão no deserto e mantidos lá por quatro anos. Além disso, áreas plantadas pelas famílias dos presos foram destruídas.
A repressão de Dujail foi apenas a primeira das acusações a que Saddam deveria responder perante o TEI. Ele poderia responder ainda por outras atrocidades ocorridas no período em que governou o Iraque – entre 1979 e 2003. São elas:
– Massacre de curdos em 1988: numa operação batizada “Anfal” (“espólios”) o governo iraquiano tentou eliminar diversas comunidades curdas no norte do Iraque. O total de mortos é estimado em mais de 180.000 pessoas. Nessa campanha foram usadas armas químicas, notoriamente contra a cidade curda de Halabja. O responsável pela operação, general Ali Hassan al-Majid, primo de Saddam, ganhou o apelido de “Ali Químico”.
– Massacre da tribo Barzani, em 1983: forças de segurança iraquianas capturaram cerca de 8.000 membros dos Barzani, uma tribo curda. Todos continuam desaparecidos.
– Invasão do Kuwait, em 1990: Saddam Hussein determinou a tomada do reino do Kuwait por tropas iraquianas, dando início à primeira Guerra do Golfo. Soldados iraquianos são acusados de tortura e assassinato, além do incêndio de centenas de poços de petróleo e outros crimes ambientais.
Além desses casos, Saddam é acusado por diversos assassinatos políticos durante tanto seu período como presidente (1979-2003) quanto nos anos anteriores, durante o governo do presidente baathista Ahmed Hassan al-Bakr.
OE