As eleições presidenciais de 12 de junho no Irã, vencidas pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad apesar dos protestos da oposição, que já duram mais de uma semana e provocaram ao menos 18 mortes em confrontos, chamam a atenção da comunidade internacional porque vão pautar as futuras relações entre o regime iraniano e o governo do novo presidente dos EUA, Barack Obama.
Obama acenou ao governo de Teerã com um “novo começo” nas negociações sobre a questão nuclear, o apoio ao terrorismo e a rivalidade entre Irã e Israel, cumprindo assim promessa de campanha.
Os EUA não têm relações diplomáticos com o Irã desde 1979, quando a revolução islâmica tomou o poder no país.
Obama chegou a enviar uma mensagem direta às autoridades e ao povo iraniano: um vídeo gravado por ocasião do ano novo persa, em que ofereceu um “novo começo”, caso o Irã decida cumprir seus compromissos internacionais.
O atual presidente americano sempre insistiu que não tem “ilusões” sobre a natureza do regime iraniano e reconheceu que uma normalização das relações, caso realmente se consiga, seria algo muito difícil e levará tempo.
Obama antecipou,após uma reunião em 18 de maio com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que, até o fim do ano, será possível determinar o caminho que guiará a aproximação.
Se não forem alcançados avanços, segundo Obama, os EUA considerariam o endurecimento das sanções atuais, mas, em todo caso, era preciso esperar o resultado das eleições no Irã.
No pleito, se enfrentaram o presidente Ahmadinejad, que busca a reeleição após quatro anos de contínuo confronto com o Ocidente, e o ex-primeiro-ministro reformista Mir Hussein Moussavi.
Moussavi afirmou que, se vencesse, aproveitaria a oferta de aproximação americana. Já o que vai ser feito por Ahmadinejad, se confirmada sua vitória, está menos claro.
A situação foi complicada pelo episódio protagonizado pela jornalista americano-iraniana Roxana Saberi, detida em abril e que, após um julgamento de um dia, foi condenada a oito anos de prisão por espionagem. Ela acabou tendo sua sentença diminuída, foi libertada e voltou aos EUA.
Uma aproximação nas relações entre Teerã e Washington representaria um verdadeiro marco nos laços entre os dois países, inexistentes desde que estudantes radicais tomaram a Embaixada dos EUA no Irã em 1979 e fizeram 63 pessoas de reféns durante 444 dias.
Em 1986, veio à tona o escândalo sobre as conversas secretas entre Washington e Teerã para o envio de armas à República Islâmica, em troca de ajuda na libertação de reféns americanos no Líbano, que geraram a maior crise do Governo de Ronald Reagan.
A relação ficou ainda pior quando um porta-aviões americano lançou por engano um míssil contra um avião de passageiros iraniano em 1988.
A Guerra do Golfo, onde o Irã adotou uma posição neutra, abriu a primeira possibilidade de aproximação. Em setembro de 2000, a então secretária de Estado, Madeleine Albright, reuniu-se com o chanceler iraniano, Kamal Kharrazi, na ONU, no que foi a primeira vez que ocorreu esse tipo de conversa desde 1979.
A chegada ao poder de George W. Bush, que colocou Teerã junto a Pyongyang (Coreia do Norte) e Bagdá (Iraque) no “eixo do mal”, e as denúncias da CIA (agência de inteligência americana) de que o Irã preparava um programa nuclear colocaram fim a esses contatos.
As conversas só seriam recuperadas, ainda que de forma moderada, após a invasão do Iraque, quando os embaixadores dos dois países em Bagdá se reuniram em maio de 2007 para discutir sobre a segurança do Irã.
Qualquer outro contato foi condicionado a que o Irã renunciasse a seu programa nuclear. O resultado das eleições pode representar a melhor oportunidade até agora para uma aproximação de dois velhos inimigos.
g1