quinta-feira, 21/11/2024
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TCU vê pedalada e dívida escondida de R$ 3,1 bi no Fies

Uma auditoria do Tribunal de Contas da Uni&atildeo (TCU) aponta descalabro na gest&atildeo do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e dificuldades para que o programa banque os estudos de gera&ccedil&otildees futuras em institui&ccedil&otildees privadas de ensino superior. O relat&oacuterio da fiscaliza&ccedil&atildeo, julgado nesta quarta-feira em plen&aacuterio, sustenta que o governo escondeu d&iacutevida de 3,1 bilh&otildees de reais com as faculdades, praticando uma esp&eacutecie de pedalada na educa&ccedil&atildeo. Uma proje&ccedil&atildeo dos t&eacutecnicos da Corte, mas n&atildeo consta do parecer, indica que o rombo pode chegar a 20 bilh&otildees de reais no in&iacutecio da pr&oacutexima d&eacutecada.

O tribunal determinou, por unanimidade, que oito autoridades dos governos de Luiz In&aacutecio Lula da Silva e Dilma Rousseff sejam ouvidas em audi&ecircncias para explicar as irregularidades no Fies. Entre elas, est&atildeo os ex-ministros da Educa&ccedil&atildeo Fernando Haddad, atual prefeito de S&atildeo Paulo, Aloizio Mercadante e Jos&eacute Henrique Paim. Tamb&eacutem ter&atildeo de apresentar justificativas os ex-titulares do Planejamento Miriam Belchior e Nelson Barbosa. Ao fim do processo, eles podem ser punidos com multas de at&eacute 54.000 reais e inabilita&ccedil&atildeo para o exerc&iacutecio de cargos em comiss&atildeo e fun&ccedil&otildees de confian&ccedila no servi&ccedilo p&uacuteblico.

N&atildeo posso deixar de destacar minha indigna&ccedil&atildeo com o descalabro da gest&atildeo do Fies, afirmou, na sess&atildeo, a ministra Ana Arraes, relatora do processo no TCU. O trabalho de fiscaliza&ccedil&atildeo mostra que, entre 2009 e 2015, o n&uacutemero de benefici&aacuterios do programa cresceu aceleradamente, alcan&ccedilando 2,2 milh&otildees, enquanto o governo afrouxava as exig&ecircncias para a participa&ccedil&atildeo. A maior ades&atildeo, de 1,2 milh&atildeo de novos contratos, se deu entre 2013 e 2014, per&iacuteodo que antecedeu a campanha de Dilma Rousseff pela reelei&ccedil&atildeo, no qual Mercadante e Paim se alternaram no comando da Educa&ccedil&atildeo.

A flexibilidade foi tanta que, em 2013, 98% dos jovens com mais de 17 anos se enquadravam nos crit&eacuterios de renda exig&iacuteveis, situa&ccedil&atildeo que se manteve at&eacute o primeiro semestre de 2015. No ano passado, em fun&ccedil&atildeo da crise, o governo passou a restringir a participa&ccedil&atildeo. Para o TCU, houve desvirtuamento dos prop&oacutesitos do programa, com a concess&atildeo indiscriminada de cr&eacutedito sem an&aacutelise pr&eacutevia, resultado da falta de planejamento do governo.

A taxa de juros era t&atildeo baixa que, mesmo para quem podia pagar mensalidade, era mais vantajoso recorrer ao Fies e aplicar o pr&oacuteprio dinheiro no mercado financeiro. De 2010 a 2015, se descontada a infla&ccedil&atildeo, os juros praticados foram negativos, chegando a &ndash 6,57% em 2015. Estimulado por essas condi&ccedil&otildees, quem estava matriculado em institui&ccedil&otildees privadas sem depender do governo passou a pedir financiamento.

&Eacute certo que o Fies passou a ser visto n&atildeo apenas como oportunidade de acesso ao ensino superior, mas tamb&eacutem como chance de realiza&ccedil&atildeo de neg&oacutecios, registra a auditoria. O TCU aponta ainda que haver&aacute s&eacuterias dificuldades para manter a concess&atildeo de financiamentos. A inadimpl&ecircncia, em 31 de dezembro de 2015, chegava a 49% dos contratos em fase de amortiza&ccedil&atildeo &ndash desse universo, metade tinha atrasos superiores a 360 dias. O calote impossibilita o c&iacuterculo virtuoso em que a receita desses pagamentos serve para bancar novos empr&eacutestimos.

As aus&ecircncias de planejamento e do real dimensionamento dos impactos fiscais advindos da expans&atildeo do Fies levaram a aumento exponencial das despesas, incompat&iacutevel com a crise fiscal que assolou o pa&iacutes, sustenta Ana Arraes. A auditoria cita dados do Minist&eacuterio da Fazenda que indicam que, ainda que n&atildeo haja inadimpl&ecircncia, para cada 100 reais desembolsados pelo Tesouro Nacional, s&oacute 53 reais retornariam ao Fies. Apenas para manter os financiamentos assinados at&eacute 2015, ser&atildeo necess&aacuterios 55 bilh&otildees de reais at&eacute 2020.

Como consequ&ecircncia das dificuldades para sustentar os benef&iacutecios, segundo a auditoria, o governo Dilma editou uma portaria no ano eleitoral de 2014 que previa, em vez de doze pagamentos por ano &agraves principais institui&ccedil&otildees privadas do Fies (um por m&ecircs), apenas oito (um a cada m&ecircs e meio). Assim, a cada 45 dias, elas receberiam por 30. Esse mecanismo permitiu, segundo o TCU, que o governo ocultasse passivos com as faculdades, a chamada pedalada.

Entre 2010 e 2015, o governo previu no or&ccedilamento do Fies muito menos recursos que o necess&aacuterio para custe&aacute-lo, o que, conforme os auditores, mascarou as contas do programa. Em 2014, por exemplo, a previs&atildeo inicial correspondeu a 12% das despesas. A presidente Dilma, diz o relat&oacuterio, abriu cr&eacuteditos extraordin&aacuterios de forma irregular para complement&aacute-las.

O TCU indica tamb&eacutem que o programa tem sido controlado de forma rudimentar. As informa&ccedil&otildees estariam sendo monitoradas apenas mediante planilha eletr&ocircnica (Excel), escrevem. Na decis&atildeo, os ministros fazem v&aacuterias determina&ccedil&otildees para corrigir as falhas.

(Com Estad&atildeo Conte&uacutedo)VEJA.COM

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Parmenas Alt
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