quinta-feira, 21/11/2024
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Tortura chinesa inspirou interrogatórios em Guantánamo

Instrutores militares enviados para Guantánamo em dezembro de 2002 basearam uma aula inteira sobre interrogatórios em cartilhas que mostravam os efeitos da “técnica de gerenciamento coercivo” para possível uso em prisioneiros, incluindo a “privação do sono”, a “imobilização prolongada” e a “exposição ao frio”.

O que os instrutores não disseram – e pode ser que não soubesse, – era que a apostila era uma cópia literal de um estudo feito pela Força Aérea americana em 1957 sobre técnicas usadas durante a Guerra da Coréia para obter confissões, muitas delas falsas, de prisioneiros americanos.

A cartilha reciclada é mais recente evidência do modo como os métodos comunistas de interrogatório que os EUA descreveram por muito tempo como tortura se tornaram a base dos interrogatórios realizados tanto por militares quanto pela Agência Central de Inteligência (CIA) na prisão de Guantánamo.

Alguns metidos foram usados em um pequeno número de prisioneiros antes de 2005, quando o Congresso americano proibiu o uso da coerção por militares. A CIA ainda conta com a autorização do presidente George W. Bush para utilizar vários metidos secretos “alternativos”. Diversos documentos de Guantánamo, incluindo a cartilha que descreve os métodos coercivos, foram divulgados diante do Comitê do Senado em uma audiência em 17 de junho, que analisou como as táticas passaram a ser empregadas.

Porém, investigadores do Comitê não sabiam que a origem da cartilha estava em um artigo publicado há meio século em um jornal militar, conexão que foi revelada ao New York Times por um especialista em interrogatórios independente, que falou sob anonimato.

O artigo de 1957, do qual a cartilha foi copiada, tem o título Tentativas comunistas de obter falsas confissões de prisioneiros de guerra da Força Aérea e foi escrito por Alfred D. Biderman, um sociólogo que servia na Aeronáutica e morreu em 2003. Biderman entrevistou ex-prisioneiros americanos que voltaram da Coréia do Norte, alguns dos quais filmados por seus interrogadores chineses confessando terem praticado guerra bacteriológica e outras atrocidades.

As confissões orquestradas geraram alegações de que os presos americanos teriam sofrido “lavagem cerebral”, e motivaram as Forças Armadas a intensificar o treinamento para dar ao seu efetivo uma mostra dos duros métodos dos inimigos. Em 2002, o programa de treinamento, conhecido como SERE (sobrevivência, evasão, resistência e fuga em inglês) transformou-se em uma fonte de métodos de interrogatório para a CIA e as Forças Armadas. No que os críticos descrevem como um caso notável de amnésia histórica, as autoridades recorreram ao SERE aparentemente não tiveram consciência de que ele foi criado como resultado da preocupação com falsas confissões feitas por prisioneiros americanos.

O artigo de Biderman descreve “uma forma de tortura” usada pelos chineses que consistia em forçar prisioneiros americanos a “permanecer em pé por períodos excessivamente longos”, às vezes em condições de “frio extremo”. Estes métodos foram usados por militares americanos e interrogadores da CIA contra suspeitos de terrorismo.

A cartilha descreve ainda outras técnicas usadas pelos chineses, incluindo a “fome parcial”, a “exploração de ferimentos” e “ambientes imundos e infestados”, assim como os efeitos provocados: “tornar a vítima dependente do interrogador”, “enfraquecer a capacidade de resistência mental e física” e “reduzir o prisioneiro a preocupações de “nível animal”. A única mudança na apostila apresentada em Guantánamo foi a retirada do título original, alterado para “Métodos coercivos comunistas para obter a colaboração individual”.

As sessões incluíam “uma profunda aula sobre os princípios de Biderman”, em referência ao artigo publicado em 1957. Versões da mesma cartilha, muitas vezes identificada como Cartilha de coerção de Biderman, circulam na internet em sites contra seitas baseadas no fanatismo religioso. Os métodos são usados nos sites para mostrar como as seitas controlam seus membros.

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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