O fumo, o colesterol elevado, a hipertensão e a obesidade estão entre os fatores de risco conhecidos para a estenose da artéria carótida, um estreitamento das artérias que fornecem sangue ao cérebro e cujo bloqueio pode conduzir a um derrame. Agora pesquisadores podem ter descoberto um novo risco: roncar demais.
Um estudo realizado na Austrália constatou que, entre 110 voluntários, homens e mulheres com idades entre os 45 e os 80 anos, que aceitaram passar a noite em um laboratório do sono, o estreitamento arterial entre os participantes que roncavam intensamente era muito mais pronunciado. Os pesquisadores mediram os períodos de ronco e usaram um sistema de ultra-som para medir a extensão das placas formadas em suas artérias.
Depois de ponderar os resultados levando em conta sexo, índice de massa corpórea, fumo, hipertensão e outros fatores, eles chegaram à constatação de que o risco de estreitamento da artéria carótida entre as pessoas que roncavam mais pesadamente era 10 vezes superior ao risco sofrido pelas pessoas que menos roncavam.
O mecanismo que determina essa conexão não pôde ser identificado claramente, mas os autores afirmam em seu relatório que as vibrações do ronco talvez causem danos ao epitélio, as células que servem como revestimento às paredes internas da artéria, o que poderia levar a uma inflamação e à formação de placa.
Os pesquisadores publicaram seus resultados na edição de setembro da revista Sleep, e reconhecem que os resultados referentes a esse grupo de participantes, todos voluntários, não podem ser extrapolados para a população em geral, e que estabelecer uma relação causal entre o ronco e o bloqueio de artérias requereria uma mostra populacional muito maior.
Ainda assim, disse John Wheatley, diretor científico do estudo e professor associado de medicina na Universidade de Sydney, Austrália, “o ronco pesado pode representar um risco mais acentuado de derrame, e as pessoas que roncam demais deveriam passar por uma avaliação médica a fim de determinar se existem outros fatores de risco vascular em jogo”.
Tradução: Paulo Migliacci
The New York Times