Em um desabafo pouco habitual, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, revelou na noite de terça-feira alguns dos motivos que, acredita, levaram a seleção brasileira ao fracasso na Copa da Alemanha, no ano passado. Ele acusou alguns jogadores até de chegarem bêbados na concentração, ao se reapresentarem após as folgas.
Em uma conversa com Rui Rodrigues, representante da agência MPM – que organiza a candidatura do Brasil à Copa de 2014 -, da qual participou a reportagem do Estadão, no lobby de um hotel em Zurique, Ricardo Teixeira não economizou críticas a um grupo de jogadores, ainda que não fizesse menção aos nomes dos indisciplinados. “Tinha jogador que chegava entre 4 e 6 horas da manhã, bêbado”, afirmou o presidente da CBF.
O Brasil decepcionou na Copa de 2006 e irritou os torcedores, principalmente em relação ao comportamento de algumas estrelas. Já durante a preparação na cidade suíça de Weggis, o clima era mais de festa que de treinamento, com ingressos sendo vendidos por até US$ 100 para ver Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos e cia. darem voltas no campo. “Era óbvio que aquilo não ia funcionar. Como é que ninguém via isso?”, disse Ricardo Teixeira.
Falta de comando
O desabafo do dirigente foi em seguida a um comentário sobre a “coragem” do técnico Bernardinho, da seleção brasileira masculina de vôlei, de cortar o capitão Ricardinho, um dos melhores jogadores do mundo, às vésperas do Pan. Ainda assim o Brasil conquistou a medalha de ouro.
Sem citar nomes, o presidente da CBF insinuou que o comando da seleção de futebol na Alemanha não era firme – o técnico era Carlos Alberto Parreira. A escolha de Dunga para suceder Parreira teria a função de corrigir esses e outros erros. “Por isso é que eu preciso de disciplina e esse é o papel do Dunga”, explicou Ricardo Teixeira.
Ele ainda deu a entender que não teria qualquer problema se Dunga deixasse de vez de convocar o atacante Ronaldo. “Com quantos anos está Ronaldo hoje? Com quantos ele estará em 2010 na Copa? É só isso que eu tenho a dizer”, disse Ricardo Teixeira – no Mundial da África do Sul, o atacante estará com 33 anos. “Temos de encontrar outro Ronaldo.”
O presidente da CBF disparou ainda contra a então condição física de Ronaldo. “Como é que um atleta pode chegar a uma Copa pesando 98 quilos? Eu tenho quase isso e não sou atleta”, afirmou Ricardo Teixeira. Durante o Mundial da Alemanha, o peso de Ronaldo, que estava visivelmente com alguns quilos a mais, foi tratado como um segredo de estado pela comissão técnica da seleção brasileira.
O presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Marco Polo Del Nero, que foi chefe da delegação brasileira na Copa da Alemanha, afirmou não ter conhecimento dos excessos alcoólicos dos jogadores. “Se isso aconteceu eu não vi, porque a comissão técnica deve ter escondido muito bem esses ocorridos, até mesmo do chefe da delegação”, contou o dirigente.
Já o atacante Ronaldo foi procurado por meio de sua assessoria de imprensa, mas não se pronunciou. E Carlos Alberto Parreira, atual técnico da África do Sul, não foi localizado.