Alina toma um canto em meu bloco de anotações. Com a caneta entre seus dedos, escreve a palavra “reiki”, sublinhada e com setas que explicam o significado de cada sílaba. “‘Ki’ é energia, e ‘rei’ é universo”, diz lentamente, enquanto termina de unir os dois elementos com uma seta. Puxa outra seta e conclui: “Reiki quer dizer ‘energia universal’”.
Livrando-se do papel e da caneta, indica em seu próprio corpo um dos chacras que usa nas sessões de reiki, técnica japonesa de relaxamento e redução de estresse. Ele flui do alto de sua cabeça, próximo dos cabelos castanhos que ora estão alisados, ora ondulados. Com a palma da mão esquerda, aponta o espaço entre os seios e desce com os dedos até seu abdômen, onde há mais outro chacra. “Tudo carrega uma energia por dentro”, diz.
Por acreditar que todas as coisas são constituídas por forças particulares, Alina gravou o aspecto de cada cômodo do apartamento com piso de cacos de azulejo no bairro paulistano de Santa Cecília onde ficou nua para as câmeras da Trip. Ela detalha o apreço que teve pela mobília envelhecida da cozinha, o início de noite que deixou o clima da casa “nem muito frio, nem muito quente”, e o tapete de pele animal no chão da sala (que não a agradou muito).
Alina é vegetariana desde os 15 anos e mantém seu 1,73 metro de altura apenas com a “potência” de frutas e verduras. A paulistana de 23 anos pontua minúcias, desenha no ar com as mãos e torna a voz ligeiramente mais grave quando deseja detalhar um lugar ou a constituição de sua “matéria energética”. Às vezes, parece séria, mas logo se revela. Ela dispara respostas diretas abafadas por risadas espontâneas, contagiantes. Caçoa quando pergunto onde nasceu (“Nasci em um hospital, né?”). Faz uma brincadeira e se mantém compenetrada por alguns instantes. Em seguida cai em uma longa risada.
Quando conclui sua exposicão sobre o poder terapêutico do reiki, pergunto se ela quer tomar um café ou uma cerveja. Ela sugere água, pois álcool e outros aditivos, diz, não adicionam nada de benéfico ao seu corpo — que, para qualquer espectador, está em grande fase.
SENSUALIDADE REPARTIDA
No quarto da casa que divide com a irmã há dois anos, na zona leste de São Paulo, Alina tem o hábito de redigir um diário sem periodicidade definida, cujas folhas são preenchidas com os próximos objetivos de sua vida. O dormitório, conforme anota em seus lembretes, será pintado em breve para continuar servindo de base para seus exercícios de ioga, praticados sob a observação do gato Magrelo, o paciente mais assíduo das sessões de reiki.
Quando não está cuidando de equilibrar energias, Alina trabalha como maquiadora nos bastidores de teatros e de ensaios sensuais. Quando o espetáculo exige, maquia atores e atrizes com pinceladas fortes e acabamentos rebuscados. Em ensaios íntimos, prefere aplicar cosméticos com leveza, realçando os traços das modelos prestes a ficarem nuas. Mesmo com corpos esbeltos à sua frente, Alina admira características pontuais e delicadas, decorando cada singelo detalhe. “Minha parte do corpo favorita é o contorno do rosto”, conta.
Sendo ela a modelo, fica à vontade para se despir e deixar despertar sua própria suavidade. Ela é satisfeita com o belo corpo. Gosta do verão, quando pode usar menos roupa e se sentir harmoniosa com o sol, a natureza e os objetos ao seu redor.
Quando se despede, Alina deixa sua tranquilidade e sua sensualidade repartidas com o ambiente e com as folhas de meu bloquinho. Brinca, mantendo a expressão séria. Logo após ri e vai embora. Enquanto se afasta, percebo que a energia de Alina ainda está ali, em todos os lugares.