O Partido dos Trabalhadores está no poder há 10 anos e meio, mas seu líder máximo acha que pode continuar se comportando como se estivesse na oposição. Sempre que pode, Luiz Inácio Lula da Silva exercita seu velho estilo pendular: posar de pedra quando, na verdade, é vidraça. O ex-presidente e o PT tentam ocupar todos os espaços, quando a sociedade brasileira vai deixando claro que não há espaço algum para eles.
Lula passou toda a temporada de protestos de junho na muda. Palavra alguma se ouviu dele quando milhões de brasileiros foram às ruas para manifestar sua indignação em relação ao estado deplorável da prestação dos serviços públicos no país, à malversação de dinheiro público, à corrosão das práticas políticas, à corrupção deslavada.
O ex-presidente manifesta-se agora, em artigo em inglês distribuído ontem pelo The New York Times. Oportunistica mente, tenta articular uma análise pela qual, no fim das contas, as manifestações só aconteceram com tamanho vigor porque o governo dele e o da presidente Dilma Rousseff foram bem sucedidos demais. Os brasileiros teriam ido às ruas porque "querem mais".
Engana-se Lula: os brasileiros não querem mais do mesmo, mas sim algo diferente do que aí está. Os protestos foram claríssimos quanto a isso: não à roubalheira; não ao descaso quanto a atendimentos de saúde, escolas e transportes públicos de péssima qualidade; e um não rotundo à forma emporcalhada de fazer política que há quase 11 anos o PT patrocina.
Sempre que se veem em apuros, Lula e os petistas lançam mão da mesma estratégia: confundir-se com os críticos, para tentar sair incólumes das pedradas. É como se o partido nunca tivesse saído da oposição. Como sua atuação antes de chegar ao poder é mais bem vista (e mais edulcorada) do que seus hábitos no governo, a mandracaria às veze s cola.
Foi assim quando da eclosão da descoberta do mensalão, em 2005. Lá foi Lula tentar convencer a sociedade brasileira de que o PT cometera o mesmo pecadilho que cometem todos os demais partidos do país, nada demais. Oito anos depois, porém, os próceres petistas estão condenados pelo STF a passar anos na cadeia.
Desde então, não foram poucas as vezes em que Lula e alguns outros líderes petistas afirmaram que o Partido dos Trabalhadores precisava se renovar. O argumento volta agora, mas funciona, na realidade, como a máxima de "O Leopardo": Mudar para manter tudo como está.
A "profunda renovação" que Lula prega talvez encontre sua mais perfeita tradução na ressurreição de cardeais da política brasileira que a sociedade execra e repudia, mas que o PT gostosamente patrocinou com a finalidade de manter-se no poder, ao mesmo tempo em que exercitou, sem pejo, o mais deplorável loteamento do aparato estatal que se tem notícia.
"Acima de tudo, eles [os jovens] exigem instituições políticas mais limpas e mais transparentes, sem as distorções do sistema político e eleitoral anacrônico do Brasil. (…) Em suma, eles querem ser ouvidos", escreve Lula. Haja cinismo.
Assim como o PT, o ex-presidente insiste numa reforma política que, antes de tudo, sustenta-se em interesses do próprio partido, como o financiamento público de campanhas e o voto em lista fechada, e não em legítimas aspirações por mais participação popular nas decisões do Parlamento. A maneira petista de conduzir as discussões sobre o assunto é tão desonesta, que nem os aliados aceitam.
Lula não concorda que os protestos representem uma rejeição da política. Mas as pesquisas de opinião estão aí para mostrar que foram, pelo menos, a rejeição à política que o PT, hoje por meio de Dilma Rousseff, favorece.
O governo da presidente já é avalia do negativamente por 29% dos brasileiros, com avaliação positiva de apenas 31%, com queda de 23 pontos em um mês, segundo pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional dos Transportes. Como corolário, 44% dos entrevistados dizem que não votam em Dilma de jeito nenhum.
Não há malabarismo retórico capaz de dar jeito na insatisfação geral dos brasileiros. Menos ainda de ser suficiente para convencer-nos de que o governo do PT é, no fim das contas, o mais qualificado para fazer as mudanças que a sociedade demanda. Se Lula se sente tão bem fazendo as vezes de opositor, as urnas poderão devolver-lhe este papel. Aí, sim, ele poderá desempenhar suas críticas com legitimidade. Por enquanto, ele e seu PT são alvo, e não flecha.
Tempo para reflexão
Nilson Leitão destaca vinda do papa e cobra atenção do governo para os gastos da Copa
Durante sessão plenária nesta quarta-feira (17), o deputado Nilson Leitão (MT) destacou a vinda do papa Francisco, o líder maior da Igreja Católica, na próxima semana. Para o tucano, a visita do pontífice é um momento importante de reflexão e de repensar os anseios da sociedade. “Acho que esse momento é muito rico para que o Brasil e seus líderes possam ser tocados. Se não estão conseguindo ser tocados pelos gritos das ruas, pelos cartazes, que sejam tocados espiritualmente”, ressaltou.
Segundo o parlamentar, há um pedido de socorro dos brasileiros que precisam ser ouvidos de forma mais humana. Os números que o país vem apresentando deveriam ser efetivamente mais fortes, dando uma resposta verdadeira e honesta para a população. “Os brasileiros foram para as ruas dizendo que queriam a saúde e a educação com a mesma dedicação de investimento que está tendo a Copa do Mundo”, destacou.
O Mato Grosso, estado do parlamentar, não po ssui sequer um time de futebol na primeira ou na segunda divisão, construiu um estádio com investimento inicial de R$ 300 milhões. Atualmente, o investimento está em R$ 600 milhões. Na semana passada, foi feito um aditivo de R$ 120 milhões sob a alegação de que no projeto faltavam as cadeiras e a parte de energia elétrica. “Isso é quase uma afronta à inteligência da população. Isso é um descaso e acima de tudo uma ironia”, disse.
Para Leitão, é um momento de buscar um novo caminho, mas o governo petista não tem humildade para trabalhar. “É uma gestão inábil, irresponsável e incompetente em que o dinheiro não chega aonde deveria chegar. É com tristeza que nós vemos isso, mas espero que a presença do papa toque no coração destas pessoas e faça com que mudem seu comportamento”, concluiu.
Reportagem: Edjalma Borges