Os números são alarmantes. Segundo os dados mais recentes do Ministério da Previdência Social, de 2007, a cada 3 horas uma pessoa morreu em decorrência de um acidente no local de trabalho.
A cada dia, 31 trabalhadores tornam-se incapazes de trabalhar devido a acidentes fatais ou que levam à invalidez. E os dados podem ser ainda piores, já que as estatísticas não registram os trabalhadores sem carteira assinada, que representam 38% da força de trabalho brasileira, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O drama das famílias que perdem um ente querido é incalculável. Já as despesas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com o pagamento de benefícios são mensuráveis – e passaram dos R$ 46 bilhões em 2008. “Não é um problema exclusivo deste Governo”, ressalta Nelson Agostinho Burille,
presidente da Associação Ibero-Americana de Engenharia e Segurança do Trabalho: “O empregador não se importa com a segurança do trabalhador.
Ele instala ar-condicionado para o conforto dos computadores, mas não se importa com o conforto do funcionário”, avalia.
Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do Estado de São Paulo
(Sintracon/SP), concorda. Para ele, a situação ficou ainda pior no último ano, já que “com o ‘boato’ da crise financeira, os empresários cortaram gastos onde não deviam”.
Além da responsabilidade dos empresários, Ramalho acredita que o problema está na falta de empenho do poder público. “Em São Paulo, por exemplo, há uma procuradora para 29 mil empresas. Catorze auditores para mais de 10 mil canteiros de obras”, contabiliza Ramalho.
O operário Milton Francisco Souza foi uma dessas vítimas. Em março deste ano, ele subiu até o 11º andar de um prédio em construção sem cinto de segurança. Tropeçou, caiu e morreu. Maria de Souza, viúva dele, afirma que o marido sempre usava o cinto, mas que naquele dia deve ter se esquecido. Mesmo assim, ela acredita que a culpa do acidente é da empresa, que permitiu que ele corresse o risco. “Se a empresa tem um encarregado, é para ver essas coisas”.
Ela tentar obter indenização na Justiça.A falta de atenção foi apontada em pesquisa realizada pelo Sintracon/SP entre trabalhadores da construção civil como o principal motivo para os acidentes, mas o presidente da organização acredita que o trabalhador se responsabiliza sem perceber que a falta de atenção tem a ver com condições inadequadas, como excesso de horas de trabalho.
A falta de treinamento e de normas rígidas de funcionamento das máquinas é apontada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação como causa principal para que o setor lidere o ranking de acidentes. “Quando a fiscalização chega, as máquinas são colocadas na velocidade ideal. Assim que eles viram as costas, a velocidade aumenta conforme a necessidade de produção”, afirma Artur Bueno de Camargo, presidente
da Confederação.
Mau exemplo
Apenas este ano, 12 operários da construção civil paulista morreram em canteiros de obras pela cidade. Destas mortes, quatro foram em obras públicas. “Além de não fiscalizar, eles não exigem nas licitações a existência de plano de segurança”, explica Ramalho.
“Os órgãos públicos são os primeiros a não dar exemplo. Eles não têm departamento de segurança de trabalho. E embora desde 1944 exista um decreto criando o cargo de engenheiro do trabalho como carreira pública, até hoje, isso não foi implementado”, acrescenta Burille.
F.Uni/Gisele Brito