A Câmara de Comércio dos Estados Unidos divulgou uma nota nesta sexta-feira em que critica a decisão do governo brasileiro de quebrar a patente do remédio Efavirenz, anti-retroviral utilizado no tratamento contra a Aids, e diz que a medida pode desestimular novos investimentos no país.
“Poucos dias depois de o Brasil ser reconhecido por melhorar a aplicação dos direitos de propriedade intelectual, o governo deu um grande passo para trás”, afirma, na nota, Daniel Christman, vice-presidente sênior para Assuntos Internacionais da Câmara.
A Câmara de Comércio americana, que representa mais de 3 milhões de empresas nos Estados Unidos, diz que a decisão brasileira pode afastar os investimentos estrangeiros no país.
“A questão é: o Brasil está trabalhando para atrair investimento em indústrias inovadoras, que dependem de propriedade intelectual, e esta decisão vai provavelmente fazer com que os investimentos vão para outro lugar”, acrescenta a nota.
“Encerrar as negociações com a Merck e tomar sua propriedade intelectual envia um sinal perigoso para os investidores”, diz o texto.
“Os pesquisadores da Merck investiram centenas de milhões de dólares para desenvolver este remédio. Claramente ainda havia espaço para negociar uma solução aceitável para os dois lados”, afirma.
Proposta rejeitada
Foi a primeira vez que o governo brasileiro anunciou o licenciamento compulsório de um medicamento, embora já tivesse ameaçado, em 2001 e 2003, fazer o mesmo com outros anti-retrovirais dos laboratórios Roche e Abbott.
Nestes casos, as empresas reduziram o preço de venda ao governo e a patente foi mantida.
A proposta da Merck, de conceder um desconto de 30%, foi rejeitada pelo Ministério da Saúde, que enviou ao gabinete presidencial a proposta de licenciamento compulsório do remédio, que pode ser importado da Índia ou produzido no Brasil.
O governo americano não fez nenhum comentário sobre o assunto até a manhã desta sexta-feira.
Em cerimônia no Palácio do Planalto para anunciar a decisão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a diferença de preço cobrada pela Merck, fabricante do remédio, no Brasil e em outros países, e ameaçou estender o licenciamento compulsório para outros remédios.
“Hoje, é o Efovirenz. Amanhã, pode ser qualquer outro comprimido, se não tiver os preços justos”, afirmou. “Entre o nosso comércio e a nossa saúde, vamos cuidar da nossa saúde”, disse o presidente.
O Brasil paga R$ 3,22 por comprimido de Efovirenz, e propôs pagar R$ 1,31. A versão genérica, produzida na Índia, pode custar R$ 0,91 e gerar uma economia ao governo de R$ 60,9 milhões por ano.
O presidente disse que o preço cobrado pela empresa não é justo “não só do ponto de vista ético, mas do ponto de vista político e econômico”. “Como se o doente brasileiro fosse inferior ao doente da Malásia”, afirmou Lula, na cerimônia.
Pirataria
A associação das empresas americanas também lembra que “ironicamente”, a decisão do governo brasileira acontece pouco tempo depois de os americanos terem reconhecido os avanços do país na área de propriedade intelecutual.
Nesta segunda-feira, um relatório do Departamento de Comércio dos Estados Unidos reconhece os “esforços vigorosos” do Brasil para combater a pirataria, apesar de afirmar que o problema ainda existe “em altos níveis” no país.
O relatório anual inclui 43 países em três listas. A primeira recomenda o monitoramento prioritário de violações da propriedade intelectual. A segunda determina o monitoramento não-prioritário.
Depois de anos na primeira lista, o Brasil foi incluído na segunda lista neste ano.
A Câmara Americana lembra que o progresso nesta área foi um fator fundamental para que a extensão, em dezembro, do Sistema Geral de Preferências, que permite a exportação de produtos brasileiros sem pagamento de impostos.