Na condição de repórter, cronista ou de gente mesmo já vi habeas corpus para tudo nesse mundo, uns bem justos, outros do jogo do poder etc. Habeas corpus para soltar honestos, habeas corpus para livrar bandidos, habeas corpus para reparar injustiças… Enfim, em muitos plantões em portas de cadeias ou xilindrós de bacanas, já vi de quase tudo no gênero. Mas nada como a necessidade de um habeas corpus para uma mãe recuperar o direito sagrado e de berço de amamentar a própria filha, uma criatura de apenas dois meses. Camila, a mãe, 24 anos, está presa em Santo Antônio da Posse, aqui no interior de São Paulo, por envolvimento com o tráfico de drogas, como milhares de jovens do seu tempo.
Na cadeia, a mãe tirava o leite e jogava fora, como descreve a reportagem estarrecedora, para dizer o mínimo dos mínimos, de Gilmar Penteado, na Folha [para assinantes do jornal e do UOL]. “Você fica tonta, procurando o filho sem parar”, disse ela. Mesmo com a amamentação assegurada nas tábuas da lei –aliás qualquer carrasco que se preze não tentaria violar um direito desses!-, os xerifes da Secretaria de Segurança Pública paulista proibiram as detentas que esperam julgamento de amamentar seus meninos. Duas delas acusam a polícia de induzi-las a tomar uma injeção cujo efeito é suspender a produção do leite materno. Só o sussurro do vento d´O Coração das Trevas para explicar o que se passa na mente de autoridades como estas: “O horror!, O horror!”
