Coisa rara esse fenômeno experimentado na eleição do Pedro Taques. Movido por desejos populares de mudança no modo de fazer política, enfrentou máquinas poderosas e venceu.
Tinha ao seu lado (como insumos da campanha) a vontade do povo e uns ‘caraminguás’ doados por criadores de suíno e donos de postos de gasolina.
Mas logo após revelada a vontade das urnas ele ficou irreconhecível. Marcou o ‘chá das cinco’ com ‘rei da soja’ e adotou agenda diversa da que lhe fora confiada pela vontade popular.
Triste começo.
O mandato parlamentar é uma das mais vigorosas expressões do poder popular, a tanto que a Constituição Federal confere aos parlamentares prerrogativas não concedidas a mais ninguém. Liberdade de fala, de voto, imunidade parlamentar são exemplos de garantias concedidas aos integrantes do legislativo.
Nesse ponto, o Senado Federal é espaço mais que privilegiado.
Pedro Taques chegou lá prometendo mudanças. Dizia: “Comigo Brasília nunca mais seria a mesma”. Mas (lá chegando) não inovou em nada. Repetiu o discurso de Gilmar Mendes contra Cesare Battisti, contrariando Luis Roberto Barroso e Luis Flavio Gomes, juristas como ele, cuja opinião (jurídica) foi vencedora no Supremo Tribunal Federal (prevaleceu a lei).
Igualzinho a um ‘Antero de Barros’ transgênico, que gosta de processar correligionários e jornalistas que dele divergem, Taques disse que nosso país é ‘cafofo’ de bandido.
Ignorou que os grandes delinqüentes não habitam ‘cafofos’. Preferem confortáveis mansões no Lago do Manso (Mato Grosso), Jardins (São Paulo) ou Lago Paranoá (em Brasília).
A última (mais recente) do senador é digna de folclore: o ataque ao CNJ.
Taques mantém silencio de ‘padre em confessionário’ quando o assunto é a corrupção dos juízes mato-grossenses. Ignora que há mais de quatro anos estão expostas as vísceras do judiciário. Que há desembargadores afastados, sob acusação de crime comum. Pululam notícias de corretagens eleitorais. Tem defunto que ressuscita e participa de audiência no fórum, assina cheque, faz acordo milionário etc.
Mas nada disso foi objeto nem mesmo de um ‘discursinho básico’ na tribuna, proferida pelo senador Taques.
Mas, sem querer (?) ele acaba por atender ao desejo de juízes corruptos e ataca violentamente o Conselheiro do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), advogado Jefferson Kravchychyn, barrando sua recondução ao Conselho.
Coisa muito estranha. Eleito para combater a corrupção, Pedro Taques ataca aquele que combate a corrupção onde ela sempre foi escondida sob tapetes persas (tribunais). Se não for coisa de um Antero transgênico, pode ser manifestação genérica do Jaime Campos.
A bancada de Mato Grosso no Senado Federal é interessante. Blairo Maggi defende agrotóxico, multinacionais e dossiês contra adversários políticos. Jaime Campos defende ‘elefantes brancos’, os criadores de vaca, e perdão para os desvios de R$ 14 milhões das obras do Hospital Central de Cuiabá.
E Pedro Taques, defende o que?
*Vilson Nery e Antonio Cavalcante Filho são militantes do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral) Comitê de Mato Grosso