O terremoto de 5,2 de magnitude na escala Richter registrado na terça-feira, 22, ocorreu em uma região incomum, longe das zonas de contato entre placas tectônicas onde costuma ocorrer esse tipo de abalo e surpreendeu os especialistas. O epicentro, a 215 quilômetros de São Vicente, no litoral paulista, foi bem no meio da Placa Sul-Americana. Esse tipo de tremor, chamado “intraplaca”, responde por apenas 10% dos abalos sísmicos globais.
O fenômeno, que começou às 21 horas de terça-feira e durou cerca de 5 segundos, teve reflexos em dezenas de cidades paulistas e em pelo menos quatro outros Estados – Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. O tremor não deixou nenhuma vítima. Medições feitas no observatório sismológico de Brasília mostram que, nos últimos dez anos, mais de 5 mil abalos foram registrados no País, sendo 400 deles com magnitude igual ou superior a 3 graus na escala Richter.
O local onde ocorreu o sismo surpreendeu o geofísico Rafael Abreu, do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). Segundo ele, pelos registros do USGS, nunca houve um terremoto num raio de 500 quilômetros daquele ponto – pelo menos desde 1973, quando o serviço americano começou a catalogar esse tipo de evento. “Quando vi o registro não acreditei”, disse Abreu ao Estado, em entrevista por telefone do Centro Nacional de Informações sobre Terremotos do USGS, no Colorado. “Pensei: Será que isso está certo?”
Abreu, que é porto-riquenho, disse que o terremoto, considerado de nível moderado, foi pequeno demais para causar um tsunami. Para isso, precisaria chegar a pelo menos 6 ou 7 na escala Richter, e seria necessário um deslocamento vertical de placas do substrato marinho – o que não aconteceu. “Se fosse até o fundo do mar e olhasse, não veria nenhuma cicatriz”, disse o especialista Lucas Vieira de Barros, do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB).
Segundo Barros, um tremor dessa magnitude (5,2 graus na escala Richter) pode ser sentido a até 800 km de distância. Ele explica que o catálogo global do USGS é diferente do catálogo regional, e que a UnB tem registro de tremores menores já ocorridos naquela área.
Um abalo de 3,9 na escala Richter no mesmo hipocentro do tremor de terra percebido na terça-feira em São Paulo foi registrado pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) no dia 8 de fevereiro. O hipocentro é o ponto em que começa a fratura nas placas tectônicas. Segundo o técnico em sismologia da IAG-USP, José Roberto Barbosa, a repetição do fenômeno em uma mesma região é muito raro e pode ser interpretado como a liberação de uma tensão acumulada resultante da movimentação de placas tectônicas.
O tremor foi o quarto maior já registrado no País. O terremoto mais forte ocorrido no Brasil foi de 6,2 de magnitude na escala Richter. O evento ocorreu em 1955 em Porto dos Gaúchos (MT). No Estado de São Paulo, o maior abalo conhecido foi o que atingiu a cidade de Mogi-Guaçu em 27 de janeiro de 1922, que alcançou 5,1 de magnitude.