Em um dos anexos de sua delação premiada ao Ministério Público Federal (MPF), já homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) acusa o secretário de Estado de Cidades Wilson Santos (PSDB) de tentar lhe vender a candidatura ao cargo de governador por R$ 10 milhões, no ano de 2010.
As declarações foram feitas à procuradora da República Vanessa Zago, no dia 18 de maio deste ano.
Conforme Silval, durante a campanha ao governo, em 2010, havia três candidatos com potencial de vencer o pleito: o próprio Silval Barbosa, Wilson Santos (PSDB) e Mauro Mendes (PSB), sendo que Wilson era o favorito no início da campanha.
Já no final dela, em setembro daquele ano, o ex-governador cresceu nas pesquisas de intenção de votos e a disputa passou a ser entre ele e Mauro Mendes. Wilson Santos passou para o terceiro lugar nas pesquisas. Por conta disso, o coordenador da campanha do tucano, Oswaldo Sobrinho, teria agendado uma reunião com Silval Barbosa, insistindo que Wilson precisava falar algo importante com o peemedebista.
A reunião ficou marcada para ocorrer no apartamento de Sobrinho, próximo ao Goiabeiras Shopping, em Cuiabá, onde Wilson Santos pediu para conversar sozinho com Silval, segundo o delator. Na ocasião, ele teria perguntado se Silval gostaria de ganhar no primeiro turno ou correr o risco de ir para o segundo turno.
Conforme a delação do ex-governador, Wilson Santos lhe contou que Mauro Mendes estava procurando o apoio dele a fim de que o tucano além de apoiá-lo, também se virasse contra Silval Barbosa, “sendo mais ostensivo e agressivo”, aumentando as chances de Silval perder a eleição.
Tal atitude de Wilson Santos estaria sendo negociada com Mauro Mendes pelo preço de R$ 10 milhões, mas o tucano teria dito que estava dando preferência para Silval Barbosa porque “para ele seria melhor politicamente, haja vista que no ano de 2008 ele havia sido adversário político de Mauro Mendes, contudo desde que lhe fosse entregue o mesmo montante”, diz trecho do termo de delação de Silval.
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Na ocasião, Silval teria dito que não tinha como pagar aquele valor, que poderia chegar até R$ 5 milhões, mas nada ficou acordado e eles marcaram outra reunião para três dias depois.
O ex-governador relata que no segundo encontro, que também teria ocorrido no apartamento de Oswaldo Sobrinho, Wilson Santos pediu novamente para conversar a sós com Silval Barbosa, continuando a cobrar o valor de R$ 10 milhões, ao passo que Silval ofereceu R$ 7 milhões, mas novamente não chegaram a um acordo. Wilson apenas teria ficado de dar uma resposta posterior para Silval, o que acabou não ocorrendo.
Dias depois, o ex-governador percebeu que Wilson Santos passou a agredi-lo em entrevistas e debates que participava “muito mais do que o candidato Mauro Mendes, deduzindo com essas condutas, que ele, Wilson, havia firmado acordo com Mauro Mendes” para agir conforme havia relatado no primeiro encontro que teve com Silval no apartamento de Oswaldo Sobrinho.
Wilson rebate e diz oferta partiu de Silval
Por meio de nota, o secretário de Estado Wilson Santos acusou Silval Barbosa de tentar inverter os fatos, dizendo que o próprio ex-governador confessou ao MPF que cooptou seus aliados, como o deputado estadual Guilherme Maluf (PSDB), o então candidato a vice-governador em sua chapa Dilceu Dal Bosco e Júlio Campos (ambos DEM) e que, da mesma forma, tentou cooptá-lo também.
Chico Ferreira/ A Gazeta Wilson Santos |
Wilson destacou que em nenhum momento de sua vida recebeu qualquer contribuição financeira ou política de Silval Barbosa. Confira a nota na íntegra:
Esclareço à sociedade que o Sr. Silval Barbosa, réu confesso em mais de 50 crimes contra o patrimônio do povo mato-grossense, tenta inverter os fatos. Foi ele que confessou perante o Ministério Público Federal (MPF) que cooptou o Deputado Guilherme Maluf, o meu vice de chapa – Dilcel Dal Bosco, o Júlio Campos, e outros. E nessa linha criminosa tentou me cooptar.
Saliento que nunca, em momento algum da minha vida pública e privada e em todas as minhas campanhas eleitorais em Cuiabá e Mato Grosso, jamais recebi qualquer contribuição financeira ou política do Sr. Silval Barbosa. Aliás, ele próprio declara em sua delação ao Ministério Público Federal que não fez nenhum tipo de acordo comigo, financeiro nem político.
Osvaldo Sobrinho admite reuniões entre adversários
Osvaldo Sobrinho por sua vez, afirma que pode ser que tenha havido a reunião em sua casa, mas nega que tenha participado da conversa entre Wilson Santos e Silval Barbosa. “Reunião deve ter existido, mas eu saber dessa conversa, eu nunca soube. Estou sabendo agora. O ex-governador deixa bem claro que eu não participei dessa conversa”, disse ao Gazeta Digital.
Marcus Vaillant Osvaldo Sobrinho |
Questionado se não seria estranho o fato de dois adversários políticos se encontrarem para conversar a sós em plena campanha eleitoral, Osvaldo negou. “Na política isso não é estranho. Às vezes conversa pra botar rumo na campanha, às vezes a campanha está muito agressiva e não vai levar a nada, sempre os candidatos fazem isso”, explicou.
Ele também não soube dizer se a reunião teria mesmo ocorrido em sua casa porque, segundo ele, o local sempre é ponto de encontros com a classe política. “Eu não sei se foi na minha casa. Eu já fui coordenador de várias campanhas e não sei o que as pessoas conversam separadamente. Na minha frente, não conversaram sobre esse assunto. O Wilson toda semana está na minha casa, ele é meu amigo, a gente sempre conversa a todo tempo. Eu sempre tive relações com toda a classe política, eu não tenho inimigos, só tenho amigos na política. Agora, essa conversa eu não sei em que época em que momento eles conversaram isso. Silval já veio na minha casa vária vezes, veio. Wilson Santos também vem. O político tem que estar aberto a conversa sempre. Eu não sou diferente, tenho 42 anos de vida pública, então converso na minha casa, converso na casa dos outros”, afirmou.
Gazeta Digital