Ter orgasmo somente durante as preliminares e não na penetração é uma realidade para significativa parcela das mulheres. Mas tirando os casos em que há dor, se a mulher sente prazer com carícias é sinal de que não há nada errado com a saúde dela. O que provavelmente falta é vivência sexual. A boa notícia é que algumas práticas podem reverter a situação.
"Uma das técnicas que se pode experimentar é a manobra da ponte, quando a mulher, sentada sobre o parceiro, estimula o próprio clitóris durante a penetração. Porém, quando ela sente que está perto do orgasmo, para de se estimular e tenta perceber se consegue que apenas a penetração vaginal dispare a sensação", afirma a psicóloga Quetie Mariano Monteiro, do Cresex (Centro de Referência e Especialização em Sexologia) do Hospital Peróla Biyngton, em São Paulo.
Alguns acessórios eróticos, como o anel peniano, podem ajudar nessa descoberta. Colocado no membro masculino, ele vibra e estimula o clitóris.
"A mulher também pode fazer um 'V' invertido, com os dedos indicador e médio dela, e encaixar no pênis. Daí, durante o movimento da penetração, a mão vai esbarrar no clitóris e ajudar que ela atinja o clímax", diz Carolina Ambrogini, coordenadora do Projeto Afrodite, do Departamento de Ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Mudar o andamento da relação sexual é outra alternativa. Nesse caso, basta que o casal comece com as preliminares, parta para a penetração, para que a mulher perceba estímulos diferentes, e, depois, volte à masturbação para finalizar. Isso até que a parceira consiga atingir o orgasmo durante a penetração.
Outra sugestão é testar novas posições. "Até o tradicional 'papai e mamãe' permitirá uma estimulação indireta do clitóris se a mulher colocar um travesseiro embaixo do quadril", afirma Carolina.
O desenvolvimento dessas novas técnicas para sentir mais prazer deve continuar quando a mulher estiver sozinha. Ela precisa se tocar para perceber onde estão os pontos mais sensíveis da vagina, sem a cobrança –interna ou externa– de chegar ao clímax.
Para que a experiência seja mais realista, o ideal é utilizar um vibrador com a função de vibrar desligada. "Exercícios de fortalecimento dos músculos da vagina também trazem uma maior percepção dessa região do corpo. Ao estimular a área com movimentos contínuos de contração e relaxamento, há um aumento da circulação local, o que pode facilitar a percepção dos estímulos e do prazer", diz a psicóloga e terapeuta sexual Maria Cristina Romualdo Galati.
Não deixe de tentar
A estatística pode ser explicada, em grande parte, pela própria anatomia feminina, segundo a psicóloga e terapeuta sexual Maria Cristina Romualdo Galati, do Instituto Kaplan, centro de estudos da sexualidade humana. "O clitóris é ricamente inervado e por isso muito sensível. A vagina tem menos sensibilidade e somente no primeiro terço do canal", diz.
Como a estimulação do clitóris é o caminho mais fácil para o orgasmo, muitas mulheres acabam preterindo a penetração. Segundo a ginecologista Carolina Ambrogini, para muitas delas, continuar o sexo após o orgasmo nas preliminares se torna um fardo. "Elas acabam fazendo só para cumprir tabela e agradar ao parceiro", diz.
O aspecto emocional também influencia. Muitas vezes, a mulher se cobra demais e não consegue se envolver no momento da penetração. "Ao pensar demais, você desvia o foco da sensação prazerosa", declara Carolina.
Ainda há mulheres que, por medo de o parceiro ejacular antes, acabam preferindo garantir o prazer na preliminar. "Ao optar por esse 'caminho mais fácil', a mulher se priva de experiências mais intensas", diz a psicóloga.
Por isso mesmo, a especialista defende que, mesmo que tenha gozado durante as preliminares, a mulher continue envolvida na relação, já que há a possibilidade de sentir prazer novamente depois. Basta experimentar, ousar e descobrir o que lhe agrada no sexo.