Vários especialistas afirmaram no debate “Armas sob controle”, convocado pela ONG Oxfam International no Colégio do México, que a proliferação das armas de fogo na América Latina é preocupante.
A diretora de campanhas da Oxfam no México, Susana Cruickshank, afirmou que a situação é preocupante devido ao elevado tráfico ilícito de armas leves e de pequeno porte. Ela denunciou a falta de controle, o número de mortes e a tensão social causada pelo problema.
“Na América Latina só existe um conflito armado internacionalmente reconhecido, que é o do Haiti. No entanto, somos a região do mundo com mais mortes por armas de fogo, mais que a África e o Oriente Médio”, afirmou Roberto Dondish, assessor de Direitos Humanos da Secretaria de Relações Exteriores do México.
Brasil, Venezuela e Colômbia são os países com maior mortalidade por armas de fogo, segundo Dondish. Para ele, a proliferação de armas alimenta o crime organizado, estimula a cultura da violência e prolonga os conflitos.
No México, por exemplo, o problema também é muito grave, disse, porque cerca de 1 milhão de armas entram pela fronteira norte com os Estados Unidos. Elas são compradas legalmente nas lojas americanas para abastecer o mercado negro da América Central e Caribe.
Para Dondish, a solução passa por tratados internacionais juridicamente vinculativos, que obriguem os Estados, inclusive os produtores de armamento, a atender aos embargos e às restrições da ONU.
Em dezembro de 2006, 153 países das Nações Unidas votaram a favor de um tratado internacional sobre o tema, com 24 abstenções e apenas os Estados Unidos votando contra.
Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China) são responsáveis por 88% das exportações de armas convencionais, informou a ONG.
Além disso, de 1998 a 2001, EUA, França e Reino Unido obtiveram da venda de armas a países do Terceiro Mundo uma soma superior à que gastaram em ajuda oficial ao desenvolvimento.
Jorge Chabat, especialista em segurança do Centro de Pesquisa e Docência Econômica (CIDE), explicou que o problema não é só o aumento do número de armas. Ele destacou o contexto social dos países latino-americanos, com pobreza, desemprego, desigualdade e Estados fracos, que não dão segurança a seus cidadãos.
A proliferação “se baseia na premissa de que os cidadãos têm o direito de se defender” e compram as armas porque “o Estado não é capaz de garantir proteção”, disse.
“Isso pode ter conseqüências negativas, porque as armas, adquiridas para a autodefesa, depois entram no mercado negro e servem para matar”, comentou.
Na América Central, as guerras internas dos anos 80 e 90 introduziram muitas armas em vários países. Elas continuam sendo utilizadas pelo crime organizado, explicou. EFE lga mf