Já pensou em ser ator? Saiba o ônus e bônus da profissão
A televisão que você vê é feita por algo além da ficção, que você não vê. São histórias reais; de personagens reais, que em busca de desenvolver suas habilidades na teledramaturgia mudam seus endereços: rumo ao tão sonhado sucesso profissional.
Assim como o Rio de Janeiro abriga cidades cinematográficas, ‘habitadas’ por milhares de personagens, a cidade maravilhosa que foi eleita para ser sede da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, também é a sede de vários jovens que têm como meta, mostrar sua arte.
Atuar em novelas, filmes, minisséries é mais que um desejo, é o combustível que alimenta a persistência de atores que deixaram suas cidades, empregos e familiares, em busca de seus ideais.
Perfis diferenciados, sotaques distintos, rostos desiguais e sonhos em comum. A cidade que respira cultura ostenta um grande número de teatros, salas de cinema e livrarias. São laboratórios para os que estão por lá atrás de uma oportunidade de mostrar que são capazes, afinal, para propagar cultura é preciso muito repertório.
Os atores Wendell Duarte, 31 e Vinícius Domingues, 27, ambos mineiros de Belo Horizonte, dividem um apartamento no Recreio, a cumplicidade os motivam a dividir não só a mesma moradia, mas também o mesmo sonho.
Atores respeitados no teatro em seus Estados estão literalmente correndo atrás de seus espaços na teledramaturgia.
Wendell Duarte relatou que aos 12 anos começou a trabalhar em uma Clínica de Radiologia e passou a pagar escondido um curso de teatro amador, a arte que começou à revelia de seus pais se tornou profissional, aos 27 anos o ator passou a morar no Rio de Janeiro e começou a cursar faculdade Cinema na Estácio de Sá.
Da paixão pela dramaturgia que o levou a buscar o curso de teatro amador em Belo Horizonte, para várias participações em novelas e comerciais. O mineiro que estudava em segredo aos 12 anos entre seus trabalhos já foi de motorista na novela ‘A Favorita’ a enfermeiro em ‘Malhação’.
“Sempre gostei de TV, quando criança me imaginava atuando no cinema, filmes de ação, de ser um bom ator, dai pensei: por que não largar tudo em Belo Horizonte e seguir este sonho? Foi ai que vim para o Rio. Nunca vou me arrepender”, afirmou.
Wendell ressaltou que para ser um bom ator tem que se dedicar muito na leitura e em cursos, ser disciplinado no estudo do texto e ter persistência.
Quanto os maiores desafios sempre esbarram na questão financeira, sobreviver em meio tamanha concorrência tem seu alto custo e manter o psicológico preparado para ouvir a palavra “não”, faz parte do dia a dia de um ator. Não basta estar preparado, é preciso se encaixar no perfil do personagem, ai sim começam os testes para disputa do papel. Mesmo com essa instabilidade da profissão Wendell e Vinícius garantiram que nunca pensaram em desistir.
A distância dos familiares também pesa para quem a cada dia levanta em busca de uma nova conquista, que nem sempre acontece, mas a fonte das forças é uníssona, independente da religião todos revelam sustentar seus propósitos com fé em Deus.
A vida por de trás das câmeras, os bastidores da fantasia, em cena os atores dão vida aos personagens que nasceram na imaginação dos autores, fora de cena buscam equilíbrio na tênue linha entre o sucesso do hoje e a incerteza do amanhã.
Vinícius Domingues contou que decidiu atuar quando assistiu ao espetáculo do Antônio Abujamra com a peça: ‘A voz do provocador’.
As respostas à entrevista mesmo sendo em momento diferente pareciam ecoar as frases de seu companheiro. Palavras como: disciplina, persistência e fé, eram recitadas como um mantra.
O recado do ator que já encenou nas peças: ‘Antígona, de Sófocles’ e ‘Ópera Aída’ serve de alerta a quem tem em mente seguir o mesmo destino.
“Primeiro tem que ter paixão, se não tiver não flui, fazer cursos se possível uma graduação em artes cênicas, oficinas de teatro, o ator tem que estar em movimento, ler muito e ter disciplina”, aconselhou Vinicius Domingues que também elencou como um grande obstáculo da profissão a incerteza.
“Hoje você pode ter trabalho, comercial e depois passar um mês sem fazer nada”, completou.
Quanto ao futuro disse querer fazer mais teatro e revelou sua nova fonte sedutora, os musicais. “Vou conhecer melhor esta área quem sabe no futuro um musical, hein? Versatilidade!”, exclamou.
Talvez seja essa versatilidade o segredo dos atores se entregarem em cena, versatilidade no cotidiano, resumida numa frase do espetáculo que despertou o amor pela arte em Domingues. Na peça ‘A voz do provocador’ uma inquietante frase provocava: “A vida só vale a pena com riscos”.
Epigrafe obrigatória para o fim de cena daqueles que convivem com a arte da luta de fazer viver personagens e interpretar a si mesmos.
Crédito: Laércio Guidio – Jornalista MTb 54867/SP
Foto: Cedida
Legenda: Atores Wendell e Vinicius com o ator Eriberto Leão