Invasão completa uma semana nesta quarta; Moscou também tem que lidar com sanções e faz ameaças nucleares
A invasão russa à Ucrânia completa uma semana nesta quarta, 2. Após um rápido avanço inicial, as forças da Rússia encontraram dificuldades para tomar o controle de cidades em razão da forte resistência das tropas ucranianas, mas prosseguem com os bombardeios na capital Kiev, na segunda maior cidade do país, Kharkiv, e em outros municípios. Por outro lado, as sanções econômicas impostas pelas potências ocidentais em represália à invasão prejudicaram o país e levaram o governo russo a ameaçar utilizar seu arsenal nuclear, o que poderia resultar em uma tragédia sem precedentes.
Nesta terça, 1º, o Kremlin divulgou o primeiro número de baixas no exército e, segundo o Ministério da Defesa da Rússia, um total de 498 soldados morreram nos últimos sete dias de combate contra a resistência ucraniana e outros 1.597 ficaram feridos. O porta-voz do governo de Vladimir Putin também afirmou que os “militares e nacionalistas” da Ucrânia já tiveram “2.870 mortos e cerca de 3.700 feridos.”
Prever qual a tática russa seria usada após o início da invasão não é tarefa fácil, mas após as duras sanções econômicas implementadas, a sensação é de que Putin pode dobrar a aposta para tentar “liquidar” o conflito. A Comunidade de Inteligência dos Estados Unidos revelou, na última terça-feira, 01, que Putin encontrava-se frustrado com as dificuldades de seu Exército em avançar no território ucraniano. John Kirby, secretário de imprensa do Pentágono, revelou nesta terça-feira que os Estados Unidos detectaram um aumento na agressividade dos militares russos, mas que seus avanços não foram significativos.
Com isso, o Kremlin optou por reavaliar suas estratégias e avançar em quatro frentes. Em Kiev, as tropas preparam um cerco no entorno da capital ucraniana. Imagens de satélites divulgados pela Maxar Technologies mostram que a ofensiva russa estende-se por uma vasta região. Uma informação de que o comboio tinha 64 quilômetros de extensão foi divulgada no início da semana, porém, foi prontamente corrigida já que o enfileiramento de veículos militares russos não era contínuo e o número deve ser menor. O Ministério da Defesa da Ucrânia alegou que uma das táticas da Rússia no local é de cercar a região e “iniciar uma operação de informação e psicológica em larga escala em um futuro próximo”.
Em Karhkiv, outra grande cidade da Ucrânia onde a Rússia pode se deslocar em direção a Kiev e às regiões separatistas da Ucrânia, a expectativa é de que suprimentos de comidas e água acabem nos próximos dias. Isso porque os militares russos cercaram a cidade, sem conquistar territórios. Igor Terekhov, prefeito local, afirmou que os ucranianos estão resistindo de maneira “heroica”, mas que o município está “parcialmente cercado”. Nesta quarta-feira, 2, foram registradas explosões em prédios estratégicos, como o Serviço de Segurança Nacional e à Universidade de Karazin. O bombardeio, junto a espera pelo fim dos mantimentos, pode indicar que uma ofensiva terrestre está na iminência de ocorrer.
A cidade de Donbass também é de relevância no xadrez do conflito e sofre com a ofensiva dos comandados de Putin. Isso porque a área tem fronteiras com as áreas separatistas de Luhansk e Donetsk, mas também possui acesso ao sul do país, onde situa-se a Criméia, que passou a ser controlada pelo Kremlin desde 2014. O vice-prefeito da cidade, Sergiy Orlov, descreveu o avanço do Exército inimigo como uma “catástrofe humanitária”. “A situação é terrível, estamos sob mais de 15 horas de bombardeio contínuo sem pausa.” O político também informou que as tropas russas “estão a vários quilômetros de distância” e “por todos os lados.”
Por fim, a região próxima a Criméia registra forte avanço militar russo. Uma importante conquista russa foi registrada nesta quarta após a tomada de Kherson, que conta com quase 300 mil habitantes e é importante fonte de água para a região. O movimento dos invasores é de continuar o caminho para o Sul até que Odessa seja conquistada. O interesse no local é grande, já que trata-se de uma cidade portuária, o que facilitaria o envio de suprimentos e armamentos aos soldados russos através do Mar Negro.
Moscou ainda tem que lidar com outros problemas. Com a reprovação da comunidade internacional à guerra, o país sofreu pesadas sanções econômicas de Estados Unidos, da União Europeia e de outras economias importantes, como Reino Unido, Suíça, Japão e Austrália. A Rússia foi excluída do sistema internacional de pagamentos bancários, o Swift; bancos, incluindo o Banco Central, não podem fazer negociações; empresas ocidentais deixaram de operar no país; voos de empresas russas foram proibidos de passar pelo espaço aéreo de diversas nações. Os bens no exterior do próprio Vladimir Putin e de seu ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, foram congelados – se é que a fortuna deles está fora da Rússia.
Tudo isso gerou um efeito devastador na economia russa, com o rublo perdendo valor e chegando a baixas históricas, a Bolsa de Valores de Moscou permanecendo fechada por três dias e a taxa de juros indo de 9,5% para 20% em apenas um dia, na última segunda, 28. Os russos, então, iniciaram uma corrida aos bancos para tentarem retirar o dinheiro que tinham depositado. O governo Putin tentou evitar a fuga de capital do país, limitando a US$ 10 mil dólares a quantia que pode ser carregada por quem viaja ao exterior e mudando o volume de capital exigido dos bancos para que possam seguir operando. No campo diplomático, a Rússia fez ameaças: afirmou que as sanções são um ato de guerra e Lavrov disse que a única alternativa seria uma guerra nuclear devastadora. Com o sistema financeiro perto de colapsar, o que poderia implodir a economia do país, e as tropas não avançando como o esperado, Putin pode tomar decisões ainda mais destrutivas para conseguir vencer a guerra.