A minha impressão é que o presidente Lula se saiu melhor. Para nós, o empate teria sido um bom resultado. Acho que nós saímos com uma pequena vitória”, afirmou o coordenador da campanha de Lula à reeleição, Marco Aurélio Garcia, que também ocupa o cargo de presidente do PT, em entrevista depois do debate.
“Foi um debate equilibrado”, avaliou o senador Sérgio Guerra (PSDB), que chefia a campanha de Alckmin.
As reações contrastam com as que marcaram o primeiro debate do segundo turno, em 8 de outubro, quando Alckmin assustou petistas com um tom mais agressivo e chegou a empolgar tucanos quanto à possibilidade de uma virada.
Pesquisas divulgadas desde então, no entanto, indicam uma estagnação de Alckmin e um crescimento de Lula – que, segundo projeções do instituto Datafolha, venceria com 60% dos votos válidos – contra 40% do tucano – se as eleições fossem hoje.
Agressividade
Em entrevista após o debate, Alckmin negou que tenha sido menos incisivo nos questionamentos sobre a origem do dinheiro apreendido que seria usado para comprar um dossiê contra o então candidato ao governo de São Paulo (hoje governador eleito) José Serra.
“Eu coloquei (a pergunta), o candidato não responde”, disse Alckmin, que baixou o tom em relação às acusações de corrupção e concentrou seus ataques nas áreas da economia e da saúde, tema de três de suas perguntas a Lula
“O que eu tinha que fazer eu fiz. Eu não tenho agressividade. Eu acho que o que não pode haver é passividade com a corrupção. Até porque a impunidade acaba estimulando a corrupção. A gente fica triste que questões que ocorrem nesta campanha não tenham explicação até agora, 34 dias depois (da descoberta dos R$ 1,75 milhão).”
O tucano, que após o primeiro debate dissera ter conseguido expressar a “indignação” da sociedade brasleira, hesitou em fazer uma avaliação do próprio desempenho na quinta-feira. “Eu gostei muito. Não vou fazer autojulgamento, mas eu gostei muito.”
Para o coordenador petista, houve uma mudança de rumo da campanha tucana depois do suposto impacto negativo dos seus ataques a Lula no primeiro debate.
“Achei que o candidato Alckmin, depois daquele estilo Mike Tyson, que não funcionou muito – até porque para ser Mike Tyson precisa ter musculatura – teve uma certa ambigüidade, e talvez tenha adotado uma tática que não me parece vai lhe trazer muitos dividendos, que é a de não responder e fazer perguntas”, afirmou Garcia.
Questionado sobre mudança na postura e no desempenho do presidente entre os dois debates, Garcia reconheceu que ele estava “mais à vontade”, e negou que o tom de Lula com Alckim tenha sido excessivamente irônico.
“Ele é uma pessoa muito bem-humorada. Então ele usou (a ironia) de forma parcimoniosa. Diante de algumas respostas, até poderia ter tido uma cota de ironia maior”, disse Garcia.
Leitura
O coordenador também explicou que Lula preferiu levar dados de seu governo para ler durante o debate para evitar erros, como o apontado por Serra em que o presidente trocou a Taxa de Juros de Longo Prazo (JLP) com a taxa Selic, que rege os juros básicos da economia brasileira.
“O presidente optou por ler alguns dados porque evidentemente num debate desses trazê-los de cabeça não é fácil ainda que o Lula tenha uma excelente memória. Eu sempre vejo em reuniões de trabalho como ele opera com esses dados de cabeça. Mas, evidentemente, num debate desses, você não pode se permitir ter um lapso como ele teve, trocar o TJLP pela Selic. Então, é normal (ler).”
O coordenador acrescentou, porém, que ele “talvez pudesse ter lido um pouco menos e um pouquinho mais devagar”.
Além de destacar a confusão entre as taxas, tucanos como Sérgio Guerra e Tasso Jereissati questionaram a veracidade dos números exibidos por Lula durante o debate.
“O presidente Lula falou de números, em parte inverídicos. Muito do que disse são projetos”, disse Guerra.
O argumento da campanha tucana é que Lula quer olhar para trás, ao criticar o governo de Fernando Henrique Cardoso, enquanto Alckmin tenta debater propostas para o futuro.
“O presidente Lula o que fez foi comemorar o seu governo, sem argumentos mas com bastante ironia, condenar o governo Fernando Henrique, com ironia e sem argumentos”.
Guerra diz acreditar que Alckmin expôs seus projetos para o país na medida do possível. “Não haveria tempo para que os projetos fossem mais apresentados. Por exemplo, ele disse que o presidente Lula não irrigou um hectare de terra. Mas ele não teria tempo de falar da forma que ele desejaria irrigar o Nordeste, que para mim é o mais importante de tudo que pode se falar da região.”
Trocas de farpas
Embora bem menos tenso – ou “apimentado”, nas palavras de Marco Aurélio Garcia – do que o primeiro, o debate de quinta-feira teve trocas de farpas entre os candidatos.
Ao ser questionado por Alckmin em que posição o Brasil estava em um ranking de 27 economias da revista britânica The Economist, Lula disse, sem responder à pergunta, que o tucano era daqueles brasileiros para quem “se não deu no (jornal americano) The New York Times, não vale”.
Outros temas espinhosos a Alckmin levantados pelo presidente foram as privatizações e a segurança pública – área mais criticada da gestão do tucano no governo de São Paulo.
Alckmin, por sua vez, ironizou a acusação de que ele insiste no samba de uma nota só ao falar do dinheiro do dossiê, dizendo que eram 1,75 milhão de notas.
O tucano também criticou as políticas de educação e de emprego do governo Lula.
O coordenador da campanha tucana também defendeu a tese da crise institucional, levantada por Alckmin em entrevista à imprensa brasileira.
“Faltou esclarecer o seguinte: o Brasil que o presidente Lula plantou hoje se não for alterado amanhã vai sofrer no ano que vem uma crise do tamanho do mundo”, disse Guerra.
“Essa crise vai explodir e vai explodir nas mãos do presidente que a criou, se ele for reeleito. E certamente vai ser contornada se essa explosão caminhar para ser dada com um presidente que tem um projeto novo para o Brasil.”
Marco Aurélio Garcia disse, por outro lado, que o Brasil está tendo pela primeira vez no governo Lula um ciclo econômico que combina crescimento, distribuição de renda e estabilidade fiscal.
Reforçando a tese de Lula defendida por Lula no debate de que o governo teria criado os alicerces para o crescimento, Garcia disse que um eventual segundo mandato seria voltado para a agenda do crescimento.
As mensagens finais dos dois candidatos foram marcadas por promessas de geração de emprego. Há mais dois debates previstos até o dia 29 de outubro.