Para especialistas, rompimento ou reconhecimento pode trazer impactos positivos e negativos ao governo brasileiro
Segundo o doutor em relações internacionais Guilherme Frizzera, devido à atuação do Brasil como principal ator político na América Latina e pelo seu papel cauteloso, um rompimento com o governo venezuelano agravaria a crise no país vizinho. Para ele, o fim da relação com a nação vizinha poderia, ainda, tornar o governo de Maduro mais autoritário.
“Temos a lógica de que ao colocar a Venezuela e o governo Maduro dentro da institucionalidade, temos um caminho para controlá-lo ou efetivamente pressioná-lo. Isolar fará com que ele não tenha custos em romper com a institucionalidade, com as regras e assumirá de vez o papel de párea internacional. O rompimento atenderia apenas ao desejo de parte da opinião pública que acredita que essa é a única solução, mas não é e seria um equívoco”, explicou.
Em contrapartida, o doutor em economia Hugo Garbe aponta que, em termos econômicos, um rompimento poderia significar oportunidades para novos mercados, diversificação de exportações e redução na dependência de um parceiro comercial “instável”.
“Ao reduzir laços com um país politicamente volátil, o Brasil poderia diminuir seus riscos geopolíticos e melhorar sua percepção entre investidores internacionais. Manter distância de regimes considerados antidemocráticos poderia ainda fortalecer relações com países democráticos e facilitar o acesso a financiamentos internacionais”, disse Garbe.
Para os especialistas, a manutenção de uma relação com a Venezuela poderia facilitar na cooperação da gestão da crise dos refugiados venezuelanos ao Brasil. Apenas no ano passado, 29.467 venezuelanos solicitaram reconhecimento da condição de refugiado no país, segundo dados do Observatório das Migrações Internacionais, do Ministério da Justiça.
Ainda de acordo com Frizzera, a preocupação atual do Brasil é o desenrolar dos acontecimentos e a legitimidade dos resultados eleitorais. Diante da expulsão de diplomatas de países como Argentina e Peru da Venezuela, o Brasil atua como principal dialogador para uma solução.
“O Brasil é parte do caminho para pensarmos alguma solução definitiva para a questão venezuelana, mas isso será demorado, com idas e vindas, mas, principalmente, não se deixando levar por conta do comportamento de alguma potência”, completou Frizzera.
Eleições na Venezuela
No último dia 29, o presidente Nicolás Maduro foi proclamado vencedor das eleições pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão venezuelano responsável pelo pleito. Porém, o resultado é contestado pela comunidade internacional e oposição a Maduro. O também candidato Edmundo González, principal nome contrário ao chavista, reivindica vitória e diz ter recebido 73% dos votos.
Em comunicado conjunto, os governos do Brasil, México e Colômbia citaram “controvérsias sobre o processo eleitoral” e pediram aos agentes venezuelanos “cautela” para evitar o agravamento da situação no país. No documento, os três países pediram, ainda, a publicação dos dados eleitorais completos das atas de votação. “O princípio fundamental da soberania popular deve ser respeitado mediante a verificação imparcial dos resultados”, destacam os países.
Os Estados Unidos deu início ao reconhecimento de Edmundo González como presidente eleito da Venezuela. Em seguida, a Argentina, Uruguai, Costa Rica e Peru foram algum dos países que se pronunciaram a favor do candidato da oposição.
R7