domingo, 22/12/2024
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Salários e concursos: como a PEC 241 pode afetar o funcionalismo público

&39Se vai ter cortes na escolas e nos hospitais, por que n&atildeo nos benef&iacutecios dos funcion&aacuterios p&uacuteblicos?&39

Essa &eacute a pergunta que vem se multiplicando nas redes sociais desde que o governo Michel Temer apresentou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que pretende amenizar o rombo nas contas p&uacuteblicas.

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Na ter&ccedila-feira, o texto foi aprovado em segundo turno pelo plen&aacuterio da C&acircmara e agora segue para o Senado. Ele estabelece um teto para o crescimento das despesas p&uacuteblicas federais e tem recebido muitas cr&iacuteticas por alterar o financiamento em duas &aacutereas essenciais para o bem-estar da popula&ccedil&atildeo: sa&uacutede e educa&ccedil&atildeo.

Mas como a PEC afeta os servidores federais?

Segundo especialistas consultados pela BBC Brasil, h&aacute tr&ecircs tipos de impacto.

O primeiro deles est&aacute descrito na proposta: caso o limite de gastos seja descumprido por um Poder (Executivo, Legislativo e Judici&aacuterio) ou &oacuterg&atildeo, o mesmo n&atildeo poder&aacute conceder aumentos para seus funcion&aacuterios nem realizar concursos p&uacuteblicos. Outras san&ccedil&otildees s&atildeo impedir a cria&ccedil&atildeo de b&ocircnus e mudan&ccedilas nas carreiras que levem a aumento de despesas.

As medidas funcionam como uma forma de puni&ccedil&atildeo se a conta n&atildeo fechar.

H&aacute tamb&eacutem consequ&ecircncias que n&atildeo s&atildeo citadas na PEC, mas podem vir ap&oacutes sua implementa&ccedil&atildeo, como o congelamento de sal&aacuterios e uma discuss&atildeo maior sobre distor&ccedil&otildees do funcionalismo p&uacuteblico do pa&iacutes.

Sal&aacuterios congelados

De acordo com os especialistas, existe a possibilidade de que, com a aprova&ccedil&atildeo da proposta, os funcion&aacuterios p&uacuteblicos deixem de ganhar reajuste e n&atildeo tenham suas remunera&ccedil&otildees corrigidas pela infla&ccedil&atildeo – mesmo com o cumprimento do teto.

Zeca Ribeiro/C&acircmara dos Deputados – 25.10.2016

Deputados aprovaram o texto da PEC em segundo turno ap&oacutes passar pela C&acircmara, mat&eacuteria vai para aprecia&ccedil&atildeo no Senado

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Isso acontece porque o teto &eacute global e vale para todos os custos de um Poder ou de um &oacuterg&atildeo. Dessa forma, se o Executivo tiver que dar mais verba para as escolas, por exemplo, poder&aacute segurar as remunera&ccedil&otildees de seus empregados.

Na pr&aacutetica, isso equivaleria a reduzir os sal&aacuterios, porque a infla&ccedil&atildeo – medida pelo IPCA (&Iacutendice Nacional de Pre&ccedilos ao Consumidor Amplo – &eacute quanto poder de compra o dinheiro perde determinado per&iacuteodo. Sem a corre&ccedil&atildeo, &eacute como se o pagamento diminu&iacutesse, porque o mesmo valor compra menos que antes.

Em 2015, 20% das despesas do governo federal foram com pessoal. O percentual deve crescer mais com os aumentos concedidos neste ano.

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Em julho, o presidente Michel Temer sancionou uma lei que concedeu reajuste de at&eacute 41,47% nos sal&aacuterios dos servidores do Judici&aacuterio e aumento de 12% para analistas e t&eacutecnicos do Minist&eacuterio P&uacuteblico da Uni&atildeo.

No entanto, o que mais prejudica as contas p&uacuteblicas &eacute a Previd&ecircncia desse grupo de mais de 2 milh&otildees de pessoas, das quais 44% s&atildeo aposentados ou pensionistas.

Mudan&ccedilas na Previd&ecircncia

Segundo c&aacutelculos do professor de economia da FGV e PUC-SP Nelson Marconi, no ano passado os benef&iacutecios pagos a servidores federais somaram R$ 105 bilh&otildees.

Como as contribui&ccedil&otildees de quem est&aacute trabalhando n&atildeo cobrem esse montante, h&aacute um d&eacuteficit de R$ 92,9 bilh&otildees, pr&oacuteximo ao rombo de R$ 90,3 bilh&otildees do INSS. A diferen&ccedila &eacute que o primeiro atende 980 mil pessoas e o segundo, 32,7 milh&otildees – &eacute onde est&atildeo os profissionais da iniciativa privada.

Com uma participa&ccedil&atildeo t&atildeo expressiva na crise fiscal do pa&iacutes, o fundador e secret&aacuterio-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, n&atildeo v&ecirc outra escapat&oacuteria a n&atildeo ser mexer no funcionalismo.

&quotPela magnitude do problema, n&atildeo adianta imaginar que o governo pode reequilibrar despesas cortando passagem a&eacuterea, vigil&acircncia, seguran&ccedila, como disse nas outras vezes. Dessa vez vai ter que acertar os grandes grupos de despesas.&quot

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Esse controle, no entanto, est&aacute atrelado a altera&ccedil&otildees no regime previdenci&aacuterio, uma das principais fontes de gastos.

&quotComo os valores de aposentadoria t&ecircm evolu&iacutedo ao longo dos anos, para que o teto funcione e n&atildeo leve ao corte de outras despesas em sa&uacutede, educa&ccedil&atildeo e investimento, &eacute preciso acontecer uma reforma da Previd&ecircncia. Se uma continuar a subir, vai ter que contrair a outra&quot, afirma Marconi.

Para Gil Castello Branco, diante da import&acircncia de sa&uacutede e educa&ccedil&atildeo, que receberam um tratamento diferente nas regras da PEC, os funcion&aacuterios n&atildeo devem ser poupados. Ambas as &aacutereas s&oacute entram no teto em 2018.

&quotA despesa com pessoal n&atildeo &eacute priorit&aacuteria. Est&aacutevamos discutindo se o or&ccedilamento de 2016, corrigido pela infla&ccedil&atildeo, seria suficiente para sa&uacutede e educa&ccedil&atildeo, e vimos que n&atildeo. Por isso, veio esse tratamento especial. Se estamos aumentando os gastos ali, n&atildeo vamos podemos fazer isso com os servidores.&quot

Miss&atildeo do funcionalismo

Para os entrevistados, a proposta pode levantar uma discuss&atildeo sobre privil&eacutegios e distor&ccedil&otildees no funcionalismo.

Um levantamento realizado pelo professor Nelson Marconi mostrou que empregados da &aacuterea p&uacuteblica ganham mais do que os da iniciativa privada em todos os n&iacuteveis de escolaridade. Entre os que t&ecircm ensino m&eacutedio, por exemplo, essa lacuna era em m&eacutedia 44% no ano passado.

Gil Castello Branco, da Contas Abertas, cita os sal&aacuterios alt&iacutessimos de algumas carreiras e o sonho dos jovens de entrar em &oacuterg&atildeos p&uacuteblicos apenas pela estabilidade como algumas distor&ccedil&otildees produzidas pelo atual sistema.

&quotJ&aacute houve mat&eacuterias mostrando gar&ccedilom do Senado ganhando R$ 15 mil. H&aacute margem, por esses valores estratosf&eacutericos, para voc&ecirc rediscutir a estrutura de cargos e sal&aacuterios&quot, diz.

&quotEm Bras&iacutelia, por exemplo, h&aacute uma distor&ccedil&atildeo grave a ser corrigida quando se observa que o sonho de dez em dez jovens &eacute fazer um concurso p&uacuteblico. O jovem quer ingressar numa carreira do Executivo, Judici&aacuterio ou Legislativo, independentemente da voca&ccedil&atildeo.&quot

Branco acrescenta que, por j&aacute entrarem ganhando muito e n&atildeo terem progress&atildeo de sal&aacuterio, nem avalia&ccedil&atildeo de desempenho, muitos profissionais se sentem desmotivados. E acabam se acomodando.

A estabilidade no cargo, diz a economista-chefe da XP Investimentos Zeina Latif, tamb&eacutem seria um ponto a ser discutido. Ela argumenta que, ao ter essa garantia, o funcion&aacuterio deveria come&ccedilar com um sal&aacuterio mais baixo, para estimul&aacute-lo a se desenvolver.

Segundo Latif, uma sa&iacuteda seria adotar valores do setor privado como a &quotmeritocracia e a concorr&ecircncia&quot. Essas pr&aacuteticas, ela diz, j&aacute est&atildeo presentes em pa&iacuteses como Dinamarca, Reino Unido, Su&iacute&ccedila e M&eacutexico.

&quotCom o teto, a gente vai precisar discutir prioridades e o inc&ocircmodo em rela&ccedil&atildeo a qu&atildeo caro &eacute o nosso funcionalismo vai ficar mais expl&iacutecito. Se a sociedade come&ccedila a se incomodar com a estabilidade no setor p&uacuteblico quando h&aacute tanta gente desempregada, a discuss&atildeo pode se tornar uma pauta pol&iacutetica.&quot

Mas os entrevistados se mostram c&eacuteticos quanto &agrave capacidade do governo Temer de implementar mudan&ccedilas tendo em vista a press&atildeo dos grupos interessados e da instabilidade pol&iacutetica do pa&iacutes.

&quotN&atildeo v&atildeo conseguir comprar tanta briga ao mesmo tempo. N&atildeo v&atildeo mexer em tantas reformas. N&atildeo tem estabilidade e n&atildeo d&aacute tempo&quot, diz Nelson Marconi.

Membros do Legislativo e do Judici&aacuterio t&ecircm for&ccedila para inviabilizar esse debate e ainda garantir reajustes durante uma crise fiscal, argumenta a coordenadora de Pesquisas do Dieese (Departamento Intersindical de Estat&iacutestica e Estudos Socioecon&ocircmicos), Patr&iacutecia Pelatieri.
Isso porque t&ecircm mais autonomia e quest&otildees relacionadas a aumentos, por exemplo, s&atildeo legisladas ou julgadas por eles mesmos.

&39Nem todos s&atildeo maraj&aacutes&39

Ao mesmo tempo, Pelatieri pondera que o funcionalismo p&uacuteblico federal n&atildeo &eacute homog&ecircneo e acha que &eacute injusto dizer que toda a m&aacutequina &eacute inchada.

&quotNem todos os funcion&aacuterios t&ecircm tratamento ison&ocircmico, alguns podem ter reajuste mais forte em detrimento de outras categorias. Quem trabalha nos minist&eacuterios, na sa&uacutede, na educa&ccedil&atildeo, n&atildeo tem o mesmo poder de quem trabalha no Legislativo, no Banco Central, na Receita.&quot

Segundo a pesquisadora, sem espa&ccedilo para o crescimento da folha de pagamento e com as san&ccedil&otildees previstas na PEC, o teto deve levar &agrave redu&ccedil&atildeo do n&uacutemero de funcion&aacuterios p&uacuteblicos, o que poderia poderia afetar ainda mais os hospitais e escolas do pa&iacutes.

&quot&Eacute uma parte do funcionalismo federal a que tem sal&aacuterios muito mais elevados do que n&oacutes, reles mortais. N&atildeo d&aacute para colocar tudo num saco de maraj&aacutes.&quot

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Parmenas Alt
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