Uma greve de 24 horas acirrou a divisão na Bolívia dos que apóiam o presidente do país, Evo Morales, e seus opositores. A paralisação ocorreu em seis dos nove departamentos bolivianos e é um protesto contra o presidente, mas, ao mesmo tempo, ela provocou a reação de grupos que apóiam o governante. Episódios violentos acompanharam as manifestações, mas não houve choques diretos entre grupos pró e contra Morales.
Os manifestantes também pedem que Sucre seja capital plena –com a sede de todos os poderes– da Bolívia, pois o país possui duas capitais. La Paz é a administrativa e sede do governo. Sucre é a constitucional e sede do Judiciário.
Prevendo que os pedidos de capital plena possam prejudicar o desempenho da Constituinte –que até dezembro deve elaborar uma nova constituição para o país– a maioria governista determinou que o assunto fosse eliminado da agenda, decisão que provocou o conflito regional. A cisão foi agravada pela decisão de que quatro magistrados do Tribunal Constitucional, denunciados por Morales, serão julgados.
Violência
A greve foi caracterizada por atos de vandalismo cometidos por grupos de jovens que tentavam obrigar a população a aderir ao protesto. O grupo União Juvenil –braço do movimento separatista do departamento de Santa Cruz– protagonizou alguns dos episódios mais violentes deste dia na Bolívia, segundo o governo. Ao menos duas pessoas ficaram feridas gravemente no mercado de Santa Cruz devido a agressões dos radicais, informou o governo boliviano.
Alguns manifestantes tentavam obrigar as pessoas a não ir trabalhar, principalmente nas cidades de Santa Cruz, Tarija e Trinidad. A polícia registrou confrontos entre comerciantes e grevistas.
Imagens registradas por uma televisão local mostraram um veículo atropelando deliberadamente uma pessoa que se negava a fechar sua loja. A polícia prendeu dois jovens que supostamente estavam no carro, informou o governo federal.
Apoio
A greve se restringiu ao centro das capitais dos departamentos, enquanto que nos bairros populares, mercados menores e nas zonas rurais as atividades se desenvolveram normalmente, segundo o ministro do Interior, Alfredo Rada.
Na cidade de Cochabamba, organizações sociais marcharam contra a greve e em apoio ao presidente Morales, enquanto que a polícia mobilizou dezenas de soldados para evitar confrontos.
A paralisação foi precedida de uma grande marcha pacífica de indígenas a favor do governo, nesta segunda-feira, em Sucre.
Apesar dos problemas políticos, regionais e nos movimentos sociais, Morales convocou os líderes cívicos das cidades para dialogar.
Os protestos não se estenderam pelos departamentos de La Paz, Oruro e Potosí, onde Morales possui sua base de apoio.
Mais protestos
A Associação de Magistrados da Bolívia (Amabol), que agrupa cerca de 900 juízes na Bolívia, afirmou que fará uma greve nas próximas quinta-feira (30) e sexta-feira (31) em defesa das instituições democráticas do país.
O presidente da Amabol, Juan Pereira, disse que a entidade negou nesta terça-feira um pedido da Corte Suprema para suspender a paralisação. O pedido foi feito em nome da unidade do Poder Judiciário.
FO