Sem punir os “aloprados” que se envolveram no escândalo do dossiê Vedoin, o Diretório Nacional do PT decidiu antecipar o seu 3.º Congresso para debater os rumos do partido após uma crise atrás da outra e encurtar o mandato do presidente licenciado da legenda, deputado Ricardo Berzoini (SP). Instância máxima de deliberação do PT, o Congresso seria realizado em setembro e foi antecipado para julho de 2007.
É nesse fórum que os petistas farão o acerto de contas: querem marcar novas eleições diretas entre os filiados para substituir Berzoini e escolher outra direção no partido.
A difícil situação de Berzoini, chefe dos arapongas que tentaram comprar um dossiê contra tucanos, foi o único constrangimento dos dois dias de reunião do Diretório Nacional, a primeira depois da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tudo ali estava combinado com o Palácio do Planalto: do teor da amena resolução política, que deu aval ao governo de coalizão, à antecipação do Congresso do PT, previsto agora para 6, 7 e 8 de julho, em Brasília.
Até mesmo a disputa por cargos no ministério ficou em banho-maria, embora a comissão política do PT tenha reunião com o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, para definir as “áreas” que o partido gostaria de manter sob sua alçada. O problema é que o PT não sabe o que fazer com Berzoini, afastado desde outubro da coordenação da campanha de Lula e da presidência do PT.
A proposta que encontra maior respaldo é convocar novas eleições para novembro ou dezembro de 2007. Nesse figurino, o mandato do presidente do PT seria reduzido de três para dois anos e Berzoini, eleito para capitanear o partido até 2008, acabaria defenestrado. Mas o antigo Campo Majoritário, facção do deputado, tem dúvidas sobre a conveniência desse método.
“Eu acho que um mandato de três anos é melhor, dá mais tempo para executarmos os projetos, sobretudo quando temos o calendário político sacudido a cada dois anos”, afirmou Marco Aurélio Garcia, presidente interino do PT. Assessor de Relações Internacionais de Lula, Garcia ficará no comando do PT até a solução do imbróglio. Os mais cotados para substituir Berzoini são o governador do Acre, Jorge Viana, que termina o mandato em dezembro, e o ex-senador José Eduardo Dutra.
Berzoini circulou os dois dias na reunião do PT, num elegante hotel de São Paulo, mas pouco falou. Abatido, disse não considerar a antecipação do Congresso como manobra para derrubá-lo. “Há muito tempo superei a fase de ver fantasma”, desconversou, insistindo em que não vai renunciar.
Da refundação do PT à revisão do estatuto, o Congresso será uma catarse. No divã, petistas querem saber quais os métodos e práticas de direção que levaram o PT a rasgar a bandeira da ética.
(Folha Online)