O que o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore tem em comum com o estatístico brasileiro Antônio Marcos de Almeida? Consciência ambiental. Cada um a seu modo aderiu à neutralização de carbono. Gore vestiu a camisa, ganha para falar sobre o tema em todo o mundo e compensa a emissão envolvida com seu trabalho ao incentivar projetos florestais. Sua recente viagem ao Brasil, por exemplo, e a edição brasileira de seu livro A Verdade Inconveniente foram neutralizados.
Almeida foi o primeiro cliente da concessionária Primo Rossi, em São Paulo, a adquirir o selo “Carro Limpo”: o comprador paga por três árvores e a empresa, por outras três. Elas equivalem a uma média de quanto carbono é emitido por ano por um carro movido à gasolina numa cidade grande como São Paulo. “Compete a nós fazermos o esforço necessário para cuidar do que temos, e em algum momento é preciso começar”, diz o estatístico.
As árvores serão plantadas pela ONG SOS Mata Atlântica, dentro do projeto Florestas do Futuro, que visa à recuperação de mananciais pelo reflorestamento de espécies nativas. “Não vamos bancar 100% da neutralização porque o cidadão tem de ter consciência da responsabilidade dele”, diz Vitorinho Rossi, presidente do grupo. “Pretendemos vender mais carro com isso? Também. Mas espero mesmo é ser copiado por outras concessionárias.”
Para cada tonelada de carbono lançado na atmosfera, aplica-se um equivalente em projetos que retirem o gás da atmosfera ou que emitam muito menos do que normalmente. A iniciativa começou alguns anos atrás em países ricos que trabalham sob políticas poluidoras mais restritivas e uma consciência ambiental afinada.
No Brasil, ele deu seus primeiros passos em 2005, avançou timidamente em 2006 e promete surpresas no ano que se inicia, de forma consolidada e com projetos com o potencial de sacudir o mercado. Pequenas e grandes companhias nacionais estudam discretamente como incorporar a neutralização em suas práticas ambientais, com efeitos sentidos pelos clientes.
O cidadão que deseja neutralizar suas emissões tem dois caminhos. Um é pressionar empresas a fazerem seus inventários e preferir aquelas já comprometidas. Outro é usar calculadoras online (como a da Key Associados ou a da Green Initiative para saber quanto emite e investir em projetos florestais, como o Click Árvore.
Na Europa, a adesão de empresas e dos consumidores leva ao fortalecimento de iniciativas às vezes até inusitadas. É possível comprar de passagens aéreas a trajetos urbanos em táxis “livres de carbono”. A organização da Copa do Mundo na Alemanha calculou quanto carbono seria emitido em transporte de delegações e espectadores, mais o gasto do evento em si (da iluminação dos jogos ao lixo produzido) e investiu em projetos de desenvolvimento limpo num país em desenvolvimento.
No Brasil, esse nível de consciência está muito longe de se tornar realidade. É ainda difícil achar quem neutralize carbono – de fato, ainda é raro encontrar alguém que pense nisso.
São poucos os casos, porém crescentes. As consultorias ambientais estão confiantes. A Conferência da ONU sobre Biodiversidade, que aconteceu em Curitiba em 2006, foi neutralizada, assim como alguns shows – médios, como o do Rappa em São Paulo; festivais, como o Pop Rock Brasil; e apoteóticos, como o dos Rolling Stones. Para 2007, os pagodeiros do Jeito Moleque são os próximos.