A cadeia produtiva da soja do Brasil firmou nessa quinta-feira (10-05) acordo com representantes americanos desse setor para discutir e agir em problemas comuns aos dois países. Parceria semelhante já havia sido firmada pelas empresas americanas – via American Soybean Association (ASA) – com produtores argentinos e paraguaios. Juntos, esses países representam 90% da produção mundial da oleaginosa.
Marcelo Duarte, gerente-administrativo da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) de Mato Grosso, maior estado produtor da oleaginosa no Brasil, reforça que não se trata de cartelização, apesar de os países reunirem quase que a totalidade da produção mundial. “O objetivo não é combinar preços ou controlar oferta, mas estimular demanda pelos derivados da soja”, garante Duarte.
Segundo o diretor-global da ASA, Craig Ratajczyk, o acordo pretende criar condições para ações conjuntas para a queda de barreiras que restrinjam o mercado, como as de entrada de soja transgênica. “Os europeus, por exemplo, ainda têm restrições na importação de OGMs. A Índia tem imposto para complexo soja. Podemos atuar juntos nesses gargalos”, diz. Ele também acrescenta a parceria contra a quebra de contratos por conta de exigências drásticas, como o que ocorreu há dois anos entre Brasil e China, que embargou carregamento do Brasil com justificativa de contaminação.
Mas, neste momento, o primeiro passo será para abrir novos mercados consumidores para o complexo soja, segundo o representante da ASA. O foco inicial é a Índia, país com a qual a ASA firmou acordo em dezembro de 2006 para estimular o consumo dos derivados da oleaginosa. A meta é que, em 2010, o mercado interno do país asiático já esteja absorvendo o total de sua produção de soja – 6 milhões de toneladas – e começando a importar.
Os americanos iniciaram investimento anual de US$ 1 milhão na Índia para atingir esse objetivo, com foco, principalmente em ações de marketing nas indústrias de ração, que abastecem a produção animal, sobretudo a leiteira. Segundo Ricardo Arioli, vice-diretor administrativo da Aprosoja, o Brasil também aportará recursos nesse projeto em 2007, apesar de os valores e as fontes ainda não terem sido definidos.
Com população de cerca de 1 bilhão de pessoas, a Índia tem consumo anual de 1,7 quilo de soja por habitante, número muito abaixo do registrado na China, por exemplo, onde há população semelhante, de 1,3 bilhão de habitantes, consumindo, cada um, em torno de 20 quilos de soja por ano.
A preocupação em prospectar outros mercados para o complexo soja, segundo Ratajczyk, se deve perspectiva de queda da demanda do consumo de soja nos próximos 20 anos. Vários cenários são vislumbrados por causa da substituição por outras matérias-primas no longo prazo. “O óleo de soja na produção de biodiesel terá forte concorrência do óleo de palma, produzido na Índia, por exemplo. A retração também ocorrerá com o farelo de soja, que sofrerá concorrência do DDG, proteína resultante da produção de etanol a partir de milho e que pode ser usado na mistura de ração animal.
Gazeta Mercantil