Apesar de Mato Grosso ser o maior produtor nacional de soja e o Brasil ser o país que mais exporta a oleaginosa em todo o mundo, os preços do óleo derivado do grão estão cada vez mais altos nos supermercados. Em 2007, os preços médios saltaram 39,10% – saíram de R$ 1,79, em janeiro, para R$ 2,49, no final de dezembro – e, nos primeiros meses de 2008, o reajuste já chega a 28,11%, atingindo índices históricos de até R$ 3,20 para o consumidor.
Outro título de segundo maior produtor do grão no planeta, dado ao Brasil, não arrefece o impacto das altas observasdas deste o ano passado. Nos principais supermercados de Cuiabá, o menor preço encontrado ontem foi de R$ 2,85, da marca Soya. A maioria dos estabelecimentos, contudo, decidiu “alinhar” os preços em R$ 3,19, embora alguns supermercados tenham adotado preços de R$ 2,99, R$ 3,15 e R$ 3,20.
Analistas de mercado acreditam que esse é um reflexo do aumento do consumo em todo o mundo, frente a uma oferta que não está conseguindo acompanhar a demanda, aliada ao aumento das cotações internacionais.
“Os preços do óleo realmente estão batendo recorde no mercado internacional por causa do programa de biocombustíveis. Isso faz com que as empresas processadoras desloquem as suas vendas para o mercado externo, gerando uma pressão muito forte nos preços no mercado doméstico. É uma questão mercadológica”, explica o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea), da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Seneri Paludo.
Segundo os especialistas, a explicação para o aumento do óleo de soja vem mesmo do outro lado do mundo. “A China vem comprando mais soja. E isso vem alavancando os preços internacionais do produto, fazendo com que o preço interno também suba”, explica o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Segundo o Ministério da Agricultura, no ano passado, a China aumentou as importações do produto em mais de 80%. Já os Estados Unidos, os maiores produtores de soja, reduziram a área plantada para cultivar milho, matéria-prima para produção do etanol.
Além disso, no Brasil, o óleo extraído da soja é usado na produção de biodiesel. Com uma procura cada vez maior no mundo, o preço do grão – que é regulado pelo mercado internacional – aumentou 94% nos últimos dois anos.
“Tivemos uma demanda não por causa apenas do consumo do óleo como alimento, mas por conta da utilização do produto em programas de biocombustíveis”, lembra Seneri Paludo. Na União Européia, por exemplo, a demanda por biocombustíveis é o principal motor da demanda. Todos os combustíveis usados para transporte no bloco econômico terão de ser compostos por 5,75% de biocombustíveis até 2010. “Significa que a demanda atual pelo biocombustível alcançaram níveis históricos”, afirmou.
ALERTA – Paludo lembra que a demanda é maior do que a oferta, destacando que a necessidade mundial do complexo soja – grãos, farelo e óleo – vem aumentando 4% ao ano, enquanto a produção cresce na ordem de 2%.
“A demanda está cada vez maior. Com isso, os preços internacionais sobem e as esmagadoras preferem exportar a vender no mercado doméstico”, diz o analista, acrescentando que nos últimos 12 meses os preços do óleo já tiveram incremento de 101% nas bolsas internacionais.
CONSUMIDOR – A dúvida de muitos consumidores é porque o preço do óleo é tão elevado nas gôndolas dos supermercados, se Mato Grosso tem a maior safra do país. “É simples”, explica Seneri Paludo. “Muitos países têm grande demanda por óleo de soja. Como a oferta não está sendo suficiente, os preços acabam subindo e, com isso, a produção que poderia suprir o mercado interno acaba sendo exportada. Assim ficamos sem o produto e os preços acabam ficando mais caros na ponta”.
De acordo com o analista, desta vez a situação é de oferta e procura. “Já tivemos uma forte valorização do óleo de soja. A tendência, acredito, é de que os preços se ajustem nos atuais patamares ou até mesmo em níveis inferiores aos atuais”, prevê.
Os analistas apontam que, no curto prazo, os preços do óleo de soja parecem inclinados a seguir nas alturas, embora a maioria projete declínio em torno de 10% nos próximos meses, “já que os preços das commodities têm uma tendência de oscilar como um pêndulo quando sobem muito”.
“É provável que isso ocorra também com o óleo de soja, mas como a demanda básica é tão grande, o recuo não deve ser muito significativo”, concluem.