O presidente russo, Vladimir Putin, e dois líderes da Crimeia assinaram nesta terça-feira (18) um acordo para tornar a República Autônoma parte da Rússia.
O tratado foi assinado no Kremlin dois dias após o povo da Crimeia aprovar em um referendo a separação da Ucrânia e a reunificação com a Rússia. O referendo foi condenado por Kiev, pela União Europeia e pelos Estados Unidos, que o consideraram ilegítimo.
"Proponho à Assembleia federal (as duas câmaras do Parlamento russo) que adote uma lei para incorporar na Federação da Rússia duas novas entidades, a Crimeia e a cidade de Sebastopol", declarou em um discurso no Kremlin perante os representantes das duas câmaras do Parlamento, os governadores e os membros do governo russo, ao fim do qual assinou um acordo sobre a incorporação da península.
"A República da Crimeia se considera parte da Federação Russa a partir da assinatura do acordo", afirmou o Kremlin.
Apesar de o documento ter entrado imediatamente em vigor, os parlamentares russos deverão ratificar uma lei que inclua na Federação Russa duas novas entidades, a Crimeia e a cidade de Sebastopol, que tem um status particular. A data da ratificação, uma simples formalidade, não foi anunciada.
A Ucrânia respondeu dizendo que não reconhecerá jamais a incorporação da Crimeia à Rússia. "Não reconhecemos e não reconheceremos nunca a chamada independência e o que foi chamado de acordo para incorporação da Crimeia à Rússia", declarou o porta-voz da diplomacia de Kiev, Evguen Perebyinis.
Reino Unido, Polônia e França também condenaram a medida e disseram não reconhecer a assinatura do tratado.
Discurso em Moscou
Mais cedo, em discurso inflamado ao Parlamento russo, Putin que o referendo foi feito de acordo com os procedimentos democráticos e com a lei internacional, e que a Crimeia "sempre foi e sempre será parte da Rússia".
“A questão da Crimeia tem uma importância vital, uma importância histórica para todos nós”, afirmou o presidente russo após ser recebido com aplausos no Parlamento. “Nos corações e mentes das pessoas, a Crimeia sempre foi e permanece como uma parte inseparável da Rússia. Esse comprometimento, baseado na verdade e na justiça, é firme, foi passado de geração em geração."
Putin se apoiou no resultado do referendo – no qual a reunificação foi aprovada com 96,8% dos votos – assim como na história da Crimeia, para justificar suas medidas, e se referiu aos valores comuns que a península que hoje faz parte da Ucrânia compartilha com a Rússia.
"Na Crimeia estão os túmulos dos soldados russos, e a cidade de Sebastopol é a pátria da Frota do Mar Negro."
Putin disse que Moscou não podia deixar sem resposta o desejo da Crimeia de se incorporar à Rússia, o que “teria sido uma traição”. “Não podíamos deixar sem resposta a petição da Crimeia e de seu povo. Não ajudar a Crimeia teria sido uma traição.
O presidente russo também condenou as “ditas” autoridades da Ucrânia, afirmando que elas conduziram um golpe de Estado e farão tudo para permanecer no poder.
“Aqueles que estão por trás dos eventos recentes, eles preparam um golpe de estado, mais um. Eles planejaram tomar o poder. Terror e assassinatos foram usados”, afirmou, chamando os integrantes do novo governo deKiev de “nacionalistas, neo-nazistas, russofóbicos e anti-semitas.”
O chefe de Estado russo também criticou a influência internacional, afirmando que os países ocidentais “ultrapassaram a linha” no caso, atuando de maneira não profissional e irresponsável. Segundo ele, a política externa dosEstados Unidos é ditada não pelas leis internacionais, mas pelo “direito do mais forte”.
O presidente russo disse que seu país não quer mais divisões na Ucrânia, e que nunca irá buscar incitar confrontos com os outros países – mas lutará para defender seus interesses.
“Não acreditem naqueles que tentam assustá-los com a Rússia e que afirmam que outras regiões vão seguir a Crimeia. Nós não queremos uma divisão da Ucrânia, não precisamos disso.”
Putin ainda disse ver as ameaças de agressão do Ocidente com sanções contra a Rússia como uma “agressão” e garantiu que haverá retaliações.
G1