Raúl Castro rompeu o silêncio que mantinha desde que assumiu o poder provisoriamente em Cuba, em 31 de julho, para afirmar que Fidel Castro se recupera “gradualmente” e que o país está preparado para enfrentar qualquer tentativa de agressão externa.
Raúl, ministro da Defesa e segundo homem da hierarquia cubana, escolheu o “Granma”, jornal oficial do Partido Comunista de Cuba, para dar suas primeiras declarações após assumir provisoriamente o poder. Ele falou sobre a evolução do estado de saúde de seu irmão Fidel, e sobre a mobilização de “dezenas de milhares” de tropas diante da “ameaça” dos Estados Unidos.
Em 31 de julho, Fidel delegou provisoriamente o poder a seu irmão Raúl, com a colaboração de seis altos funcionários do Partido Comunista de Cuba. O presidente se recupera de uma delicada intervenção cirúrgica intestinal.
Na entrevista, Raúl não deu detalhes sobre a doença do irmão, mas disse que Fidel continua “em recuperação”.
“Sua extraordinária natureza física e mental foi essencial para sua recuperação satisfatória e gradual”, declarou.
O ministro destacou a “absoluta tranqüilidade” reinante no país, e parabenizou o povo cubano por sua atitude “serena, disciplinada e decidida”.
“Os cubanos demonstraram maturidade, serenidade, unidade, disciplina, consciência revolucionária e firmeza. Se nos guiássemos unicamente pela situação interna, não teria sido necessário mobilizar nem ao menos um guarda”, afirmou Raúl.
No entanto, acrescentou, “Cuba nunca menospreza ameaças externas”. Raúl denunciou a “grande estupidez” demonstrada recentemente pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que declarou apoiar uma transição política em Cuba.
“A esta altura, (os EUA) deveriam saber que não é possível conseguir nada de Cuba com imposições e ameaças”, afirmou.
“Por outro lado, sempre estivemos dispostos a normalizar as relações em um plano de igualdade. O que não admitimos é a política prepotente que a atual Administração americana assume com freqüência”, completou.
Algumas horas após o anúncio da cessão de poderes, Raúl decidiu “elevar de maneira substancial a capacidade combativa” de Cuba, devido à “imprevisibilidade” do Governo americano.
“A ordem de mobilização foi dada na madrugada de 1º de agosto, em cumprimento “aos planos aprovados em 13 de janeiro de 2005 pelo companheiro Fidel”, afirmou.
Dezenas de milhares de reservistas e milicianos foram mobilizados, e as unidades de tropas regulares – inclusive as tropas especiais – foram alertadas “da missão que a situação político-militar criada poderia exigir”.
“Todo o pessoal mobilizado cumpriu ou cumpre no momento um grande exercício de preparação, parte dele em condições de campanha”, acrescentou Castro.
O presidente interino se referiu também ao aumento das “transmissões subversivas” da “TV Martí” para a ilha, que segundo ele agridem a “soberania e dignidade” do povo cubano.
“Os EUA estão gastando milhões para obter o mesmo resultado de sempre: uma TV que não é assistida”, disse.
Raúl minimizou a importância das especulações surgidas nas últimas semanas sobre seu silêncio, e lembrou que não costuma aparecer freqüentemente em público, e que sempre foi “discreto”.
“Continuarei sendo assim”, disse Raúl Castro, que apareceu pela primeira vez em público no domingo, duas semanas após assumir provisoriamente o poder.