sábado, 21/12/2024
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Prato feito brasileiro tem tamanho exagerado e excesso de calorias

Os restaurantes brasileiros que vendem prato feito estão exagerando no tamanho das porções — e, consequentemente, na quantidade de calorias. Essa é uma das conclusões da seção brasileira de um estudo internacional que analisou o valor calórico de refeições vendidas por restaurantes populares de seis países, publicada no British Medical Journal recentemente.

“A nossa conclusão é que precisamos prestar atenção na quantidade de alimento que ingerimos, não só no fast food, mas também em restaurante que serve refeição completa, o PF”, explica Vivian Suen, pesquisadora responsável pelo estudo no Brasil e professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. A pesquisa contou com apoio da Fapesp.

O resultado de comer mais calorias que o necessário, diz Suen, pode ser ganho de peso e obesidade.

As análises mostraram que uma refeição brasileira, sem bebida e sobremesa, contém em torno de 1200 kcal — sendo que quatro opções analisadas tinham mais de 1600 kcal. O NHS, o serviço de saúde pública da Inglaterra, recomenda que um homem adulto ingira 2500 kcal por dia e uma mulher adulta 2000 kcal.

Assim, os PFs brasileiros têm cerca de metade da necessidade calórica diária de um homem adulto e 60% de uma mulher adulta.

“Se você comer 1200 kcal no almoço, 1200 kcal no jantar, além de café da manhã e outras refeições ao longo do dia, você vai ultrapassar as calorias recomendadas”, calcula Vivian. “Ao longo de um ano, 300 kcal a 400 kcal a mais que o necessário todos os dias, sem aumentar a quantidade de atividade física, pode significar alguns quilos a mais”.

A pesquisadora ressalta, no entanto, que a quantidade de calorias recomendada varia de pessoa para pessoa, levando em conta seu estilo de vida, saúde, e mesmo o padrão das refeições ao longo do dia. Assim, o tamanho do PF pode não ser um problema para uma pessoa com um alto gasto calórico (por exemplo, um trabalhador que faça muito esforço físico ou um praticante de esportes) ou que coma muito apenas no almoço e compense com outras refeições menores.

“Se a pessoa comer mais que o indicado no almoço, mas não estiver ganhando peso, está ok”, fala Suen.

Já para a média da população, a recomendação é pedir para os restaurantes diminuírem o tamanho das porções – principalmente a quantidade de arroz. Caso não seja possível, vale dividir o prato com outra pessoa ou mesmo embrulhar o restante e levar para casa.

Os PFs e fast foods analisados no estudo

Para fazer o estudo, os pesquisadores visitaram restaurantes em Ribeirão Preto e compraram os dois pratos mais vendidos em cada local. Todos eles eram formados pelo clássico arroz com feijão, carne e salada, com acompanhamentos diversos. Também compraram lanches e salgados fast food. Em seguida, a comida foi levada para o laboratório para análise da quantidade calórica.

O PF mais calórico pesava nada menos que um quilo. Além do arroz e feijão, tinha frango à parmegiana, macarrão alho e óleo, mandioca frita e farofa. No total, 2013 kcal — mais do que o total recomendado para uma mulher ao longo de todo o dia.

Já um dos PFs menos calóricos tinha 700 gramas e 790 kcal, composto de arroz, feijão, frango grelhado, legumes cozidos e ovo frito. É bem menos que um pão de batata analisado, recheado com requeijão, presunto e bacon, com 333 gramas e 1120 kcal.

A pesquisa não avaliou o valor nutricional dos pratos, mas, segundo Vivian Suen, o PF brasileiro, além de grande e com muitas calorias, não é muito nutritivo.

“Se olharmos o que tem no prato, vamos ver que a qualidade nutricional não é boa. Primeiro, há muito pouca salada — duas ou três folhinhas de alface. Segundo, há muita quantidade de arroz — em torno de duas escumadeiras, quando o ideal seria de 3 a 4 colheres de sopa. A carne também é muito gordurosa”.

Mas qual seria o tamanho da refeição ideal? Além das 3 a 4 colheres de sopa para arroz, Vivian Suen recomenda uma colher de sopa de feijão, uma carne do tamanho da palma da mão magra (tirando a camada de gordura aparente), uma porção de legumes refogados e salada verde à vontade. Outra sugestão é comer apenas um tipo de carboidrato — se você está comendo arroz, não pegue macarrão ou salada de batata.

Se for comer em um restaurante por quilo, capriche na quantidade de folhas verdes e salada, que aumentam a sensação de saciedade e têm poucas calorias, recomenda Suen — Foto: UnsplashSe for comer em um restaurante por quilo, capriche na quantidade de folhas verdes e salada, que aumentam a sensação de saciedade e têm poucas calorias, recomenda Suen — Foto: Unsplash

Se for comer em um restaurante por quilo, capriche na quantidade de folhas verdes e salada, que aumentam a sensação de saciedade e têm poucas calorias, recomenda Suen — Foto: Unsplash

Resultado foi parecido nos demais países analisados

Além do Brasil, a pesquisa foi realizada em Gana, China, Índia, Finlândia e Estados Unidos. Os resultados foram parecidos para todos os países exceto a China — no país asiático, foi encontrada uma maior variedade de refeições com menor valor calórico.

Entre as motivações do estudo está “a associação positiva entre taxas crescentes de obesidade e o aumento de consumo de energia (calórica) em diversos países, realçando o papel central que comer demais desempenha na epidemia global de obesidade”. Assim, compreender melhor o tamanho e valor calórico das refeições populares seria uma forma de entender possíveis razões por trás do aumento da alta da obesidade.

“Esse é o primeiro estudo de que temos conhecimento que mediu a energia das refeições de restaurantes em diferentes países, o que nos permitiu examinar dados de refeições de estabelecimentos que não fornecem informações nutricionais rotineiramente”, diz a pesquisa.

Considerando todos os lugares analisados, os resultados “mostram que duas refeições médias por dia proveriam quase todo o requerimento diário de energia” de uma pessoa que tenha uma necessidade energética um pouco abaixo da média, “sem considerar nenhuma refeição adicional, bebidas, lanches, aperitivos ou sobremesa”, diz a pesquisa.

“Até a média das porções avaliadas nesse estudo é muito alta em relação aos requerimentos de energia humana, especialmente para pessoas que tem requerimentos de energia menores, como pessoas sedentárias, mulheres idosas e pessoas com peso abaixo da média”.

G1-BemEstar-FOTO:FMRP/USP
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Parmenas Alt
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