domingo, 22/12/2024
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Transporte: um desafio para a Copa do Mundo de 2010

“Peço desculpas pelo atraso, tive problemas com o trânsito na cidade”. Essa frase foi citada por nada menos que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, ao chegar atrasado para a entrevista coletiva na última quinta-feira, 18, momentos antes do início da partida entre Brasil e Estados Unidos, no estádio Loftus Versfeld, em Pretoria. A situação é mais uma mostra do trabalho que terá o Comitê Organizador sul-africano para melhorar o sistema de transporte até o dia 11 de junho de 2010, data de abertura da Copa do Mundo na África do Sul.

E se a Copa das Confederações é o grande teste, ao menos nesse quesito o país está reprovado. São muitos os problemas para se locomover tanto dentro das cidades sul-africanas como também entre elas, e os organizadores terão que correr contra o tempo para que o setor esteja ao menos apto a receber um grande evento como o do próximo ano.

A começar pelo transporte urbano mais utilizado na África do Sul, o minibus – van utilizada para transportar passageiros semelhante às “lotações” de São Paulo A maioria dos veículos está velha e inadequada para esse tipo de serviço, e muitos circulam clandestinamente. E não é difícil acompanhar um acidente pelas ruas devido à pressa dos motoristas e também por não existir pontos específicos e sinalizados para o embarque e desembarque.

Além disso, é comum o veículo parar em esquinas e esperar por tempo indeterminado até que todos os lugares sejam ocupados. E mesmo que o adesivo no interior da van indique a capacidade máxima de 13 pessoas, não há fiscalização que evite o transporte de até 18 passageiros ao mesmo tempo.

Ônibus e trens seriam opções para evitar a aventura dentro de um minibus, mas a falha nos itinerários e a escassez de veículos deixam esse transporte em segundo plano. A maioria dos ônibus urbanos circula completamente vazia, e é possível até pegar um trem que se movimenta com as portas abertas. Ao mesmo tempo, a oferta de táxi é muito pequena, e nem mesmo jogos de bom público, como os de Brasil e Itália, foram capazes de aproximá-los dos estádios ao final das partidas.

“A Copa das Confederações tem mostrado que o transporte na África do Sul é um problema . Mas tenho certeza que iremos resolver isso para a Copa no ano que vem”, promete Blatter.

Erros logísticos

Se não bastassem os problemas no transporte urbano, os visitantes que planejam ir de uma cidade a outra de ônibus têm que ficar atentos e ter muita paciência. Grande parte da frota utilizada é de excelente qualidade, mas as empresas falham em logísticas simples como horário e disponibilidade de veículos. Para se ter uma idéia, não há linhas que façam, exclusivamente, o percurso de apenas 55 km entre a capital administrativa, Pretoria, e a maior cidade do país, Joanesburgo.

Um exemplo é o que ocorreu com a empresa Greyhound – uma das melhores do país – no último dia 12 de junho, dois dias antes da abertura da Copa das Confederações. Os passageiros que compraram o bilhete da companhia para embarcar às 18h50 tiveram que esperar 2h30 para iniciar o trajeto de apenas 60 minutos entre as cidades, devido ao atraso do ônibus que vinha de Bloemfontein, capital judiciária da África do Sul e distante 417 km de Joanesburgo.

“Sabemos que há problemas logísticos entre Joanesburgo e Pretoria”, admite o presidente da Fifa.

E é bom os mais desavisados ficarem atentos à plataforma de embarque, devido à facilidade de perder o ônibus nas rodoviárias sul-africanas. Os veículos das linhas interurbanas chegam sem nenhum tipo de sinalização do seu destino, e é preciso pedir informação ao motorista sobre o trajeto de cada ônibus estacionado.

Além disso, o lugar durante a viagem fica apenas impresso na passagem, pois as poltronas no interior do veículo não são numeradas. E é difícil imaginar que o ticket esteja intacto ao final do percurso, sem a necessidade de nem mesmo tirá-lo do bolso para confirmar a sua compra.

“A Copa das Confederações é um teste para nós em diversos níveis, não só no transporte. Mas, nesse setor, o Comitê Organizador é responsável apenas por transportar as delegações da Fifa, times competidores, oficiais das partidas e profissionais de imprensa”, afirma Danny Jordaan, chefe sul-africano do Comitê Organizador, em entrevista ao jornal sul-africano City Press, no último domingo, 21.

“Já as cidades-sede são responsáveis pelo transporte urbano, enquanto o translado entre as cidades são de responsabilidade do governo nacional e das províncias”, completa Jordaan.

Pouco esforço

Diante de tantos problemas, os trabalhos realizados pelo Comitê Organizador durante a Copa das Confederações têm passado praticamente despercebidos. Visível apenas alguns novos minibus inseridos no transporte público para substituir os veículos sem condições de operar.

Além disso, anúncios publicados pelo Governo nos jornais das cidades-sede trazem a frase “Let us help you find your way around the Fifa 2009 Confederations Cup” (Vamos ajudá-lo a encontrar o caminho em torno da Copa das Confederações Fifa 2009) e divulgam um endereço eletrônico de informações para os visitantes do evento.

“Os serviços especiais são bem planejados para atrair um grande número de visitantes, de modo a aliviar a pressão sobre o tráfego ao redor dos estádios e vias de acesso”, diz a página de transporte das cidades-sede do site.

Mas os esforços são irrelevantes mesmo para um evento de menor expressão como a Copa das Confederações. A imagem (à direita) do anúncio citado denuncia os problemas: em meio a jogadores, “vuvuzelas” (as irritantes cornetas da torcida sul-africana) e veículos de transporte, um torcedor aparece com as mãos na cabeça e cara de assustado. A impressão é de que, na Copa de 2010, os visitantes terão a mesma reação ao chegar à África do Sul.

Transporte aéreo é exceção

Se por um lado o transporte terrestre está bem longe do ideal para receber uma Copa do Mundo, o mesmo não ocorre nas viagens aéreas. Mesmo com o aumento de 200% no número de turistas em 13 anos (de 3 milhões em 1994 para 9 milhões em 2007), a África do Sul tem suportado a crescente demanda de vôos em seu território e nunca enfrentou uma crise aérea como a que ocorreu no Brasil há dois anos.

Além disso, os três principais aeroportos sul-africanos estão passando por grandes mudanças. A começar pelo de Durban (principal cidade na parte leste do país), que será desativado para a construção do Aeroporto Internacional King Shaka, em La Mercy, cuja inauguração está prevista para o início de maio do próximo ano.

Já os aeroportos internacionais da Cidade do Cabo e de Joanesburgo estão com obras adiantadas que ampliarão seus terminais e aumentarão a capacidade dos estacionamentos. As reformas no Aeroporto Internacional Oliver Tambo, em Joanesburgo – o maior e mais movimentado de toda a África – tem um custo previsto de 2,5 bilhões de rands (cerca de R$ 650 milhões).

IG Esporte

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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