quinta-feira, 21/11/2024
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Tem jeito, Maninha…

Foi ouvindo “Maninha” do Chico Buarque que comecei a refletir sobre a minha (e de tantos outros) infância e adolescência em Cuiabá. Especificamente no centro de Cuiabá: Praça Alencastro com a beleza das águas dançando em sua fonte luminosa. É algo imensurável, é uma sensação inebriante… (Ou éramos muito crianças; ou o espetáculo era de rara beleza). Como era fascinante andar pela Rua do Meio (Ricardo Franco), sentar na Praça da República e esperar os amigos saírem da Escola Modelo Barão de Melgaço (Palácio da Instrução)… Domingo, missa na Matriz e passear na nossa Praça… Será que o Chico Buarque estava em Cuiabá quando escreveu “Se lembra do jardim, ó maninha, Coberto de flor”…

Nossas ruelas apertadas, nossos casarões centenários, nossas praças arborizadas, enfim, nosso Centro Histórico como está? Como tem sido tratada essa importante riqueza cuiabana? Fala-se tanto em revitalização, preservação e vemos pouco ou nenhum resultado. E é por isso que precisamos pôr à baila esse tema de grande significado para nós cuiabanos, nascidos ou não aqui. Aliás, independentemente da cidade, todos temos a nossa praça, com seus jardins, seus pipoqueiros, seus olhares e sorrisos guardados em nossas lembranças… Assim, não podemos deixar que os versos tristes do Chico prevaleçam: “Pois hoje só dá erva daninha no chão que ele pisou”. O nosso passado, as nossas boas lembranças, o nosso patrimônio cultural tem que ser o presente do e para nossos filhos e netos.

Tecnicamente, existem alguns projetos de intervenção no centro histórico da capital mato-grossense. Algumas pequenas ações foram implementadas em poucas ruas, o IPHAN tem procurado agir no sentido de proteger o que resta de nossa arquitetura colonial; porém, acredito que ações isoladas, desconexas do poder público e sem a participação da sociedade civil organizada podem ser carregadas de boas intenções, mas, infelizmente, fadadas ao fracasso. Não prosperou, não prospera e nem prosperará nenhuma intervenção no centro histórico que não envolva parcela significativa da sociedade cuiabana: moradores, empresas, bancos, prefeitura etc. Em suma: nada de projetos prontos, de cima pra baixo, feitos por arquiteto que não tem ligação com os nossos valores e nossa cultura.

Mas como disse no artigo “Cuiabá (por enquanto) sinal fechado…” a crítica pela crítica não faz parte de mim; antes, exponho o problema e apresento, sempre para discussão, soluções. Acredito que se o IPDHU criasse, por exemplo, a “Associação Cuiabana do Centro Histórico Vivo” (será que a Vivo, ou outra grande empresa, não poderia ser uma grande parceira através da lei Rouanet?), essa associação seria composta de maneira eclética e plural para que todos se sentissem representados. Criar o Centro Cultural Cidadão, onde praças e prédios estivessem a serviço das pessoas, com oficinas de arte, cinema, música, exposições, inclusão digital etc. Precisa-se fazer do Centro Histórico um “lugar” ocupado por grupos sociais diversos e suas manifestações artísticas e culturais. Esse processo dá-se a partir da revitalização arquitetônica pensada pelo conjunto social e o poder público. Gostaria de cunhar a terminologia “revitalização dinâmica” para que pudéssemos compreender melhor essa proposta que foge ao senso comum e à pratica de revitalizações do nosso país.

Portanto, se vamos ou não fazer do centro, calçadões; dos casarões carcomidos e abandonados, centros de convivências; das praças esquecidas, passeios públicos… não é decisão minha ou sua; do prefeito ou do governador, mas dos agentes sociais e políticos envolvidos na “revitalização dinâmica” que todos queremos. Aí, ao entardecer, eu quero sentar no banco da nossa praça, chupando um sorvete de bocaiuva (se você não sabe tem uma sorveteria ali na Alencastro que faz o sorvete de bocaiuva mais gostoso do mundo), ouvindo Francisco Buarque de Hollanda “Se lembra do futuro que a gente combinou. Eu era tão criança e ainda sou. Querendo acreditar que o dia vai raiar, só porque uma cantiga anunciou. Mas não me deixe aqui tão sozinho a me torturar. Que um dia ele vai embora, maninha, pra nunca mais voltar”.

*Guilherme Maluf é médico e deputado estadual pelo PSDB.

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Parmenas Alt
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A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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