Sensação de liberdade e fuga do calor – com direitos iguais aos homens sem camisa – são razões citadas para o sucesso do adereço. ‘É só um mamilo, está tapado e mesmo assim a galera fica escandalizada’, diz usuária. Assédio é a principal queixa.
“Tapa-mamilo”, “tapa-peito”, “tapa-teta”, nipple pasties, nipple tassels. São vários os nomes para o acessório que já é tendência no pré-carnaval do Rio em 2020. A moda, adotada em folias anteriores por famosas como Cléo Pires e Anitta, tem cada vez mais adeptas pelos blocos da cidade. O adorno, com várias possibilidades de estilos, cobre apenas o mamilo e garante um visual à vontade.
As meninas que usam garantem que há várias vantagens: o calor passa longe, o conforto é garantido, mas a sensação de liberdade é citada como a melhor parte de transitar pela folia com os seios enfeitados.
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A redatora publicitária Juliana Sacramento vê relação entre os seios livres e liberdade: “Quando você se sente livre, se sente mais empoderada do seu corpo e das suas escolhas”, diz — Foto: Arquivo pessoal
“Ficar de peito de fora nos lugares públicos para mim tem a ver com desafiar as normas e poder fazer o que os caras fazem, que é ficar sem blusa. Um dia, eu tirei meu biquíni no bloco com as minhas amigas e fazer isso juntas dá uma sensação de segurança. Tem a ver com se sentir livre, se sentir segura. É sobre liberdade. Como eu já tinha ficado com peito de fora no bloco antes, agora eu só enfeitei”, conta a redatora publicitária Juliana Sacramento, de 27 anos.
A artista circense Elisa Caldeira, uma das primeiras a aderir os ‘nipple pasties’ no carnaval do Rio: ‘Forma de me libertar’ — Foto: Pâmela Perez Fotogragia
A artista circense Elisa Caldeira, de 26 anos, foi uma das pioneiras no uso dos tapa-peito nos blocos de rua no Rio. Ela trouxe a referência do universo burlesco e, para ela, usar o acessório tem a ver com libertação.
“Pra mim, é mais que um acessório. Foi uma forma que eu encontrei para libertar o meu corpo de todas as formas: a vontade de mostrar meu corpo, de me achar bonita, me achar gostosa e de saber que eu tô super confortável, assim como tem caras que tão sem camisa e sem nenhum pudor. É só um mamilo, está tapado e mesmo assim a galera fica escandalizada”, diz ela, que faz os próprios adereços, sempre combinando com a fantasia que vai usar.
Para quem decide comprar, os preços variam muito. Os modelos mais baratos custam em torno de R$ 5 e alguns mais caros e de grife podem passar de R$ 150.
A dentista Natália Santos experimentou o look pela primeira vez no pré-carnaval desse ano — e pretende repetir — Foto: Arquivo pessoal
A dentista Natália Santos, de 29 anos, estreou seu primeiro tapa-mamilo neste ano, na abertura não-oficial do carnaval do Rio, no início de janeiro.
“Eu curto carnaval de rua já tem anos e sempre saí fantasiada, mas o verão no Rio é sempre muito quente e estar no meio da multidão cheia de roupa me incomodava. Esse ano, decidi ficar mais confortável e fui sem blusa mesmo, não tem porque me cobrir inteira e morrer de calor. Se não é errado um homem sair sem blusa no carnaval, não tem que ser errado para nós mulheres também”, diz ela, que adorou a experiência e vai voltar a usar.
A designer Paula Cosentino virou adepta do nipple-tassels: “Quanto mais pelada no carnaval, mais feliz eu fico e com menos calor”, diz — Foto: Arquivo pessoal
A designer Paula Cosentino, de 27 anos, não gostava muito dos próprios seios e decidiu que, no carnaval, com mais liberdade, iria tentar trabalhar melhor a relação com o próprio corpo.
“Eu queria colocar o peito para fora no carnaval única e exclusivamente porque eu posso, porque é o único espaço em que é permitido, e eu queria sentir como seria. Decidi que eu ia me empoderar dessa liberdade, não tem um homem que aguente ficar de camisa no carnaval, e quanto mais pelada eu saio, mais feliz eu fico, menos calor, menos coisa me pinicando”, conta ela, que diz que passou a se sentir mais confortável por encontrar meninas com diferentes tipos de corpos usando o adereço.
A produtora cultural Ana Carolina testou e aprovou o look — Foto: Arquivo pessoal
A produtora cultural Ana Carolina, de 30 anos, também quis experimentar o acessório e ver como se sentiria com os peitos de fora.
“Eu andava pensando nisso há alguns carnavais e me senti confortável de tentar entender como era essa liberdade para uma mulher gorda fora do padrão”, conta ela, que escolheu usar com uma blusa arrastão por cima, para compor o look.
“Evitei ir sem roupa no caminho para o bloco. Quando estava voltando, passei por um evento fora do ambiente que eu estou acostumada a andar, e recebi olhares e risadas de reprovação”, conta ela.
Assédio incomoda
Ana Carolina não é a única que precisou lidar com situações desagradáveis. As meninas que aderem à moda sempre vão vestidas no trajeto até o bloco e tiram a blusa apenas quando chegam lá e se sentem à vontade para ficar só com o adereço.
Isso porque, embora no ambiente dos blocos alternativos o acessório esteja em alta, pegar transporte público e andar pelas ruas nem sempre é tranquilo.
“Eu costumo sempre usar um lenço ou amarrar um pano entre um bloco e outro, já passei por situações desagradáveis. Uma vez, eu estava na perna de pau, usando tassels e um cara já beijou minha bunda”, lembra ela.
Procurar ficar em “lugares seguros” também é uma preocupação.
“Acho que nunca poderia chegar de nipple tassel em um mega bloco, porque já presumo que o tipo de cara que frequenta esse bloco vai achar que meu corpo é propriedade pública. Em blocos alternativos, de alguma forma, há mais segurança. Não que seja alguma garantia, mas eu percebo que rola uma sensação de rede de segurança, sei que posso recorrer a quem está ali em volta caso algo aconteça”, diz Juliana.
Na Sapucaí, moda já pegou
Cléo Pires foi a camarote com corações cobrindo os seios — Foto: Gabriel Barreira/G1
Em ambientes fechados, como camarotes e em desfiles da avenida, a moda de mamilos cobertos já vem fazendo sucesso há alguns carnavais entre as famosas. Em 2018, Cléo Pires usou um em um camarote para assistir aos desfiles e outras famosas também já foram vistas com o look bem à vontade. Anitta também usou um mais básico, dourado, durante a folia em um ano anterior.
Em Salvador, Anitta cobre apenas os mamilos e sensualiza em foto — Foto: Reprodução/Instagram
A diferença é que as folionas que vêm tomando as ruas estão em espaços públicos e, consequentemente, mais expostas. A atitude, que afirma igualdade e liberdade, exige respeito pelos corpos das mulheres que curtem o carnaval de rua do Rio.
E como faz para colar?
Colar os acessórios pode ser um desafio: precisa fixar de forma que não solte e, ao mesmo tempo, não pode machucar o mamilo.
Os materiais mais usados para garantir que o adereço dure até o final da folia são a cola para perucas e a cola para cílios, no entanto, a dermatologista Simone Stringhini alerta para o uso desses materiais.
“A cola de peruca cola bem, mas pode machucar a pele e danificar o mamilo. Já a cola para cílios é menos forte e não segura tanto, mas, mesmo assim, não tem nenhum tipo de cola que não corra o risco de machucar a pele, porque a pele do mamilo é muito sensível e mais suscetível a machucados”, explica ela.
O que fazer, então? “Uma opção de material seguro para o mamilo é o do sutiã que cola, do tipo que se usa somente na frente do peito. Alguns vendem em farmácia e são pequenininhos e só do tamanho do mamilo. A menina pode usar esse tapa-mamilo e colar o nipple pasties no tapa mamilo, com uma cola bem forte, porque não terá contato direto com a pele”, indica.
Arte mostra as diferenças entre os acessórios que cobrem os mamilos — Foto: Editoria de Arte/G1