Escalado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para integrar o time de defesa da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou ontem que o PSDB deveria apresentar uma Carta ao Povo Brasileiro na campanha, como fez o PT em 2002. No contra-ataque aos tucanos depois que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que Dilma, pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto, “não inspira confiança” e é “reflexo de um líder”, Bernardo evocou o documento petista para sustentar que quem ameaça dar um “cavalo de pau” na economia é o PSDB.
“É importante que o PSDB apresente uma Carta ao Povo Brasileiro para a gente ter certeza do que os tucanos vão fazer na política econômica”, insistiu o ministro ao Estado. “Quem quiser saber o que a Dilma vai fazer é só olhar o que o Lula fez. Seria um tiro no pé alguém do PT dizer agora que vai fazer algo diferente. Quantos aos tucanos, ninguém sabe.”
A escalada no confronto entre o PSDB e o PT ganhou força no domingo, a partir de artigo de Fernando Henrique no Estado, no qual ele assinalou que eleições não se ganham com o retrovisor. “Mas, se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa”, desafiou.
A reação de Bernardo veio na esteira das críticas ao documento intitulado A Grande Transformação, que reúne as diretrizes do programa de governo de Dilma e prega maior presença do Estado na economia, com fortalecimento das empresas estatais e das políticas de crédito dos bancos públicos.
Ao saber que o texto a ser apresentado no 4º Congresso do PT – de 18 a 20 deste mês, em Brasília – foi interpretado por tucanos como uma iniciativa para revogar a Carta ao Povo Brasileiro, Bernardo devolveu as estocadas. Na carta de 2002, o PT – que hoje completa 30 anos – deu uma guinada ao centro: defendeu com todas as letras o respeito aos contratos e até o superávit primário. Foi uma inflexão na campanha de Lula, para não afugentar investidores.
Dono de língua afiada, Bernardo disse que quem precisa acalmar o mercado, agora, é o PSDB. Citou a entrevista à revista Veja do senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB, para destacar que o partido do governador José Serra – provável adversário de Dilma – “cada hora fala uma coisa”. Há um mês, Guerra observou que, se o PSDB voltar ao poder, vai “mexer na taxa de juros, no câmbio e nas metas de inflação”, além de acabar com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
“O PSDB passou sete anos dizendo que nós havíamos mantido a política econômica do governo FHC. Agora, vem um tucanão de bico longo e fala que vai mudar as coisas. Isso exige um esclarecimento”, provocou Bernardo. No seu diagnóstico, a plataforma de Dilma não tem nada de estatizante. “As estatais e os bancos públicos já estão fortalecidos, a Petrobrás também e a Eletrobrás vem sendo redesenhada para ser mais competitiva. Por que o mercado se assustaria? perguntou.