A Scotland Yard cometeu “graves deficiências” no caso da morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, baleado em 2005 por agentes que o confundiram com um terrorista, concluiu uma investigação divulgada nesta quinta-feira, 2, em Londres.
Segundo reportagem da Associated Press, um oficial da polícia britânica já sabia depois de algumas horas que agentes à paisana haviam assassinado o brasileiro depois de o confundirem com um terrorista, mas impediu deliberadamente que a informação chegasse a seus superiores e enganou o público.
Jean Charles, de 27 anos, foi baleado sete vezes à queima-roupa no interior de um trem do metrô de Londres por agentes à paisana em busca de suspeitos de participação nos ataques extremistas contra o sistema de transporte público de Londres em julho de 2005.
O relatório elaborado por uma comissão independente informa que, na tarde 23 de julho de 2005, o subcomissário Andy Hayman, diretor da unidade de combate ao terrorismo da Polícia Metropolitana de Londres, disse a jornalistas que Jean Charles não tinha ligação com as tentativas de ataque do dia anterior.
Entretanto, ele impediu deliberadamente que a informação chegasse ao comissário da Polícia Metropolitana de Londres, Ian Blair, e a outros funcionários do governo, descobriram os investigadores.
Na última quarta-feira, Hayman foi acusado como o principal responsável pela morte do brasileiro, segundo informou uma reportagem do jornal The Guardian.
Segundo o relatório, o subcomissário deveria ter alertado Blair sobre as versões, surgidas logo após a morte, de que Jean Charles não estava ligado às tentativas de atentados ocorridas na véspera. O comissário só foi informado de que o brasileiro era inocente no dia seguinte.
Desculpas
A polícia se desculpou nesta quinta pelos “erros de comunicação interna e externa” cometidos ao dar informações errôneas sobre a morte do brasileiro. Em comunicado, a Scotland Yard ressaltou que eram “infundadas” as queixas da família do brasileiro, que tinha acusado a corporação de mentir sobre o caso, com exceção do comportamento do subcomissário Andy Hayman.
Na nota, a Polícia afirma que “o fato de que as queixas sejam infundadas não significa que a Polícia Metropolitana não poderia ter agido melhor”. O corpo policial ressalta sem rodeios que a morte do brasileiro foi “uma tragédia absoluta” e voltou a pedir desculpas à família da vítima por causa do erro.
Horas depois do tiroteio, Ian Blair disse que o incidente estava “diretamente relacionado” às operações antiterroristas em torno dos atentado fracassados.
A morte de Jean Charles ocorreu duas semanas depois dos atentados suicidas que deixaram 52 mortos em Londres, e um dia após a tentativa de novos ataques contra o sistema de transporte londrino.
Na época, a polícia afirmou que Jean Charles levantou suspeitas por usar casaco num dia quente. Além disso, segundo a versão policial, ele teria se recusado a cumprir uma ordem para não entrar na estação, pulando a catraca e correndo para alcançar o trem.
Um documentário da emissora britânica BBC feito meses depois contestou a versão oficial, mostrando imagens de Jean Charles entrando calmamente na estação.