Sem salário há quatro meses, quase 200 funcionários da Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico na Área de Saúde (FunSaúde)
entraram em greve na segunda-feira (31) e agora correm o risco de perderem o
emprego. Os prestadores de serviço da Fundação Nacional de Saúde (Funasa)
contratados por um convênio com a Universidade de Brasília (UnB) terão seus
contratos reavaliados e suas rescisões já são calculadas pela Ong.
Com o impasse do atraso dos pagamentos, a Funasa revogou o contrato com a
UnB e os servidores estão incertos em relação à manutenção de seus empregos.
A solução seria uma nova contratação através de outra Ong, mas ainda não há
perspectiva para resolver essa questão. A demissão dos grevistas ainda não
foi feita oficialmente, mas o contrato com a FunSaúde já foi encerrado.
Para Carlos Alberto de Almeida, presidente do Sindicato dos Servidores
Públicos Federais de Mato Grosso (Sindsep-MT), a Funasa deveria ter tomado
essa atitude anteriormente e não ter deixado a situação chegar na proporção
atual, da mesma forma que faz com as más condições de trabalho, com a falta
do fornecimento de alimentos e medicamentos, com a dificuldade de
transporte, bem como com a morosidade na realização de exames ou tratamentos
de saúde mais simples.
Apesar da incerteza, os manifestantes comemoram uma conquista: A Funasa tem
até amanhã para depositar R$ 949,9 mil referente aos salários e benefícios
numa conta corrente judicial, de acordo com a decisão do 23ª região do
Tribunal Regional do Trabalho (TRT), do juiz José Hortêncio Ribeiro Júnior,
de Barra do Garças. Segundo o servidor da FunSaúde, Gilson Gonzaga, por um
lado se comemora a liminar, mas ao mesmo tempo é nítido o sentimento de
insegurança entre os trabalhadores.
Hoje pela manhã, 60 servidores se reuniram numa assembléia em Barra do
Garças e decidiram por votação que irão manter a greve até que o dinheiro
seja depositado. Enquanto isso, o grupo faz vigília na frente da Funasa na
expectativa de uma nova negociação sobre o futuro de trabalho.
Desde segunda-feira (31), sete unidades do Distrito Sanitário Especial
Indígena (Dsei) ligados à Funasa tiveram suas atividades interrompidas em
Mato Grosso. Ao todo, os pólos de Barra do Garças, Campinápolis, Água Boa,
Nova Xavantina, Primavera do Leste (Sangradouro) e Paranatinga atendem mais
de 13 mil índios da etnia xavante nas mais diversas áreas, que passam por
tratamento de saúde, odontológico e assistência social.
A situação dos manifestantes contrasta com gastos descobertos recentemente
em auditoria feita pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDF) nas
contas da FunSaúde. O dinheiro que deveria ser usado na melhoria do
atendimento à saúde dos povos indígenas financiou viagens nacionais e
internacionais, festas, jantares e artigos de luxo, segundo promotores de
Justiça. Entre os beneficiários estão o reitor e o vice-reitor da UnB,
Timothy Mulholland e Edgar Mamiya, de acordo com a investigação.
“Isso é resultado de uma política sem clareza na prestação de contas dessas
Ongs o que resulta no atraso do repasse. Para receber o recurso, a Funasa
precisa aprovar o balancete, o que não vem ocorrendo porque sempre são
apresentados com inúmeras irregularidades”,acrescentou o presidente do
Sindsep-MT.
A diretoria da Funasa de Mato Grosso não quis dar entrevista seguindo a
orientação recebida de Brasília. Há quase dois meses o Sindsep-MT recebeu
denúncias sobre a precariedade da infraestrutura e esteve na Casa de Saúde
Indígena (Casai) de Cuiabá para averiguar as informações. Desde então, é
solicitado à Funasa e ao Ministério da Saúde informações sobre os repasses
financeiros para à saúde dos índios, mas as Pastas se negaram a responder.
Thaís Raeli/ Da Assessoria