A feira de produtos confeccionados pelos reeducandos do Centro de Ressocialização de Cuiabá (antigo Carumbé), realizada pela Corregedoria Geral da Justiça e Comarca de Várzea Grande, trouxe bons resultados para os detentos. Dezenas de sandálias foram vendidas para as servidoras do Fórum de Várzea Grande, onde a feira foi montada. Os reeducandos também venderam três quadros (obras de arte) e algumas peças de artesanato. A juíza presidente do Tribunal do Júri, Maria Erotides Kneip, encomendou 140 pacotes de fraldas descartáveis.
No local também foram expostos vassouras, móveis de madeira e vários tipos de objetos de decoração. Ao todo, 350 reeducandos do Centro de Ressocialização desenvolvem algum tipo de trabalho. A exposição realizada hoje faz parte do projeto RecuperAÇÃO, idealizado pelo Corregedor Geral da Justiça, desembargador Orlando Perri.
“Esta é uma grande oportunidade que estamos tendo porque de outra forma não temos como vender nossa produção. Nós não temos CNPJ, não temos firma aberta para comercializar com lojistas o que produzimos”, comentou o albergado Willian Alves Vieira. Ele aprendeu a produzir sandálias tipo rasteirinha no Centro de Ressocialização e hoje mantém sua família através dessa atividade. Willian é sócio de Roberto, outro reeducando que produz as sandálias. Eles procuram empresários ou instituições que estejam dispostos a ceder espaço para exposições de seus produtos, que são vendidos diretamente às consumidoras (contato pelos telefones 3653-0892 e 9231-2810).
O reeducando Luiz Carlos Nunes, 31 anos, é responsável pela fábrica de fraldas descartáveis, que conta com mão-de-obra de outros 10 detentos. Ele também aponta como o maior problema a falta oportunidade para inserir a produção dos reeducandos no mercado.
Luiz Carlos comemorou a encomenda de 140 pacotes de fralda – na verdade todo o seu estoque -, feita pela juíza Maria Erotides. “Eu não sei o que ela vai fazer com tanta fralda, mas para nós foi uma grande ajuda”, comemorou o reeducando, complementando que tem vendido muito pouco de sua produção.
Na verdade, explicou a magistrada, as fraldas ainda não têm destino certo. Com a encomenda concretizada, agora começa o intenso trabalho de buscar parcerias. A juíza espera conseguir a ajuda de hospitais ou outras instituições, como abrigos públicos de crianças, para repassar as fraldas a um custo de R$ 3,50 o pacote (para os interessados em adquirir as fraldas, o telefone do Fórum de Várzea Grande é 3688-8400).
“O importante é conseguir mercado para que eles continuem produzindo, trabalhando. São trabalhadores que precisam de uma chance”, disse a magistrada, que faz parte da equipe do projeto RecuperAÇÃO. Ontem (12 de julho), por exemplo, ela venceu mais uma batalha em prol dos detentos. Com a ajuda do advogado militante Roney Augusto Duarte, presidente do Conselho da Comunidade, a magistrada conseguiu 190 cobertores para os reeducandos. Desta vez a ajuda veio das primeiras damas de Várzea Grande e do Estado de Mato Grosso.
O diretor do Centro de Ressocialização, Dilton Matos de Freitas, é outro empenhado na ressocialização dos detentos. Emocionado, ele relata momentos importantes de sua vida, como o convite para a formatura de um ex-detento, que se graduou em pedagogia pela UFMT. “Na época, nós o liberamos para freqüentar as aulas. Sabíamos que ele teria um grande futuro. Aí veio a recompensa, com o convite para a formatura”, emociona-se. Dilton também comemorou a implantação do projeto RecuperAÇÃO. “Essa parceria com o Judiciário é muito boa para nós e para os reeducandos, mas é mais importante ainda para a sociedade”.
Segundo o diretor, há 11 reeducandos do Centro de Ressocialização que fazem faculdade de Administração, Análise de Sistemas e Pedagogia, através do sistema de ensino à distância. As aulas são acompanhadas por monitores, que visitam o Centro de Ressocialização.
PROJETO RECUPERAÇÃO – O RecuperAÇÃO é desenvolvido em parceria com os juizados e Varas Criminais, Secretaria de Justiça e Segurança Pública, OAB, Ministério Público, Defensoria Pública e Instituições Não Governamentais. O objetivo principal é reduzir o elevado índice de reincidência no crime em Mato Grosso, que hoje gira em torno de 86%.
Entre os resultados pretendidos estão o alinhamento dos conceitos e uniformização dos procedimentos que serão adotados pelos magistrados; reestruturação e fortalecimento dos Conselhos da Comunidade e patronatos; fortalecimento das instituições de assistência e recuperação dos reeducandos; revitalização dos programas de assistência à família dos reeducandos e agentes prisionais; e melhorias na política de atendimento aos reeducandos.
Segundo a Secretaria de Justiça e Segurança Pública existem hoje em Mato Grosso 4.647 presos condenados em regime fechado (dados do segundo semestre de 2006). A grande maioria tem entre 20 e 30 anos e ensino fundamental incompleto.
Mariane de Oliveira